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Godzilla: O Devorador de Planetas | Crítica

Concluindo a ambiciosa empreitada de abordar o universo do Godzilla em formato de anime, Godzilla: O Devorador de Planetas encerra os arcos principais desta história com maior foco nos dilemas temáticos, e menos espaço para a ação envolvente que se destacava nos capítulos anteriores.

Esta trilogia, iniciada em Godzilla: Planeta de Monstros, trouxe novos ares à mitologia do icônico “kaiju”, abordando a típica corrida pela sobrevivência da humanidade com elementos de ficção científica que evocam universos conhecidos dos fãs do gênero, como “Battlestar Galactica” e “Alien”. Boa parte da história é dedicada à contextualização desta civilização em perigo que decide retornar ao planeta Terra décadas após terem fugido da destruição causada por Godzilla, e embora este cenário tenha uma construção relativamente rica, o potencial de sua exploração nunca parece ser alcançado com total satisfação.

Godzilla: O Devorador de Planetas retoma a jornada de Haruo, um protagonista cujos objetivos e princípios são bem evidenciados para o espectador, assim como suas falhas são essenciais para o desenrolar dos principais conflitos da trilogia. O personagem é perfeitamente capaz de gerar um envolvimento engajante durante sua trajetória, e a conclusão de seu arco soa condizente com seus aprendizados, até então. Embora a trilogia aborde temas complexos demais para serem adequadamente trabalhados neste molde, a evolução da perspectiva de Haruo consegue transpor boa parte das conclusões desta história com mais organicidade.

Este terceiro capítulo tinha a difícil tarefa de corresponder as expectativas de um público ávido por sequências que aumentam as escalas de suas tramas. Em “Planeta de Monstros”, descobrimos que o verdadeiro Godzilla é, na verdade, muito maior do que os personagens esperavam, desencadeando a trama do segundo capítulo. Em seguida, os conflitos internos desta civilização composta por três diferentes raças são evidenciados, e proporcionam uma trama muito mais interessante e abrangente, enquanto os personagens ainda precisam lidar com a magnitude de seu oponente, e encarar sua inferioridade.

Eis que a conclusão nos traz uma nova versão do clássico monstro Ghidorah, adaptado para este contexto futurista e integrado à religião da raça Exif, para proporcionar este tal aumento de escala. Infelizmente, a ameaça de Ghidorah (e seu embate com Godzilla) não é tão envolvente quanto as batalhas anteriores, onde tínhamos motivações mais identificáveis e um sentimento de urgência mais eficiente.

Enquanto a luta de titãs se desenrola no fundo, acompanhamos Haruo e os demais personagens humanóides em suas tentativas de desvendar dilemas filosóficos pouco excitantes. O equilíbrio entre a reflexão e o entretenimento, embora nunca fosse necessariamente louvável, parecia melhor trabalhado nos atos finais dos capítulos anteriores, onde a determinação e a resiliência dos personagens era o maior apelo de suas investidas contra o grande antagonista.

E embora a animação de Godzilla: Devorador de Planetas tenha muito o que se destacar, incluindo a acessibilidade proporcionada à um público pouco familiar com o gênero ou o formato destes “filmes”, há de se reservar alguns elogios para a trilha sonora expressiva que toma conta das sequências mais frenéticas e excitantes. Em parte, várias faixas parecem vindas do acervo musical de Star Wars ou Star Trek, combinando alguns momentos mais discrepantes com guitarras elétricas e percussão que elevam a ação de determinadas cenas com eficiência.

Tal qual vários outros produtos da cultura japonesa dedicados ao público casual, o enredo de Godzilla: Devorador de Planetas ganha mais importância perante o desenvolvimento dos personagens. Haruo pode ter grandes momentos dentro da trama, mas o mesmo não pode ser dito de outros personagens que nem sempre vão muito além de suas meras funções dentro da história. Parte disso deve ser por conta da (relativamente) curta duração dos capítulos, me fazendo pensar que se esta história fosse adaptada para outro formato menos restrito, poderia apresentar um potencial ainda mais intrigante ao público internacional da Netflix.

Godzilla: Devorador de Planetas encerra a história com um desenvolvimento menos marcante, porém continua a consistente expansão deste universo repleto de referências, cuja construção desperta a curiosidade do espectador, e possui espaço suficiente para tramas ainda mais interessantes, mesmo que não tão grandiosas. O icônico monstro voltará às discussões do público com o novo filme “Godzilla: Rei dos Monstros” que chega aos cinemas neste ano, mas não deixa de ser deslumbrante assistir a maneira como os japoneses, criadores desta figura tão imponente, encaram-no com a tamanha disposição para renovação que pode ser vista por aqui.

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