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Crítica | Fratura

Uma maneira bem simplória de definir Fratura, o novo suspense da Netflix, seria dizer que o longa dirigido por Brad Anderson é uma versão menos sofisticada e criativa que o ótimo Ilha do Medo de Martin Scorsese. Bem menos!

Ainda assim, é inegável como o diretor responsável por uma das performances mais impressionantes da carreira de Christian Bale em O Operário, consegue segurar o assinante Netflix com pouca coisa, sendo que a principal destas se escore em uma atuação muito dedicada e febril por parte do astro australiano Sam Worthington, protagonista de Avatar, clássico de James Cameron, e segunda maior bilheteria da história do cinema.

Fratura nos conta a história de Ray Monroe, pai de família viajando junto de sua esposa e filha pequena. Quando fazem uma parada na viajem, Peri sofre um pequeno acidente ao cair de uma certa altura, e provavelmente fraturou o braço. Ray resgata sua filha e dirige loucamente e o mais rápido possível para o hospital mais próximo. Lá, o médico sugere que pela queda a menina faça uma tomografia para garantir que está tudo bem. Assim, mãe e filha vão juntas ao laboratório para fazer tal procedimento enquanto Ray espera no saguão. O pai de família acaba dormindo esperando esposa e filha. Porém, ao acordar descobre que ambas não estão mais no hospital, e começa uma busca ensandecida por sua família.

Brad Anderson não possui uma filmografia com maiores destaques, certamente, o já citado filme de quinze anos atrás com atuação incrível de Christian Bale seja o ponto alto de sua carreira. Desta maneira, apesar de ter uma carreira longeva – seu primeiro longa foi lançado em 1996 – , ainda pode-se considerar o cineasta como um desconhecido no cenário. Anderson também trabalhou muito na TV, dirigindo episódios de séries, como: The Wire, Fringe e Boardwalk Empire.

Sobre Fratura, não dá para fugir de dizer que o enredo escrito por Alan B. McElroy – que escreveu a adaptação de videogame Tekken e Spawn, O Soldado do Inferno – tenha um fator de previsibilidade de fácil percepção. Então, porque a obra de Anderson se sai melhor que a encomenda? Simples. Tanto o roteiro de McElroy, quanto uma direção competente direcionada ao protagonista, fazem o mínimo suficiente para tentar nos enganar – mesmo quando tudo parece muito definido – e engajar nesta trama. Não é muito, mas basta para criar certo senso de entretenimento.

Em resumo, Fratura não é tanto sobre predicados e ambientação, e mais sobre esforço e artimanha.

Falar em esforço neste suspense de produção Netflix é falar de Sam Worthington, que provavelmente entregou neste longa de Brad Anderson sua performance de mais alcance, ao mesmo que nuançada na carreira profissional. Óbvio, que o ator estrela dos dois próximos capítulos de Avatar 2 e 3, previstos para saírem em 2021 e 2023, respectivamente, nunca havia entregado um algo a mais, além do feijão com arroz básico. Assim, vem como uma boa surpresa o trabalho de Worthington em Fratura, que começa em temperatura mais amornada e vai aquecendo na medida que o enredo vai ficando cada vez mais intrincado.

O ator também mostra apresentável sutileza ao traduzir as duas questões da história: trauma e alcoolismo.

Principalmente o vício no álcool, causador do sofrimento e angústias passadas pelo protagonista. Notável uma cena logo no começo do filme, onde podemos observar dois dos principais comportamentos entre pessoas dependentes, que são o egoísmo e a facilidade com que apelam à mentira.

Também existem momentos onde a intriga de Brad Anderson acaba escorregando, especialmente quando tenta mesclar um pouco de ação neste cenário de “mistério”. Supostamente, feita para dar um pouco mais de ‘punch’ à história, no final, acaba por apenas desfilar cenas preguiçosas, até pobremente encenadas, como boa parte das cenas derradeiras desta produção Netflix.

Fratura não tem cacife o suficiente para ser algo mais do que se propôs a ser, talvez, nem queira fazer isso. Contudo, tenta fazer do lema “as vezes menos é mais” com afinco. Dizem, que o essencial em um roteiro, e o mínimo necessário para se criar uma obra capaz de seduzir o espectador é compreender que ação é personagem, e personagem é ação. Concluí-se que o cineasta Brad Anderson, ao menos, seguiu o protocolo e entregou algo apropriado, mesmo que pouco valioso. Passa de ano … raspando.

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