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Crítica | The Ballad of Buster Scruggs

Os irmãos Joel e Ethan Coen, hoje, são dos nomes mais respeitados e exaltados dentro da indústria cinematográfica, e não deveria ser diferente, devido a uma extensa filmografia repleta de tesouros, como: Arizona Nunca Mais, Barton Fink – Delírios de Hollywood, Fargo e O Grande Lebowski. Já neste século, os irmãos cineastas fizeram Onde os Fracos Não Têm Vez, thriller faroeste que certamente se encontra no Olimpo dos grandes filmes, produzidos desde o ano 2000 até os dias atuais. O sucesso alcançado dentro do gênero, levou os autores a fazer um remake do clássico Bravura Indômita, estrelando Jeff Bridges. E, agora, trabalhando pela primeira vez com a Netflix, fica disponível The Ballad of Buster Scruggs, uma antologia faroeste que esteve no mais recente Festival de Veneza, onde levou o prêmio de Melhor Roteiro.

Apesar de ser apresentado como um longa-metragem, The Ballad of Buster Scruggs, são seis curtas, ou até médias-metragens com histórias diferentes que não se interligam, mas que ocorrem no mesmo cenário, a fronteira selvagem do velho oeste.

Similar ao filme argentino Relatos Selvagens, a produção original Netflix dos Coen começa pela história do personagem-título Buster Scruggs, um habilidoso pistoleiro de alma cantante e dançante. Neste primeiro capítulo, encontra-se uma das três melhores histórias da obra. Seu maior destaque, é a performance impagável e super à vontade de Tim Blake Nelson, que até surpreende na hora de mostrar seu lado cantor. De teor cômico, sem abandonar a faceta violenta típica do cinema dos Coen, esta curtíssima história ainda propõe uma quebra da quarta parede, onde o ator dialoga olhando diretamente para a câmera, assim como em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa de Woody Allen, ou os filmes da cine série Deadpool.

Em Near Algodones, o capítulo seguinte, continua o bom nível de atuação do elenco, porém aqui, o destaque fica por conta de James Franco, solto e competente, além de uma breve mas hilária aparição do ator Stephen Root, em uma história sobre um azarado ladrão de bancos. Esta segunda parte também é engraçada, mas ainda mais curta que a anterior, tornando-a menos marcante dentro da obra.

Já a partir da terceira parte, sai o clima mais espirituoso, e entra um tom mais melancólico e dramático. Em Meal Ticket, um conto gótico sobre dois artistas cansados que viajam pelas estradas, de cidade em cidade, se apresentando para os habitantes locais. Aqui, ambos os atores Liam Neeson e Harry Melling, famoso pelo papel Dudley, primo de Harry Potter, saem-se muito bem. E, é neste volume que começa a aparecer o bom trabalho do diretor de fotografia Bruno Delbonnel, que em Meal Ticket traz tonalidades mais frias, e em geral, um clima mais sóbrio, harmonizando com o conteúdo de texto para este capítulo três. Pena que a história seja pouco envolvente, fora repetitiva.

O nível volta a crescer quando chega-se ao quarto episódio de The Ballad of Buster Scruggs. Chamado de All Gold Canyon, esta parte é praticamente uma performance solo de Tom Waits, mundialmente celebrado como um dos maiores cantores e compositores da história, sendo parte do aclamado Hall da Fama do Rock and Roll, definitivamente a maior honra que qualquer músico pode receber. Waits, cada dia mais parecido com o ator Nick Nolte, ainda arranja um tempinho para atuar em alguns filmes, e como atua! All Gold Canyon é sobre um garimpeiro atrás de ouro em um vale isolado. É neste capítulo, o melhor e mais memorável momento cinematográfico de Delbonnel, que soube se utilizar muito bem das belíssimas paisagens naturais, em uma parte mais solar da obra.

Os irmãos Coen conseguem manter ótimo nível ainda com The Gal Who Got Rattled, estrelando Zoe Kazan, que narra a trajetória de uma mulher prometida para casamento, que tem seu destino alterado durante a viagem de encontro com seu novo marido. Aqui, a ênfase recai sobre o roteiro. É no quinto e melhor episódio, que acontecem algumas boas cenas de ação do tipo caubóis contra índios, sem contar uma reveladora interlocução entre a protagonista e o personagem interpretado por Bill Heck, no momento mais empático da obra dos Coen.

Infelizmente, The Ballad of Buster Scruggs da Netflix termina em uma nota baixa, após os ótimos capítulos quatro e cinco. The Mortal Remains que parece uma versão mais insossa do começo do filme Os Oito Odiados de Quentin Tarantino, só consegue revelar Brendan Gleeson como bom cantor, e nada mais. Este é o pior momento desta obra irregular dos irmãos Coen, que sem dúvida serão mais lembrados por outros filmes de seu currículo do que deste.

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