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Crítica | Robin Hood: A Origem

Uma das maiores tendências de Hollywood é a de reformular histórias clássicas. Entre estas, a história de Robin Hood é uma das mais refeitas até então, adaptada em desenhos animados, comédias pastelão e, mais recentemente, em drama histórico pelo diretor Ridley Scott. Já se viram tantas versões, portanto a história de Hood ainda teria algo a oferecer ao cinema, ou melhor, o cinema teria algo de novo a oferecer ao personagem? Levando em conta o lançamento de Robin Hood: A Origem, que promete uma versão revisionista mas que entrega algo tão genérico quanto seu próprio título, a resposta para esta pergunta seria “não”.

Não bastando a redundância do subtítulo nacional, Robin Hood: A Origem segue uma cartilha praticamente idêntica à de Batman Begins – um dos exemplos mais felizes de um reboot, sim, mas lembrem-se que os dois filmes são separados por nada menos que treze anos. Aqui, Robin de Loxley (Taron Egerton), um nobre, é convocado às Cruzadas, apresentadas com uma estética modernizada que remonta a filmes recentes sobre as guerras no Afeganistão e Iraque – com direito a arcos e flechas no lugar de rifles de assalto e balistas substituindo calibres 50. É durante essa expedição violenta que conhece o mouro John (Jamie Foxx), uma mistura de Azeem e Little John.

Quando retorna do conflito, depara-se com a pior das situações: sua mansão saqueada e destruídas sob ordens do Xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn) e sua amada Marian (Eve Hewson) nos braços de outro. Com mais nada a perder, Robin novamente encontra John, que agora ocupa o papel de mentor, e os dois constroem um intricado esquema para combater o Xerife e a Igreja, que roubam dos pobres para dar aos ricos. O plano? Roubar o dinheiro de volta. Assim nasce parte do Robin Hood que conhecemos, driblando os guardas do xerife e levando consigo sacas de dinheiro, demarcadas com uma cruz como se fossem itens colecionáveis de videogame.

Diferente da obra original, é apenas mais tarde que Hood passa a devolver o dinheiro aos plebeus. Outra mudança fica por conta da execução completa desse plano: enquanto não veste o capuz, mantém as aparências como o nobre de Loxley, adentrando nos mais altos círculos da sociedade para ganhar conhecimento dos planos do Xerife e a Igreja. Ou seja, mais uma semelhança com o Homem-Morcego, cujo disfarce em Begins era do filantropo Bruce Wayne, e não o contrário. Porém Gotham City e Nottingham não se comparam em escala e nem densidade demográfica, o que torna difícil crer que Loxley nunca seja levado em conta como suspeito pelos roubos.

O roteiro assinado por Ben Chandler e David James Kelly, então, tenta esconder sua falta de lógica sob uma série de complicações desnecessárias, talvez para dar uma falsa complexidade a um material que não precisa dela. Há uma série de subtramas que se cruzam, e se não são simplesmente nonsense – o plano secreto do Xerife e do Cardeal (F. Murray Abraham, desperdiçado) para tomar o poder -, são no máximo desinteressantes – tudo envolvendo Will Scarlet (Jamie Dornan). No fim, essas engrenagens todas servem mais para preparar terreno para uma sequência do que agregar à história de origem de Robin, levando a um epílogo forçado que traz a virada de um dos heróis ao lado negro, com uma tosca motivação.

Na direção, Otto Bathurst procura a todo momento conferir um tom autoimportante ao material, como se realmente acreditasse nessa galhofada toda. Talvez o roteiro fosse bem servido, digamos, por uma pegada mais próxima à dos filmes de Kingsman, mas Bathurst opta emular a solenidade vista nos Batman de Nolan, porém sem o mesmo domínio para sustentar o tom que propõe. O compositor Joseph Trapanese também embarcou na proposta, emulando Hans Zimmer aqui e ali, o que só reforça a falta de originalidade e inferioridade da coisa toda.

Já quanto à ação, Robin Hood tropeça onde muitos ainda se equivocam, apostando em planos picotados ao extremo e uma orgia cacofônica de sons explodindo as caixas do cinema. Nesse sentido, destaca-se especialmente a perseguição de carruagens, com cortes excessivos e um uso infeliz de tela verde, resultando numa sequência visualmente enjoativa. Pode-se notar, no meio de tantos cortes, uma tentativa de misturar o combate com arco e flecha com arte marcial, como John Wick fez com armas de fogo recentemente, mas o resultado não empolga – Legolas ainda faz melhor.

Se comparado com outras versões modernizadas de clássicos, pode-se dizer que Robin Hood: A Origem não chega nem aos pés de Os Três Mosqueteiros de Paul W.S. Anderson, que ao menos apresentava soluções visuais criativas – aqueles benditos navios voadores – e um bom uso de efeitos digitais para aumentar a ação. Tentando ainda impor a fórmula de franquia popularizada pela Marvel Studios, é de se impressionar o cinismo da produção ao acreditar firmemente que uma sequência estará em demanda após uma origem tão equivocada. Sendo assim, há uma longa fila de reboots mal-sucedidos aguardando por uma improvável sequência em sua frente.

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