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Osmosis | Crítica - 1ª Temporada

Uma produção francesa original da Netflix, Osmosis tem premissas interessantes que podem chamar a atenção do público, mas sua execução deixa à desejar em uma temporada pouco estimulante que dificilmente se tornará a próxima obsessão dos fãs de ficção científica.

Osmosis é uma criação da autora Audrey Fouché, cujos créditos como roteirista incluem a aclamada série “Les Revenants”. E embora ambas as séries tenham algumas similaridades interessantes na maneira como descascam e exibem os seus personagens em meio à uma trama fantástica, a atmosfera melancólica de Osmosis não traz o envolvimento necessário para que os espaços de reflexão do roteiro possam ser aproveitados com o máximo de seu potencial.

Espectadores da Netflix devem encontrar Osmosis em sua lista de recomendações, caso estejam acostumados com as produções de ficção científica da plataforma. No entanto, aqueles que esperam encontrar uma abordagem tão instigante quanto Black Mirror, ou um universo excitante como em Altered Carbon, podem se decepcionar com a falta de impacto da produção francesa. A proposta traz ideias chamativas, que buscam despertar a curiosidade do espectador através de especulações sobre a relação da nossa sociedade com os avanços tecnológicos que borram as linhas entre o natural e o artificial. Até aqui, Black Mirror ainda vêm a cabeça…

Paul (Hugo Becker) e Esther Vanhove (Agathe Bonitzer) são dois irmãos bem sucedidos em uma Paris do futuro (não tão futurista assim). O casal desenvolveu uma tecnologia chamada Osmosis, que promete conseguir identificar a alma gêmea ideal para qualquer usuário no mundo, e estão prestes a lançar esta tecnologia no mercado após um último teste com voluntários em busca do amor perfeito. Esta primeira temporada acompanha tanto os criadores e engenheiros desse projeto, quanto os indivíduos que estão sendo testados, em uma rede de narrativas que impede a série de cair na monotonia, ainda que poucas tramas sejam gratificantes por si só.

Junte esta premissa chamativa a personagens facilmente identificáveis, bem expostos durante os dois primeiros episódios e que apresentam personalidades contrastantes, ideais para traçar paralelos úteis, tanto para o estudo que está sendo feito pela empresa, quanto para a experiência do espectador que os acompanha. O resultado dessa junção poderia, com certeza, ser muito recompensador, caso a série trabalhasse sua estética de forma mais convidativa, e soubesse ilustrar suas catarses e epifanias com mais objetividade.

O roteiro de Osmosis apresenta tramas paralelas o suficiente para engrandecer seu universo, e manter sua narrativa atraente. Embora boa parte da primeira metade da temporada esteja interessada em acompanhar os desenvolvimentos do teste, também ficamos intrigados com o projeto de pessoal de Esther (que está tentando reanimar sua mãe, através da tecnologia da Osmosis), e com o sumiço da alma-gêmea de Paul (o quê coloca toda a pesquisa em risco, uma vez que Paul e Josephine foram o primeiro caso de sucesso da aplicação desta tecnologia).

Tais tramas, embora bem introduzidas, não soam tão bem estruturadas, dividindo a atenção do espectador de forma mais dispersa do que complementar. Do outro lado, no acompanhamento do teste, os relacionados gerados pela tecnologia não são tão orgânicos ao ponto de se tornarem envolventes. Parte disso, é claro, é condizente com a ideia de “artificialidade” da tecnologia. Narrativamente, no entanto, não exibe os aspectos necessários para que possamos assimilar este questionamento como algo intencional.

Com problemas majoritariamente estruturais, no texto, estas histórias aparecem repletas de um potencial que nunca chega a ser perfeitamente aproveitado, e embora procurem explorar as especulações naturais que esta tecnologia inovadora provoca em qualquer espectador, suas repercussões não chegam a usufruir da mesma cativação.

E embora estes problemas estruturais sejam parte do que me faz classificar Osmosis como uma série esquecível, meu maior incômodo foi com a fotografia e algumas escolhas visuais da produção, que parecem buscar ressoar parte dos temas discutidos pela trama, como a frieza de seus personagens e o sentimento de solidão, mas acabam tornando a atmosfera pouco envolvente, além de cansativa.

Diversas sequências com “câmera na mão” acabam diminuindo o ambiente das cenas, e soam dispersas em uma montagem repleta de cortes pouco envolventes. Tal montagem carece de ritmo em momentos que deveriam manter o espectador ansioso, ou atento à passagens específicas. Com uma fotografia que procura enaltecer os focos de luz e a iluminação “neon”, típica de ambientes futuristas genéricos, poucas cenas realmente aproveitam a oportunidade para se tornarem distintas e reforçarem o tom da narrativa sem caírem na banalidade.

Essas críticas podem soar um tanto duras para aqueles que se sentirem atraídos pela proposta de Osmosis, mas as faço justamente por reconhecer o potencial que a série tinha de trabalhar seus principais tópicos com mais relevância. Veja Maniac, outra produção da Netflix, que encontrou oportunidades em sua excentricidade para retratar os dilemas emocionais de protagonistas tão carentes quanto estes. Ou mesmo Black Mirror, que sabe utilizar estas premissas cativantes de uma forma mais objetiva, sempre proporcionando os instrumentos necessários para atiçar as reflexões do espectador, e guiando tais reflexões por caminhos produtivos.

A ideia de uma tecnologia que garante ao usuário, uma alma-gêmea “segura”, é capaz de estimular teorias interessantes à qualquer espectador. Afinal, a sociedade atual parece dedicar a maior parte de seus esforços à uma noção abrangente do que chamamos de “controle”, e em meio à essa busca por segurança e controle, sacrificamos uma espontaneidade essencial para a sensação de propósito que todos, como seres humanos, precisam reconhecer facilmente para não questionarem a própria existência.

Osmosis pergunta se a “certeza” e o “controle” de um amor verdadeiro não seriam justamente os fatores que o tornariam incerto, uma vez que qualquer garantia seria artificial, e a paixão só poderia se propriamente apreciada e valorizada diante dos riscos que ela carrega em qualquer relacionamento.

A série provavelmente teria seus conceitos melhor aproveitados em um único episódio de uma antologia, onde poderia expor seus questionamentos com mais precisão. Quem sabe, também encontraria espaço em uma contagem maior de episódios (ou mais temporadas) para aprofundar melhor as relações de seus vários personagens. Se seguisse o mesmo visual entediante, no entanto, seria ainda mais difícil aproveitar suas especulações sociais.

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