Filmes

Crítica | O Chamado da Floresta

Se há um filão no cinema que melhor define a década, sem dúvida alguma, são os filmes de super-heróis. Quatro entre as dez maiores bilheterias mundiais do ano anterior são produções baseadas em quadrinhos populares, das gigantes Marvel e DC. Mas, em outros tempos, algumas produções que costumavam representar o topo da bilheteria vinham em obras que retratavam as aventuras e rotinas da vida canina. Sempre produziam filmes sobre cachorros no cinema. Uns melhores, outros nem tanto.

Alguns exemplos positivos: Beethoven, O Magnífico (1992); A Incrível Jornada (1993); Meu Cachorro Skip (2000) e Marley & Eu (2008). Já, dos negativos, temos Sempre ao Seu Lado (2009) e Quatro Vidas de um Cachorro (2017), por exemplo.

Só em 2019, foram três longas-metragens. Somando A Caminho de Casa, Juntos Para Sempre e Meu Amigo Enzo chegamos na bagatela de 180 milhões de dólares (valor arredondado) de bilheteria mundial. Isso significa dizer que este filão apenas sobrevive na indústria cinematográfica. Ainda assim, Hollywood não larga o osso!

Agora, em 2020, encontramos o primeiro dessa fila. O Chamado da Floresta do estreante em live-actions Chris Sanders, baseado no clássico literário homônimo, nos leva a bordo da jornada surpreendente do cão Buck, que tem a vida virada de cabeça para baixo quando é raptado de sua casa, no estado da Califórnia, e levado até o norte do globo, nas congelantes terras do Alasca, durante a febre do ouro no final do século XIX.

Para começo de conversa, esta não é a primeira adaptação cinematográfica do livro escrito por Jack London em 1903. O mandachuva Darryl F. Zanuck – um dos produtores e executivos mais influentes da história hollywoodiana – revelou ao mundo em 1935, a primeira versão desta história, estrelada pelo lendário Clark Gable, chamado de “O Rei de Hollywood”.

Voando oitenta e cinco anos no tempo, chegamos na versão atual protagonizada por Harrison Ford (outro titã). A primeira coisa a ser notada assistindo O Chamado da Floresta é a competência dos responsáveis pelos efeitos visuais da obra. Isso vai muito além do “cachorro” criado via computação gráfica que teve o ator/dublê Terry Notary como modelo de Buck. Os cenários têm, sim, uma beleza estonteante. Inegável que o longa-metragem de Chris Sanders é um colírio para os olhos. E …, é só isso mesmo a que se resume esta produção, lamentavelmente.

Um adendo: mesmo este deslumbre visual deve ser colocado na coluna do estilo vídeo game. As repetidas auroras boreais, a colossal avalanche, a caverna repleta de estalactites cristalinas. Tudo isso, aparenta muita artificialidade.

E, esta simulação da natureza respinga no elementar da trama, o cão Buck. Admirável é o trabalho de atores como Notary, ou o mundialmente celebrado Andy Serkis. Contudo, é preciso encontrar um equilíbrio nisso tudo. A equipe que trabalhou nos efeitos de Planeta dos Macacos: A Guerra seria o melhor exemplo do que significa esta proporcionalidade humano/animal/tecnologia.

Agora, o canino de O Chamado da Floresta pende mais para o humano do que o animal. Isso afeta bastante nossa percepção como espectador, dado que a história mira o emocional (como fazem os filmes de cachorro), e esta manipulação narrativa acaba ficando plástica demais da conta.

Mesmo o elenco é afetado por estes elementos artificiais. O veterano Harrison Ford e o sempre carismático ator francês Omar Sy conseguem rebolar, e tirar algo de genuíno em suas respectivas performances. Porém, o restante dos atores não consegue fugir das frases prontas bonitinhas, ou da caricatura exagerada. Dan Stevens, a Fera da versão live-action da animação clássica da Disney, parece mais falso que o cachorro feito no computador, para se ter uma noção.

O diretor Chris Sanders é um especialista no departamento de animação. Seus créditos, incluem: A Bela e a Fera, Aladdin, O Rei Leão e Mulan, todos estes clássicos da Disney dos anos 90. Sua estreia como diretor foi em Lilo & Stitch (2002), depois fez Como Treinar o Seu Dragão (2010) e Os Croods (2013). O salto para o cinema live-action acabou não saindo dos melhores resultados. Louváveis, as intenções de trazer de volta um gênero cinematográfico que ficou um pouco escanteado neste século: o cinema de aventura, tão popular na década de 80.

Todavia, as façanhas de Buck em O Chamado da Floresta são apenas reciclagens, sem algo de novo. Resta o fascínio do vídeo game assistido. O público e os cachorros merecem mais que isso.

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