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The Walking Dead | Crítica – 9ª temporada – Parte 1

The Walking Dead nos prometeu uma renovação nessa sua nona temporada, algo que essencialmente não víamos desde que Scott M. Gimple assumiu o posto de showrunner, nos entregando os dois melhores anos da série (4º e 5º), até que tudo começou a desandar novamente. Promovido pela AMC, Gimple assumiu outros projetos envolvendo o universo da série e o cargo que anteriormente ocupava foi preenchido por Angela Kang, também veterana do seriado. Como todos sabemos, no entanto, essa não foi a única grande mudança, tampouco a mais expressiva. Nesse ano tivemos a despedida de Rick Grimes, o que, por si só, representa uma mudança total dos paradigmas da obra.

Isso, contudo, não seria o suficiente para trazer a mencionada renovação. Afinal, o papel de Rick poderia ser mal e porcamente ocupado por outro personagem, no que poderia ser uma péssima decisão por parte dos roteiristas. No fim, acabaríamos vendo as mesmas histórias novamente. O que era necessário era algo mais profundo que isso: uma mudança na narrativa, na maneira como tais histórias são contadas. Felizmente, foi isso o que vimos nessa primeira metade da nona temporada. Kang tinha um grande desafio à frente de si e certamente conseguiu sair por cima, aparentemente (pois esse ano ainda não acabou) levando The Walking Dead de volta para seus dias de glória.

A evidência mais clara dessa metamorfose pela qual a obra passou é a maneira como a trama de cada um desses oito episódios soube focar na relação entre os personagens. Abandonada a intenção de fazer algo grandioso, a série volta a explorar a psique de cada um dos indivíduos que compõem o grupo principal de sobreviventes. Rick, Michonne, Carol, Daryl, e mais, todos recebem a devida atenção, de forma que não parecem ter sido esquecidos, ou convenientemente deixados de lado. Como showrunner, Kang claramente valoriza esses personagens, fazendo a história girar em volta deles e não o contrário – algo que fora abandonado nas últimas temporadas.

Dito isso, ainda havia o grande desafio de entregar um fim digno para Rick e, com maestria, foram capazes de remover o protagonista da série, mas sem matá-lo – afinal, ainda veremos filmes com o personagem interpretado por Andrew Lincoln. Mais importante ainda é como essa despedida diretamente afeta os três últimos capítulos dessa primeira parte: com Rick, a união das diferentes comunidades se foi; Michonne e Daryl se demonstram profundamente abalados, mesmo com um salto temporal de seis anos. Essencialmente, nada é mais o mesmo e isso é ótimo. Como dito antes, não precisávamos de um novo Rick e sim de um novo The Walking Dead.

Fica bastante claro, portanto, que os cinco capítulos iniciais tinham como objetivo principal amarrar as pontas soltas da temporada anterior. Além disso, há um ar de uma utopia prestes a desmoronar, o que essencialmente acontece com o sacrifício de Rick na ponte. Kang ainda chega a arriscar e não deixa a despedida do protagonista para o midseason finale – um risco que, por sinal, provou ser a escolha certa. Com isso, a série se mostrou bastante honesta perante os fãs e espectadores, já fomos introduzidos ao que a nova showrunner pretende trabalhar na segunda metade e isso foi feito, surpreendentemente, no melhor capítulo da série em anos, o derradeiro midseason finale, intitulado Evolution.

Sim, fomos deixados com um grande cliffhanger, mas temos aqui um ponto de virada desse arco de introdução dos Sussurradores. Basicamente esses últimos capítulos tinham como foco a apresentação desses novos vilões aos personagens centrais, eles precisavam saber com o que vão lidar agora e certamente tudo promete mudar mais uma vez no midseason première do ano que vem. Essa chegada dos novos antagonistas repentinamente dá ainda mais importância ao sonho de Rick em unir todas as comunidades, afinal, eles vão precisar trabalhar juntos, lutar juntos, para vencer essa nova ameaça.

E o que há de mais curioso nesse grupo vilanesco é como sentimos algo que há anos e anos não sentíamos na série: medo. The Walking Dead não é bem uma obra de terror, mas pela própria natureza da trama é de se esperar certos elementos do gênero e isso foi resgatado com maestria nesses últimos capítulos, tudo enquanto o drama é cuidadosamente construído, em diversos frontes diferentes, mas abandonando a estrutura de focos exclusivos em certos personagens de semana em semana (algo que Gimple introduziu lá na quarta temporada, com cada capítulo girando em torno de certo indivíduo ou grupo). Melhor ainda que Angela Kang e sua equipe o fizeram sem comprometer o ritmo da narrativa – não há focos de lentidão na trama como um todo e tampouco ela segue de forma exageradamente acelerada – foi encontrado um bom equilíbrio que esperamos encontrar na segunda parte.

Isso não quer dizer, no entanto, que não há problemas nesses oito episódios da nona temporada. Aliás, era praticamente impossível fazer algo perfeito, tendo em vista as desastrosas sétima e oitava temporadas. Bom exemplo de deslize são os Salvadores, que são jogados para o escanteio a partir do quinto capítulo. Mas, como foi dito antes, a temporada não acabou e a aparente fuga da prisão de Negan pode trazer os Salvadores de volta aos holofotes – esperamos que não como antagonistas novamente, afinal, já temos os formidáveis Sussurradores. Outro grande problema é a saída totalmente sem cerimônias de Maggie (Lauren Cohan), que merecia ao menos uma cena de despedida, ou algo assim. O que vimos, contudo, foi uma personagem das antigas sendo “removida” sem mais, nem menos. Sim, ela deve voltar na próxima temporada, mas considerando a natureza de negociações entre atores e o fato de que Cohan quase não renovou seu contrato para esse nono ano, ficamos com aquele receio de ter visto o último de Maggie no quinto capítulo.

Em todo caso, apesar desses deslizes, esse nono ano de The Walking Dead foi um grande acerto, ao menos essa primeira parte. Angela Kang provou ser capaz de conduzir a série como a nova showrunner e, mais importante ainda, provou ser a pessoa ideal para trazer a necessária renovação ao programa, em uma mistura de elementos velhos, com alguns inéditos. Nesse ponto, resta apenas torcer para que o grau de qualidade apresentado aqui se mantenha na segunda parte e em possíveis novas temporadas. Por enquanto, ao menos, estamos otimistas.

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