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O Método Kominsky | Crítica - 1ª Temporada

Ficou disponível na Netflix, a nova comédia dramática O Método Kominsky, criada por Chuck Lorre, chamado de Rei das Séries, certamente um dos produtores de maior prestígio dentro da indústria hollywoodiana, produzindo trabalhos de enorme sucesso de público, como por exemplo: Two and a Half Men, The Big Bang Theory, Mike & Molly e Mom. Porém, este não é o primeiro projeto em parceria feito com a provedora global via streaming, pois ano passado foi produzida a série Disjointed, estrelada pela veterana Kathy Bates. Lamentavelmente, esta primeira parceria já chegou a um fim, porque foi cancelada, logo no começo deste ano. Mas, não há o que lamuriar, dado que esta nova série, pode render mais frutos do que o projeto anterior.

O Método Kominsky, protagonizado pelo duo Michael Douglas e Alan Arkin, conta a vida de Sandy Kominsky, um ator que anos atrás teve um grande flerte com o sucesso, e hoje é um respeitado professor de atuação para jovens que pretendem entrar na indústria de Hollywood.

Já de cara, um dos grandes acertos da série original da Netflix, é saber entregar ao espectador, várias possibilidades de risos, além de grande emoção dentro da história. Fazer comédias dramáticas, ou até comédias românticas exige boa apresentação e desenvolvimento das personagens que iremos acompanhar, até porque, dentro deste gênero é importante saber exaltar as personalidades mais primitivas, até superficiais de seus personagens centrais, logo que esta é uma via de aproximação com o público, seja este qual for.

De modo muito infeliz, isso acaba sendo confundido com meras frivolidades, caprichos, sejam estes emocionais ou racionais. Dá-se a impressão de uma rasa profundidade destas personagens, o que é um grande engano, porque um dos conceitos de séries de tv é buscar a fidelização de quem assiste o produto, e para executar tal tarefa, são necessários vários ganchos de atração, que consigam minimamente prender estas pessoas dispostas a ver tais séries. Assim sendo, quando apresentamos personagens que logo no primeiro episódio deixam escapar alguns de seus vícios, medos, ou atitudes impensadas cria-se uma possibilidade de repararmos a fragilidade, e até a ridicularização a que estas personagens se dispõem, assim estabelecendo uma conexão com a realidade humana de cada um.

Para alcançar tal sucesso, são necessárias, primordialmente, duas coisas: a primeira, é um texto que consiga balancear sem medos ou restrições, todas as possibilidades e capacidades tanto no aspecto espirituoso, como no de densidade emocional; já a segunda, são os fios condutores, responsáveis por encapsular todos os ângulos desta complexidade, no caso, os atores. E, é aqui onde se encontra o coração e alma de O Método Kominsky, com um par de atores dispostos a se revelar pouco a pouco, mas sempre de maneira marcante, quando não com grande intensidade.

Começando por Michael Douglas, o motor desta produção original Netflix. É de muita facilidade perceber, ao analisar a atuação do veterano ator, que esta série é algum tipo de ‘passion project’ dele, ou seja, algo de muito valor emocional, tanto que mais do que se restringir ao protagonismo da trama, Douglas também é um dos produtores executivos. Óbvio, ainda mais analisando alguns dos projetos realizados pelo ator neste século, que este tipo estereotipado de personagem já havia caído em seu colo, até recentemente, em filmes como a comédia romântica Minhas Adoráveis Ex-Namoradas, O Solteirão, e Última Viagem a Vegas.

Aí é quando entram as habilidades de um bom texto, direção e atuação para preservar as superficiais primeiras impressões, ao mesmo tempo que aproveitando os momentos de quebra, ruptura, oferecidos no enredo. Quando tal evento ocorre, alguns ganham maior destaque positivo, usando os exemplos de filmes recentes de Michael Douglas, obras como O Solteirão de 2009, e esta série da Netflix se destacam como materiais mais maduros, de linguagem universal.

Mas, não foi só o filho da lenda do cinema Kirk Douglas, que hoje passa dos cem anos de idade, que merece todos os méritos de O Método Kominsky. Talvez, Alan Arkin tenha entregado nesta série, sua melhor performance desde Pequena Miss Sunshine de 2006. É difícil imaginar, o ator octogenário fora da temporada de prêmios do ano que vem, seja o Globo de Ouro, logo no começo do ano, ou os Emmy Awards.

A performance de Alan Arkin segue à risca, um dos maiores princípios shakespearianos, que é a de que um certo valor dramático é melhor manifestado quando um valor dramático oposto se equipara a este. Um exemplo mais ligado a cultura pop de fácil assimilação seria a performance de Hugh Jackman em Logan, filme do ano passado. O ator australiano e o cineasta James Mangold compreenderam emocionalmente o turbilhão que foi a vida do personagem baseado nos quadrinhos da Marvel, e o quanto este sofreu durante todo o percurso. Assim, Logan soube brilhantemente nivelar grande carga de violência, que deixou traumas profundos, como uma ponte de encontro para as mais sensíveis fragilidades humanas, como o medo de se perder quem ama, por exemplo.

Assim também é a atuação de Alan Arkin em O Método Kominsky, só trocando o passado traumático e sanguinolento de Wolverine por um humor azedo e sarcástico do personagem Norman Newlander. O ótimo trabalho de Arkin ocorre, pois o ator não poupa nada, nem ninguém de seus comentários irônicos e hilários, seja a situação que for, e pior, muitas das vezes ele não consegue cessar tais impulsos, dizendo coisas odiosas a pessoas que se importam com ele, ou seja, ele passa dos limites do chamado ‘charme do mau humor’.

Desta maneira, como diz o personagem de Michael Douglas, Norman se torna um babaca para quase todo mundo, algo, que isola ainda mais seu personagem, revelando o tamanho colossal da solidão que sente. São nestes momentos que Arkin demonstra com muita sensibilidade, todas as vulnerabilidades que sente, todo o medo que passa, ao perceber que se encontra só. Mas, isso é uma mentira.

Acima disso, está a maior qualidade no texto de O Método Kominsky da Netflix. Mostrar que Sandy e Norman, tropicando pelo caminho, em seus erros e faltas, tem um ao outro para seguir em frente. Não é o que ambos queriam, mas é o que ambos precisam. Por essas e outras que a série, mais do que funcionar, entretém com qualidade e toca profundamente ao testemunhar a resiliência pela amizade.

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