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Crítica | Jumanji: Próxima Fase

Seguindo os mesmos rumos que os games que homenageia e parodia em igual medida, Jumanji: Próxima Fase pode ser descrito mais como um pacote de expansão, a versão 1.5 de Bem-Vindo à Selva com nova roupagem visual, do que propriamente como uma sequência completa. Sente-se que a verdadeira continuação é adiada para outra hora, com este capítulo lançado apenas para manter a marca fresca na memória do público, proporcionar uma diversão modesta e garantir mais um bilhão em bilheterias.

Todas as sequências modernas são, a princípio, tentativas de expandir finanças sobre suas respectivas franquias, mas enquanto muitas se garantem também pelo lado narrativo e conceitual, avançando no campo das ideias, Jumanji: Próxima Fase comete desde o início deslizes que tornam o retorno ao ambiente virtual de Jumanji pouco justificável. As motivações que levam Spencer (Alex Wolff) a perder-se no jogo para que seus amigos o resgatem, por exemplo, são frágeis e irracionais tendo em conta a maturidade atingida na conclusão do anterior.

Isso não necessariamente configura um problema, desde que o filme em si trabalhasse para fechar um arco de formação sobre essas ideias e proporcionasse outra jornada de crescimento para a personagem, como ocorria com o grupo em Bem-vindo à Selva, mas não é o caso. Sem um motor emocional forte como antes, Próxima Fase tenta então se garantir pelo outro chamariz de seu precursor: as possibilidades que a troca de avatares dentro do jogo trazem à dinâmica do elenco. Essas, no entanto, criam outras complicações inesperadas para o desenrolar da aventura.

A ideia de apresentar The Rock incorporando Danny DeVito e Kevin Hart emulando Danny Glover parece boa demais para falhar, e o resultado é razoavelmente positivo quanto à personalidade que ambos exalam nos papéis. As piadas específicas das habilidades dos avatares ganham também uma dose de frescor ao cruzarem com as personas ainda mais específicas dos atores, com as listas de forças e fraquezas sendo expandidas para acomodar um humor comportamental mais refinado que no longa anterior. Até certo ponto.

O empecilho inesperado é um que se relaciona à variedade das cenas e ao ritmo do filme. Se a primeira ou segunda vez que The Rock pergunta a seus colegas se estão dentro de um videogame ou Hart enuncia lentamente fatos e curiosidades sobre animais obtém algum sucesso e risadas genuínas, a enésima já esgotou toda a graça dos conceitos por não trazer nenhum novo detalhe ou reviravolta para as piadas, tornando a aventura redundante além de qualquer propósito que os roteiristas pudessem ter com isso – são decisões que fariam mais sentido em um cenário a la Feitiço do Tempo.

De fato, quase todo diálogo aqui parece se alongar ao ponto da abstração, seja pelo tempo de exposição exagerado das regras do jogo, a tentativa de reforçar piadas que já foram compreendidas – o choque geracional entre as personagens jovens e as mais velhas é comentado quase sempre da mesma forma – ou pelos instantes aparentes de improviso entre o elenco. É especialmente surpreendente como, desta vez, o diretor Jake Kasdan tem menos eficácia em ilustrar as regras do mundo sem necessitar de diálogos expositivos como muletas, arrastando-se para estabelecer até as ideias mais simples.

Outra tendência irritante que se nota é a da repetição, ora dentro da franquia – no resgate de piadas apresentadas em Bem-vindo à Selva – ou dentro de uma única cena, como no momento em que Martha e Fridge trocam de corpos duas vezes seguidas – instante que toma uma minutagem exagerada pela insistência nos diálogos ping-pong entre Karen Gillan e Jack Black. Essa sensação de déjà vu poderia ser trabalhada para evocar a lógica de tentativa e erro dos games ou a familiaridade dos personagens com o ambiente que exploram, mas acaba sendo algo não-intencional e limitador.

Mesmo o desenvolvimento das personagens fica totalmente desequilibrado, perdendo aquela redondeza de Bem-vindo à Selva, na forma como aquele filme trabalhava a evolução dos jovens e a personagem interpretada por Colin Hanks – que assim como seu avatar Nick Jonas, voltou para uma participação bem menos significante. De alguma forma, as mais de duas horas de rodagem acomodam apenas um arco minimamente formado, o dos velhinhos Eddie (DeVito) e Milo (Glover), enquanto os jovens – mesmo Spencer – não parecem evoluir em nada.

Restam então algumas sequências decididamente competentes de ação, favorecidas pelo refinamento dos efeitos CGI e boa decupagem de planos, sem medo de apostar em enquadramentos mais abertos que criem senso de escala. Quando lida com mais de uma perspectiva em cena, Kasdan entrega um resultado menos coeso, mas ainda apresenta algumas imagens chamativas – a horda de avestruzes; as pilhas de capangas mortos – que vendem o tom de cartoon da obra. Pena que estes trechos, os melhores que a continuação tem a oferecer, contenham tantos outros redundantes entre eles – há mais “cutscenes” do que “fases” aqui.

Jumanji: Bem-vindo à Selva contornava o risco de soar aleatório nesta estrutura gamificada com uma abundância de coração, mas aqui, na falta do mesmo elo emocional forte, a aleatoriedade surge mais aparente e decepcionante. Por outro lado, Jumanji: Próxima Fase acredita que a ambientação dentro de um game justifica por si só um fraco desenvolvimento das ideias – o vilão não emana nenhum traço de personalidade; a proposta de direção de arte é indecisa – e uma falta de ritmo que deixa sua trama perdida na mata, e com isso deixa a impressão de um replay onde não existem mais surpresas ou a mesma magia anterior.

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