Filmes

Crítica | Fora de Série

É de grande raridade encontrar filmes de estreia na direção que consigam ser tão contundentes com seu tema e assunto, além de usufruir do melhor do cinema de gênero que é possível. Desta maneira, é com grata surpresa que chega aos cinemas, a comédia adolescente Fora de Série, um tipo de acontecimento guiado por várias mulheres de talento: as quatro roteiristas, Emily Halpern, Sarah Haskins, Susanna Fogel e Katie Silberman; as atrizes, Beanie Feldstein e Kaitlyn Dever; e principalmente, a capitã dessa embarcação, a debutante na direção Olivia Wilde, mais conhecida por seus trabalhos como atriz em filmes como Tron: O Legado, Cowboys & Aliens, Eu Queria Ter a Sua Vida, Ela, e mais recentemente, A Vida em Si.

Olivia Wilde nos oferece de mão cheia uma obra que se comunica de maneira universal com as agonias e ansiedades da juventude, realçando especialmente os tempos atuais. Mas, executando tal tarefa sem deixar de lado duas coisas básicas que fazem toda a diferença, e elevam o longa da diretora estreante quase que ao topo da montanha: a inteligência emocional e empática que visa a prática da humildade nos seres em desenvolvimento; e um humor livre, elétrico e ferino.

Usando destas ferramentas, a agora diretora segue por um caminho que incluirá uma espiral degringolada para as protagonistas da trama, que passam longe de perder o rebolado em suas ações, que são as vezes birutas, quando não puramente lunáticas.

Fora de Série conta a história de duas amigas, Molly e Amy, que são as queridinhas dos professores, e estão prestes a terminar o último ano do colegial, a caminho da faculdade. Porém, no último dia de aula Molly descobre que alguns de seus colegas que não se esforçaram tanto quanto ela, também vão frequentar universidades de renome, fazendo ela questionar suas ações ao longo dos últimos quatro anos. Agora, junto de sua melhor amiga Amy, tentarão aproveitar ao máximo sua última noite antes da formatura, isso se conseguirem encontrar onde será a festa com todos os seus colegas de ensino médio.

O longa de Wilde chegou a ser comparado com a também comédia adolescente Superbad – É Hoje de Greg Mottola, dizendo que este filme seria como uma versão para garotas do filme lançado em 2007. Apesar de algumas semelhanças, que incluem o fato de a protagonista Beanie Feldstein de Fora de Série ser a irmã dez anos mais nova de Jonah Hill, que surgiu para o mundo com o sucesso desta comédia escrita por Seth Rogen e Evan Goldberg, e produzida por Judd Apatow. Ainda assim, a comparação é injusta, pois simplifica demais os feitos do trabalho destas mulheres talentosas.

Wilde coloca a lupa acima de suas duas protagonistas, e entrega em uma noite de loucuras e zoeira, uma oportunidade de se retratarem: por si mesmas, uma pela outra, e acima de tudo, pela visão que possuem do mundo ao redor.

Nesse quesito, é de grande destaque a performance frenética de Feldstein, que faz uma garota destemida e controladora que se depara com o fato de ter percebido que tudo o que sempre batalhou, e conquistou, não é um mérito que foi apenas destinado a ela, assim, no seu surto tenta encapsular tudo que perdeu propositalmente em uma única noite. E, nessa jornada hilariante irá de encontro com sua perspectiva frívola sobre a vida, como Olivia Wilde quer, apenas para oferecer a sua personagem, a chance de amadurecer e perceber que nem tudo o que parece é como imagina.

Aqui, um preceito que a diretora pratica não só com uma de suas protagonistas, mas com todo o elenco. Apesar de, claramente, seu material ser associado mais aos dias de hoje, por alguns temas e discussões, como igualdade de gêneros e posição da mulher na sociedade. São com algumas escolhas, como uma trilha sonora que vai do funk setentista do grupo Parliament, até os anos 90 do rock alternativo de Alanis Morissette, que a diretora fala diretamente com a juventude em cada um. Não se restringindo em apenas uma geração. Isso é prova de enorme maturidade, algo que será visto no discurso de Molly no dia da formatura.

O outro fator que eleva ainda mais o ideal do projeto, acontece no campo do gênero de cinema. Fora de Série é definitivamente, da casca ao caroço, uma comédia. E, daquelas que oferecem ao público momentos de gargalhada (que não são poucos!).

Mesmo quando ocorrem algumas cenas mais dramáticas, como a briga de Molly e Amy, a cineasta não abandona o humor por muito tempo, pois tem clara consciência do valor dramático que a comédia oferece a estes momentos de ruptura. Basicamente: se choramos, é porque algo nos faz sorrir e teve grande valor. É, por este conceito que Olivia Wilde com toda a liberdade vai por vias cômicas que surpreendem o espectador a todo o momento, muito bem auxiliada pelas atrizes que protagonizam seu longa: Feldstein e Dever.

Também é de maior destaque, a atuação hilária (!) de Billie Lourd que faz aparições súbitas que vão arrancando cada vez mais risos dos espectadores.

Não é possível ainda confirmar que Fora de Série será um clássico cult de uma geração, como foi American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível para os jovens no começo deste século, ou mesmo Superbad – É Hoje mais recentemente. Todavia, é possível reiterar que Fora de Série consegue identificar uma geração, falar diretamente com esta, mas de maneira universal para que todos consigam tirar algo proveitoso dali, seja uma oportunidade de mudar uma concepção, ou uma gargalhada incontrolável. Que estreia de Olivia Wilde!

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