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Doctor Who: Resolution | Crítica

Depois de uma temporada morna, Jodie Whittaker retorna com sua versão encantadora da Doutora para enfrentar os temidos Daleks, em um episódio especial de ano novo que ainda traz muitos dos equívocos vistos nos episódios anteriores, mas ao menos consegue resgatar parte do charme característico (e reconhecível) da série.

Durante a temporada regular, a Doutora enfrentou apenas vilões novos, feitos especialmente para introduzir uma nova geração de espectadores ao universo de Doctor Who. A estratégia, embora plausível, acabou alienando boa parte dos fãs cativos da série, que sentiram (e muito) a falta de alguns elementos familiares que pudessem integrar esta nova versão ao enorme universo, tão bem expandido por Russell T. Davies e Steven Moffat nos anos anteriores.

Chris Chibnall, o novo showrunner, não parece ter o mesmo apreço (ou a nostalgia) pela série clássica que Davies e Moffat imprimiam em seus episódios, sempre entusiasmados pela possibilidade de adicionar novas linhas ao cânone de Doctor Who. Ao invés disso, os novos episódios trouxeram uma abordagem recorrente, onde sempre era revelado que a grande ameaça não estava na criatura-da-semana em si, mas sim no coração dos humanos. A abordagem pode ter sido bem intencionada, mas também contribuiu muito para a degradação do senso de urgência e ameaça que a nova temporada tanto necessitava para ser tão envolvente quanto as anteriores.

Pois com o especial de ano novo, finalmente tivemos a volta do maior antagonista de Doctor Who, ainda que esta seja uma versão moderadamente diferente da que vinha sendo utilizada até então. Bastava que um Dalek surgisse em frente à Doutora de Jodie Whittaker para que pudéssemos (finalmente) ver esta tão querida personagem exibir a convicção e a imposição pelas quais as versões anteriores eram tão conhecidas. Se durante a temporada, a personagem parecia sempre deslumbrada pelo mundo a sua volta, neste episódio, temos a sensação de estarmos vendo alguém que sabe muito bem com o que está lidando.

Chibnall claramente se preocupou com como o visual antiquado dos Daleks seria encarado pelo novo público que o “showrunner” tanto preza. Davies conseguiu atualizar os antagonistas quando revitalizou a série em 2005, e Moffat teve seus altos e baixos tentando lidar com estes ameaçadores seres enlatados (ninguém esquece dos “Daleks power rangers”), mas Chibnall merece reconhecimento pela tentativa de impor um sentimento de perigo e ameaça distinto do que seus antecessores se dispunham a explorar, com a a criatura controlando seres humanos e soando ainda mais cruel.

O foco nos dramas familiares, que parece despertar tanto a atenção de Chibnall, continua sendo uma prioridade neste episódio especial. A conversa entre Ryan (Tosin Cole) e seu pai negligente é um momento relevante para a evolução do personagem, além de manter o tom desta nova fase da série, no mínimo, consistente. Os “companions” (amigos, companheiros, como quiser…) apresentam uma dinâmica muito melhor estabelecida e envolvente do que podíamos perceber ao final da temporada, e continuam apresentando personalidades distintas e funções relevantes dentro do episódio. Há de se elogiar o equilíbrio louvável encontrado pelos roteiristas para lidar com três “companions” de uma só vez.

Se nos últimos episódios, ficou evidente que esta nova fase de Doctor Who parece determinada a se distanciar de conexões diretas com os mais de cinquenta anos da série, este episódio especial se mostrou mais disposto a dialogar com o passado do Doutor, trazendo até mesmo uma menção à UNIT (ainda que tenha sido apenas para contextualizar o por quê da agência secreta recorrente não ter dado as caras, até então). Esta preocupação com a coerência da série perante as temporadas passadas não deve ser esquecida no próximo ano, se a BBC estiver atenta à recepção do público.

Um destaque deste episódio especial, a trilha sonora parece estar mais distinta e com mais personalidade do que vinha sendo visto durante a nova temporada. Embora ainda não consiga alcançar o impacto marcante que Murray Gold produzia na era Moffat, os momentos de embate entre a Doutora e o Dalek tiveram acompanhamentos mais entusiasmantes do que qualquer um dos monstros novos pode aproveitar, em episódios anteriores.

Alguns diálogos do episódio continuam um tanto desconfortáveis, pouco orgânicos, tal qual foi visto na temporada. Ainda assim, os protagonistas se mostram ainda mais engajantes e repletos de potencial para carregar, ao menos, mais uma temporada liderada por Whittaker. A vontade da série de se renovar parece ter encontrado uma abordagem mais palatável para o público cativo, mas ainda precisa se lembrar que nós, o público, precisamos admirar a doutora ainda mais do que precisamos reconhecê-la.

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