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Mostra SP | Crítica: A Odisseia de Peter

Na Mostra SP também há espaço para o cinema sobre as vidas dos adolescentes, com suas mudanças e amarguras. É sobre isso A Odisseia de Peter, uma obra de origem russa do duo de diretores Alexey Kuzmin-Tarasov e Anna Kolchina. Difícil assistir a estes filmes e não rememorar longas da década de 80 e 90. São vários os diretores que retrataram as fases da juventude e suas contingências, como Steven Spielberg, Richard Donner, Chris Columbus, Rob Reiner, Wolfgang Petersen e a lista continua. Alguns destes são realistas, outros fantasiosos, além daqueles que misturam os dois, que é o caso deste filme russo.

A Odisseia de Peter conta a história de Petya, um garoto de 12 anos que sempre passa as férias de verão na casa de sua avó, que não fica muito longe de Moscou. Até que um dia seus pais dizem que a família vai se mudar para Berlim, na Alemanha. Assim, os dias de diversão com seus amigos, brincadeiras na floresta, nadar no lago com sua melhor amiga estão contados. Mas, com dificuldades de se adaptar à nova vida em uma outra cidade, Petya embarca em uma jornada de volta para casa, seja relembrando o passado radiante ou em seus sonhos imaginativos.

É fato que a obra da dupla de cineastas Kuzmin-Tarasov e Kolchina vai em direção, a lugares que já foram explorados anteriormente, à exaustão. Mas, isso passa longe de ser um problema, pois geralmente filmes deste tipo, têm duas miras em especial: a primeira é o seu tipo de público, no caso, infantil e infanto-juvenil; já a segunda, é mirar o emocional do mesmo. Algo que não se pode reclamar em A Odisseia de Peter.

Sim, é um filme modesto, não há como negar. Porém, enquanto não são desenvolvidas e amadurecidas algumas de nossas partes psicológicas. Encontra-se apego em narrativas com essa intenção. E, esta só é capaz de sobreviver dentro de nosso campo emocional quando nos afeiçoamos ou identificamos com o que vemos. Para isso, o longa russo precisa apresentar algo que faltou a outro filme exibido dentro da Mostra SP, o drama inglês A Rota Selvagem, que é a de possuir um protagonista carismaticamente vibrante, que o jovem ator Dmitriy Gabrielyan cumpre com sucesso.

O menino Petya expressa inocência em tudo o que faz, e também em como se comunica. Sua relação com o amigo que briga de lutinha, algo que muitos garotos fazem nessa faixa de idade; a de admiração pela amiga que faz de musa para seus desenhos; e, especialmente seus laços de carinho e amor para com sua avó, que incentiva e inspira seu neto a explorar o mundo em todas as suas capacidades. Em todas elas, Petya é a mesma pessoa afetuosa, óbvio que a sua maneira.

Não é a toa que o jovem quer regressar para casa, pois pelo ponto de perspectiva de Petya, pode-se afirmar que ele vivia em um paraíso, ou ao menos, fazia daquele lugar algo especial para si. As cenas, em flashback, onde vemos o menino explorando as matas locais dão esta impressão de um ser livre e satisfeito em como as coisas estão.

Isso, cria um paralelo interessante para o que de melhor existe em A Odisseia de Peter. Os autores Kuzmin-Tarasov e Kolchina criaram visualmente um mundo belíssimo, apenas com a arte do figurino e maquilagem, para onde Petya costuma escapar em seus sonhos. Mais curioso ainda, é que nestes sonhos, há um parecer de real, onírico e verossímil ao mesmo tempo. Assim, o espectador pode até acabar por se confundir onde realmente se encontra o menino, dormindo em seu quarto ou desbravando em sua jornada de volta ao lar?

Na dúvida, a dupla de diretores resolve não responder, algo que acentua pontos positivos dentro de uma narrativa, pois seja literatura, teatro ou cinema, uma coisa que sempre irá instigar mais a atenção de seu público é a ideia de que o especulativo é mais encantador que o explicativo. Ainda mais, quando estamos falando da mente de um garoto ainda inconsciente das reais durezas da vida. Engraçado que obras como esta, de fácil assimilação com intento de criar uma liga de identificação com seu público jovem, e tocá-las em suas emoções, são as que nos aproximam da maturidade inexorável.

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