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Crítica | Zumbilândia: Atire Duas Vezes

Zumbilândia, filme de 2009 dirigido por Ruben Fleischer (Venom) e roteirizado por Rhett Reese e Paul Wernick (Deadpool), com certeza despontou como um dos filmes mais engraçados daquele ano, mas sua eficiência dentro do subgênero dos zumbis se dava também pelo entendimento e comprometimento tanto com as regras gerais do gênero quanto com as suas próprias, ditadas pelo protagonista de Jesse Eisenberg. É um contexto quase utópico se visto de uma outra perspectiva, em que as personagens tem pleno controle do pós-apocalipse.

A princípio, a sequência Zumbilândia: Atire Duas Vezes parece seguir a mesma direção, e de certa forma é bastante fiel à experiência original em seus primeiros minutos. No ponto de partida da trama, Columbus (Eisenberg), Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) agora encontram um novo lar na Casa Branca, decidindo assentar-se lá pelo resto de suas vidas agora pacatas em família. É uma questão de tempo até que essa dinâmica se altere por completo, e crie uma nova necessidade para o grupo.

Sem entregar demais – se é que há o que entregar -, os laços da família de andarilhos se afrouxam e os protagonistas de Atire Duas Vezes são forçados a cair na estrada mais uma vez, em busca de determinadas personagens. Esta é a maneira com que o roteiro de Rheese e Wernick tenta expandir sua escala sobre o original e apresentar novos rostos ao elenco, que variam entre adições muito bem-sucedidas (Rosario Dawson e Luke Wilson, em especial), outras divisivas (Zoey Deutch) e pelo menos uma descartável (Avan Jogia).

Porém são comuns as dores do crescimento, e o roteiro co-assinado por Dave Callahan enfraquece, neste processo de expansão, a lógica controlada que era única ao filme anterior. Tudo que envolve a separação do grupo soa conveniente demais, ocorrendo tão rapidamente que desconsidera a unidade conquistada ao longo da obra original. Levando em conta o quanto o precursor pesou sobre a necessidade desta união diante de um cenário como o apocalipse zumbi, a decisão de separá-los por motivos tão ínfimos é contraditória – o que deixa a impressão de um roteiro apressado.

Outras grandes mudanças surgem na maneira como o longa lida com seus zumbis, agora menos “realistas” – há, inclusive, uma tirada breve sobre as HQs de The Walking Dead. Há, agora, os zumbis aos quais Columbus se refere como T-800, mais difíceis de derrubar e capazes de movimentos rápidos. A introdução de Atire Duas Vezes, inclusive, apresenta dois outros tipos de mortos-vivos, um deles essencial como piada corrente do filme, mas deixo estas surpresas para a sessão. Afinal, como diz a regra #32: aproveitem as pequenas coisas.

O diretor Ruben Fleischer aproveita estes toques para incorporar seu domínio hoje maior da ação, após projetos como Venom e Caça aos Gângsteres. Além de continuar imprimindo uma estilização sobre a matança de zumbis, com o típico uso da câmera lenta e letreiros digitais em tela, Fleischer agora demonstra uma criação mais sofisticada de planos de contexto e ainda experimenta com sucesso um pseudo-plano-sequência, talvez o ponto alto – mais sobre isso depois. Efeitos de gore também estão visivelmente melhores, mais explícitos e menos digitais que no exemplar de 2009.

O elenco original volta como forma de elevar um certo fator de nostalgia, mesmo que não consigam disfarçar a simplificação de suas personagens. Harrelson e Stone, principalmente, lidam muito felizes com o tom mais bobo da sequência, enquanto Eisenberg continua apostando no mesmo equilíbrio de charme e constrangimento – sua interpretação mais sutil, no entanto, nem sempre fica bem aproveitada em meio às situações absurdas. Breslin, por sua vez, tem menos tempo de tela, e com certeza não o bastante para deixar uma segunda impressão.

Talvez a decepção com Zumbilândia: Atire Duas Vezes se deva ao fato de soar mais como um derivado de Idiocracia, de Mike Judge, do que uma sequência propriamente dita ao exemplar de dez anos atrás. Nesta nova visão, a maior parte dos outros sobreviventes do apocalipse são no geral anormalmente burros mas ainda assim continuam vivos, o que quebra quase por completo com a perspectiva do original e dá à trama e seu mundo um aspecto inconsequente. É uma sequência que segue a regra definitiva do “maior e mais barulhento”.

O que, por outro lado, ainda garante uma divertida experiência de sexta à noite no cinema. Atire Duas Vezes se beneficia de uma duração breve, uma direção eficaz, um elenco à vontade com versões mais simples de suas personagens e, em certos instantes, algumas piadas realmente inspiradas com o fato do mundo do longa ter parado há mais de uma década. Quanto ao verdadeiro ponto alto do filme, que prometi contar mais acima, apenas digo isso: fiquem sentados durante todos os créditos finais. São o bastante para animar até a pior segunda-feira.

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