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Fuller House | Crítica - 4ª Temporada

Em sua quarta temporada, Fuller House finalmente parece estar com seus personagens estabelecidos o suficiente para criar o envolvimento necessário com um novo público, dependendo menos de suas relações com o elenco original para gerar tramas envolventes e a tão almejada atmosfera familiar.

De início, Fuller House se apoiou bastante no fato de ser uma série derivada/ sequência de Full House, constantemente trazendo de volta o elenco original composto por Danny (Bob Saget), Joey (Dave Coulier), Jesse (John Stamos) e Becky (Lori Loughlin). A nova geração de Fullers foi introduzida ao público como uma maneira pouco inventiva de se reproduzir as fórmulas e dinâmicas características da série anterior, prezando os momentos dramáticos do ambiente familiar, e mantendo o humor do roteiro, o mais confortável possível.

Nesta nova temporada, no entanto, o roteiro está mais focado no desenvolvimento de tramas que foram construídas nos anos anteriores, ao invés de derivá-las de relacionamentos da série original. O triângulo amoroso de DJ (Candace Cameron Bure), Matt (John Brotherthon) e Steve (Scott Weinger) foi, enfim, resolvido, e a vida amorosa de DJ ficou em segundo plano durante as novas tramas, onde o interesse maior está na gravidez de Kimmy (Andrea Barber), no desenvolvimento de Stephanie (Jodie Sweetin) como uma personagem mais madura e responsável e, como sempre, nas interações familiares, perfeitamente reconhecíveis ao público-alvo.

Tal proposta tornou esta temporada mais segura dentro dos padrões estabelecidos pela franquia, mantendo-a condizente com o que o público cativo espera ver em Fuller House. E como já citei em outros textos, bebês são como minas de ouro para séries de comédia, proporcionando as típicas situações cômicas protagonizadas por uma personagem grávida, e abrindo caminho para os igualmente típicos obstáculos que o recém-nascido trará em episódios futuros.

As piadas continuam sendo extremamente fáceis, sem nenhum espaço para qualquer comentário mais arriscado ou algum tipo de humor mais sofisticado. Acessibilidade e abrangência são os principais objetivos da comédia de Fuller House, que nunca deixa de se apresentar, com orgulho, como uma perfeita opção de série “água com açúcar” dentro do vasto acervo da Netflix. Ainda assim, é bem possível que alguns espectadores se sintam entediados com piadas tão simples quanto Kimmy enfiando um biscoito inteiro dentro da boca, ou um palhaço que possui um diploma de “ha-ha-harvard”…

Talvez o maior empecilho que Fuller House tinha em sua missão de dialogar com uma nova geração de espectadores, era a constante necessidade da série de encaixar as típicas lições de moral familiares na maioria de seus episódios, executando estas situações com a mesma pragmaticidade da série original. Mas enquanto Full House era um produto de sua década, onde a televisão servia muito mais como um espaço para tais serviços de utilidade pública, Fuller House se deparou com um público que não responde tão bem às viradas mais bruscas no tom da narrativa.

Esta quarta temporada possui episódios com durações um pouco menores do que nos anos anteriores, deixando menos tempo para as sequências mais emocionais, que precisaram ser melhor distribuídas na estrutura da temporada. Ainda temos os momentos de lição de moral, com DJ passando ensinamentos aos seus filhos do mesmo jeito que seu pai protagonizava tais momentos em Full House. A amizade entre as três protagonistas mais velhas também continua em evidência, igualmente inocente e emocional.

No entanto, estas sequências soam melhor integradas aos episódios, tomando menos tempo de tela, lidando com as situações sem muitas complicações, e com mais alívios cômicos do que a série parecia pensar que precisava nestas cenas, até então. A superficialidade destes dramas familiares continua sendo tão discrepante quanto se observava nas temporadas anteriores, mas pelo menos a série parece menos interessada em replicar o valor sentimental conquistado por Full House, e mais dedicada à evoluir o novo grupo de personagens.

Em comparação com qualquer outra típica comédia americana de palco, o elenco de Fuller House é enorme, com os personagens podendo formar vários núcleos paralelos em um mesmo episódio (ou sendo esquecidos, de vez em quando). Quando se adiciona o elenco original, então, chega a ser quase impossível manter a estrutura do episódio dentro dos padrões narrativos sem colocá-los todos no mesmo ambiente. Felizmente, a temporada anterior começou a distanciar-se desta abordagem, preferindo manter os personagens clássicos separados, com um episódio específico para cada aparição.

Tal excesso costumava impedir o desenvolvimento ideal dos protagonistas, principalmente no que diz respeito ao elenco infantil, mas com esta nova temporada mantendo as aparições especiais mais restritas, o espectador pode finalmente ter a sensação de estar acompanhando estes personagens evoluindo por mérito próprio. Até mesmo Fernando (Juan Pablo Di Pace) e Jimmy (Adam Hagenbuch) se tornaram personagens mais relevantes nesta temporada, com Fernando sendo mais incluído na dinâmica familiar e Jimmy precisando lidar com a chegada de seu filho com Stephanie.

As crianças já estão notavelmente mais velhas do que no começo da série (Max está maduro demais para o Natal), e embora seus núcleos narrativos ainda não estejam sendo tão bem explorados quanto poderiam, percebe-se uma liberdade maior nesta temporada para que assumam uma parte mais expressiva das tramas (Lembram-se de quantas piadas a bebê Michelle tinha quando começou a falar?).

È interessante notar como Fuller parece estar percebendo o desgaste de sua proposta nostálgica, e está redirecionando seus esforços para construir representações válidas de elementos contemporâneos (tanto tematicamente, quanto aspectos comuns do dia-a-dia em família), impedindo que esta temporada traga a mesma sensação de estarmos assistindo à uma série “fora de seu tempo”. Ainda assim, o público que busca esta nostalgia não é esquecido pela série, que traz nesta temporada, por exemplo, um episódio inteiro dedicado a clássica série “As Panteras”.

Fuller house mantém sua identidade nesta quarta temporada, e já demonstra conseguir caminhar com as pernas próprias, sem a necessidade do elenco original para criar identificação com o espectador. Seus personagens se mostram ainda mais cativantes com o devido destaque. Pode nunca ser nada além de um entretenimento descompromissado, com seu humor seguro e suas mensagens inocentes, mas contanto que mantenha a consistência de sua proposta, com a melhora da execução que exibiu nesta temporada, A série ainda preenche um posição com grande apelo ao público, no acervo da Netflix.

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