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Crítica | A Sereia: Lago dos Mortos

Se já é difícil copiar de uma fórmula e fazer o resultado funcionar, copiar das cópias chega a ser uma receita quase imbatível para o fracasso – é como piratear um DVD já pirateado e esperar a qualidade original. A Sereia: Lago dos Mortos faz parte de uma linha de produções russas que tentam emular tendências do cinema americano, entre elas o terror jumpscare e o time de superheróis, mas o filme de Svyatoslav Podgaevskiy, mesmo diretor de A Noiva, parece ser a cópia de muitas cópias, perdendo qualidade e nexo ao longo do processo.

A trama parte de uma ideia óbvia, mas não necessariamente infrutífera. Nela, Marina (Viktoriya Agalakova) e Roman (Efim Petrunin), que estão prestes a se casar, começam a ser atormentados por uma entidade, que vive em um misterioso lago e que deseja o amor eterno de Roman. Quando a condição física e psicológica do noivo piora, Marina procura a ajuda da cunhada (Sesil Plezhe) para solucionar a aparente maldição que assola os homens da família. Logo ela começa a ser também assombrada pela entidade, e deve correr contra o tempo para recuperar a sanidade e a saúde seu amado.

Pode-se até dizer que essa tal entidade é uma sereia e que o lago tem um ou outro morto, mas conforme o enredo avança e a história de fundo se revela, vê-se que isso pouco importa. Principalmente para explicar as origens da tal “sereia” (Sofia Shidlovskaya), há um amontoado de clichês. No passado, uma garota com ciúmes matou um casal e, quando encurralada pelos habitantes de seu vilarejo, suicidou-se. Por ser uma suicida, foi enterrada no fundo de um lago, em cujas margens passou a seduzir homens e matar suas famílias através dos séculos. Até aí, é um terror 101.

Porém tudo cai por terra – ou afunda – quando se trata da manifestação dos poderes da criatura. Ela manipula a água e move objetos (telepaticamente?) independente da distância, invade os sonhos de personagens e reescreve as regras do roteiro quando se sente afim. Por algum motivo, a fonte de seus poderes são os cabelos, que portanto são seu ponto fraco. Até descobrirem tal fraqueza e um corte de cabelo gratuito salvar o dia, o elenco de personagens está tão perdido e entediado quanto o público deve estar no meio da aleatoriedade.

Para ser justo, este com certeza não é o único longa de terror a criar uma entidade sem sentido para que se mantenha à frente do espectador. A falta de sentido lógico, aliás, não é sinônimo direto de pouca qualidade. Um bom cineasta é capaz de se apropriar de lacunas lógicas para criar e fortalecer a fantasia em sua obra. Podgaevskiy não é esse cineasta, fazendo apenas o básico do básico com o material. Se há algo que sabe, é recriar a pose do terror americano médio através de enquadramentos genéricos – que ao menos emulasse os melhores!

O melhor aspecto do longa, aliás, pode ser atribuído ao departamento de som, que usa graves para criar um contraste direto entre ambientes subaquáticos e terrestres, além de indicar a influência da entidade. A sensação é a de estar submerso ou com água nos ouvidos – desde que as caixas de som do cinema ou seu subwoofer prestem. Porém esse recurso passa a ser ignorado assim que o terror torna-se mais explícito e nonsense, com gente sendo jogada em paredes por forças invisíveis e reflexos de fantasmas surgindo em espelhos, sem qualquer novidade ou criatividade.

Assim como foi com A Noiva e Guardiões, a decisão de lançar A Sereia: O Lago dos Mortos com cópias dubladas em inglês novamente causa estranhamento, mas reforça ainda mais a vontade que essa produções russas tem de se americanizar, apagando qualquer traço de uma cultura local e abordando um folclore generalizado. Porém no fim, com vozes canastronas, mais parece uma paródia dos jogos survival-horror mais antiquados, inclusive perdendo no fator diversão por se levar como produção “séria” do gênero.

Seriedade que com certeza não se refletiu na escrita do roteiro ou na execução dos sustos, feitos na má e velha fórmula do jumpscare, seja com sons altos ou jogando coisas na sua cara. Com essa postura, deveriam nem ter insistido no drama insípido do casal de protagonistas mas em algo menos careta. A certa altura, quando uma festa de despedida de solteiro ocorre à beira do lago titular, com música eletrônica e bros cervejeiros, rolei os olhos. Mas ao final, desejei que o longa de Podgaevskiy tivesse seguido aquela direção, comportando-se como alguma produção de Uwe Boll. Qualquer coisa seria lucro perto do tédio.

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