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Crítica | Como Superar um Fora

Pelo título já dá para perceber em que tipo de terreno iremos pisar. São várias as comédias românticas que marcam e inundam os corações: das obras inestimáveis de Woody Allen, até os irresistíveis textos escritos pelo britânico Richard Curtis. Mesmo os filmes deste gênero que recebem uma pecha ruim, têm seus fiéis admiradores, pois definitivamente, esta é a maior qualidade destes tipos de histórias. Retratar situações similares passadas na vida destas pessoas, com todo seu humor e sofrimento, e buscar edificá-las com a possibilidade de um recomeço, ou uma nova fase que se avista.

A produção de origem peruana original da Netflix, Como Superar um Fora, não é diferente, mas é! Explicação: sim, se o longa da dupla de diretores Joanna Lombardi e Bruno Ascenzo não ganha nenhum ponto por tentar escapar dos princípios básicos do cinema de gênero, acerta em outros dois essenciais, que incluem ter um texto fluente, com referências atuais, junto de um elenco muito carismático, especialmente sua protagonista, que dá conta da montanha-russa de emoções, sem medo de cair nos exageros caricaturais.

Este filme da Netflix conta a história da vida amorosa e profissional de María Fé, uma jovem publicitária que se vê desolada, logo após seu relacionamento de seis anos com Matías terminar, via skype. Mas, ao lado das amigas Natalia e Carolina busca superar a dor do rompimento, e seguir em frente. Encontrando dificuldades em manifestar tudo o que sente, resolve criar um blog chamado Solteira Cobiçada, onde irá se abrir escrevendo sobre as situações rotineiras de uma mulher solteira, e se surpreende como este blog está mudando sua maneira de pensar sua própria vida.

Um diferencial em Como Superar um Fora se encontra no fato de ser algo raro de se ver, por ser esta uma produção peruana, com atores do país. Assim, há muito daquele tempero latino-americano tão presente nas telenovelas que representam uma marca registrada na televisão mundial. Mesmo aqui, em nossas terras, ainda temos um público que acompanha estas produções latinas, principalmente mexicanas e colombianas. Desta maneira, as cenas de surto ganham cores ferventes, típicas do sangue latino. Fica até difícil não lembrar dos ataques de Penélope Cruz em Vicky Cristina Barcelona: perigosos e hilários.

O longa da Netflix não deixa enganar, pois este tem público-alvo definido, e todo seu conteúdo está focado em estabelecer uma ponte de relações com este, no caso mulheres, especialmente as que se encontram na casa dos 20/30 anos de idade, que sentem que ainda não encontraram seu próprio eixo, seja vida profissional ou amorosa. Assim também é María Fé, uma jovem talentosa, inteligente, tanto que é bem sucedida em seu emprego, mas que possui as mesmas fragilidades que cada um têm. Superar um fora, como diz o título, custa muito para alguns, ainda mais aos que moldaram suas vidas ao redor destes pretendentes.

A atriz principal da obra dirigida por Lombardi e Ascenzo, Gisela Ponce de León, pode não chegar perto de tocar os sentimentos de quem assiste, mas as situações e estágios após um término de relação, com todos os seus momentos de loucura e exageros, também aqueles de maior introspecção, são vividos com uma performance cativante da jovem atriz.

Outro mérito envolvente no texto de Como Superar um Fora está no fato de se criar um contraponto aos dramalhões de María Fé, colocando ao seu lado duas amigas de comportamento e personalidade diferentes da dela. Natalia, por exemplo, uma mulher mais sisuda e irônica, é a responsável pelos chacoalhões no espírito de María Fé, dizendo para ela, as duras verdades; agora, Carolina, mais afável e incentivadora, é a típica “maluca” dos signos, das mandalas, das plantas, de qualquer coisa que sirva para tirar sua amiga do ponto morto, inclusive pole dancing.

Ao final, María Fé percebe que o mundo não é o conto de fadas que ouvia quando criança. Nem sempre é fácil aceitar isso, pois exige uma maturidade emocional que nem sempre se está preparado para levantar sozinho. Desse modo, é curioso quando chega o momento de perceber que é possível seguir em frente, mesmo que tropeçando pelo caminho, e acima de tudo, perceber que certas coisas mudam, seja para pior ou melhor, e que isso só irá ser definido quando realizarmos que o controle está em nossas mãos.

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