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Mostra SP | Crítica: El Ángel

Mais um filme vindo da terra de nossos hermanos do continente da América do Sul. El Ángel, chega à Mostra SP vindo da Argentina cheio de pompas. A maior delas de ser a produção nacional de maior bilheteria em seu país no ano de 2018, arrecadando cerca 5 milhões de dólares. Exibido em maio passado no Festival de Cannes, e já pré-selecionado como o longa a representar o país no Oscar do ano que vem, a obra do cineasta Luis Ortega vem com um carimbo de respeito, pois uma das produtoras é a El Deseo, que pertence aos irmãos Almodóvar, Agustín e o renomado autor Pedro Almodóvar, responsável por obras que marcaram o cinema nos últimos quarenta anos, dividindo a produção com a Espanha.

O longa de Luis Ortega, baseado em uma história real, acompanha a vida do adolescente Carlitos, que, em 1971, mostrou seus verdadeiros talentos no mundo do crime. Após conhecer Ramón na nova escola, ambos partem para um caminho onde encontram amor, roubos e assassinatos. E, impressiona a facilidade e naturalidade do jovem garoto para matar, algo que somado à sua beleza, fez com que ganhasse nos jornais da época, o apelido de ‘O Anjo da Morte’.

De estrutura linear, e narrativa comum aos filmes que costumam elevar as histórias sanguinárias de criminosos ou serial killers, El Ángel não tem ou faz nada de realmente diferente para ter ganhado tanta a atenção. Porém, mais do que um mérito ou um acerto, e sim, um deslumbre, é a performance majestosa e hipnótica do ator Lorenzo Ferro, surpreendentemente, em seu primeiro trabalho como ator.

Tudo, simplesmente, tudo desta personagem, elaborada pela mente e visão de Luis Ortega apresenta capacidades além do esperado, e enorme parcela disso se deve a própria beleza andrógina do jovem ator, somadas a uma construção visual, que vai do cabelo loiro encaracolado, realmente lembrando um anjo pintado das paredes de igrejas, aos lábios grossos e brilhosos, do tipo vermelho como sangue. Até sua maneira desajeitada de dançar, mas solta e cativante são um colírio aos olhos do público, sentado na poltrona do cinema.

Tantos atributos e elementos fazem o ator Lorenzo Ferro ser uma versão mais afeminada do galã e icônico ator de cinema James Dean. Deste modo, perigosa mas melancólica, como um menino abandonado a própria sorte em um lugar que nunca havia estado antes. Sempre se equilibrando sob o fio da navalha em ações dúbias, ambíguas. Mesmo quando matava, sua frieza apresentava traços de estranheza, pois o distanciamento lhe parecia exótico de certa maneira.

Essas incertezas, inclusive, pairam na questão da sexualidade de Carlitos, ao ponto que tachá-lo de homossexual, ou bissexual seria apenas perda de tempo, dado que o garoto passa a impressão de sempre estar em transformação, via as experiências relacionadas ao mundo do crime, mas essencialmente, em sua relação com Ramón, interpretado por Chino Darín, que é filho do mais popular ator argentino da atualidade, Ricardo Darín, com quem não compartilha nenhuma semelhança física.

Darín, ao contrário de Ferro, representa seu personagem com mais masculinidade, quase sempre com um olhar sisudo e fulminante, franzindo a testa e alinhando suas grossas sombrancelhas. A interlocução entre os atores é apenas razoável, talvez, até pelo fato de que o ator Lorenzo Ferro só com sua presença, comanda todo o ritmo das cenas, assim, percebe-se sempre o filho de Ricardo Darín, mais reagindo do que guiando a linha narrativa.

Vale destacar também, um trabalho cinematográfico interessante de Julián Apezteguia. Além de planos limpos, algumas composições que ficam marcadas na mente do espectador, sendo que em algumas destas, fazendo uso da luz de maneira visualmente rica, e harmoniosa dentro da construção narrativa elaborada por Luis Ortega, como nos close-ups de Lorenzo Ferro, misturando as luzes azul e vermelha, dando um aspecto de calor e frio à personagem.

Isto, é El Ángel, parte da programação da Mostra SP, um filme de ritmo pulsante, que joga a responsabilidade de carregar a narrativa sob os ombros de um franzino ator em sua forma corporal, mas colossal em sua presença diante a câmera. Não há como saber, se o também jovem cineasta Luis Ortega conseguirá alcançar frutos mais altos, apesar dos talentos mostrados, mas, é certo que Lorenzo Ferro não está aqui para brincadeira!

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