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Game of Thrones | Crítica - 8ª temporada - Episódio 3

SPOILERS!

Desde o primeiro episódio de Game of Thrones o aviso estava lá: O Inverno está Chegando. Após 2 episódios que serviam basicamente como uma preparação de terreno e estabelecimento de personagens, a oitava temporada enfim trouxe o Inverno e seus terrores com a grandiosa e horripilante Batalha de Winterfell em “The Long Night”, marcando o episódio mais longo e épico da série até o momento, mas a surpresa fica realmente com o terror.

Responsável por Hardhome e a Batalha dos Bastardos, Miguel Sapochnik foi escolhido para comandar mais um grande episódio de batalha na série. Nos segundos iniciais, temos exatamente o que o diretor se mostrou bom em suas contribuições anteriores: o épico. É de se louvar como Sapochnik é inteligente ao começar justamente com um close nas mãos de Sam tremendo de frio, colocando-nos próximo da humanidade e também antecipando a chegada do inverno que o Rei da Noite e se exército traz consigo. Temos um longo plano que estabelece as posições de todos os personagens, e diversos minutos que constroem a tensão insuportável entre os lutadores.

Uma decisão de Sapochnik e de seu diretor de fotografia que se mostram preocupantes nessa primeira porção é a escuridão. Sim, a batalha se passa durante a noite e o objetivo é apostar no terror, mas em diversos momentos é literalmente difícil de se enxergar o que acontece, e a montagem incessante não ajuda. Até mesmo O Senhor dos Anéis abriu mão do realismo fotográfico na batalha de Helms, grande inspiração da série da HBO para o confronto, mas felizmente o episódio não se limita só a isso. O primeiro choque entre os Imaculados e o exército de mortos do Rei da Noite é claustrofóbico e assustador, principalmente pelo design sonoro.

E é aí que “The Long Night” realmente encontra seu terreno sagrado: o terror. No momento em que as tropas são incapazes de segurar os mortos do lado de fora, temos o clássico terror de invasão tomando conta da série. É como se Madrugada dos Mortos de George Romero se misturasse com O Senhor dos Anéis, rendendo diversas sequências isoladas fabulosas. Aquela que envolve Arya Stark (Maisie Williams) se refugiando em uma sala de Winterfell povoada por mortos vivos é um primor na condução do terror – sobrando referências até mesmo para Sam Raimi e Guerra Mundial Z, no que diz respeito às hordas de zumbis se atropelando para ocupar um mesmo espaço.

A atmosfera desesperadora sempre se escala quando acompanhamos os mais desamparados. No caso, Sansa e Tyrion no meio de crianças e mulheres desarmados, apenas se refugiando nas criptas. A cena em que ouvimos os sons de morte e gritos desesperados dos soldados tentando escapar dos mortos vivos nos níveis acima é um perfeito motivador para que o risco aumente e passemos a temer ainda mais para o destino dos personagens.

Esse terror aumenta para construir uma situação praticamente sem esperança. Por diversos momentos, Game of Thrones faz o que fez melhor ao longo de suas 7 temporadas anteriores, e torceu a faca no coração dos fãs: por todo o episódio, realmente parecia que o Rei da Noite iria ganhar. Isso ficou bem evidente quando o vilão foi derrubado de seu dragão e instantaneamente começou a reviver suas tropas caídas (e também os mortos do lado humano), deixando o mínimo de esperança para nossos heróis. A trilha sonora de Ramin Djawadi também reforçou essa pesada atmosfera, com o compositor assumindo um piano melancólico que tomou conta de toda a paisagem sonora, criando o melhor momento de “Tudo está perdido” que a série já viu, que praticamente implora para que um Deus Ex Machina chegue para salvar os heróis.

Diante de uma situação tão horripilante, é preciso algo gigantesco para fazer sentido uma derrota do Rei da Noite. Arya aparecendo abruptamente com uma adaga de vidro de dragão não é o bastante. Por mais que seja heroico e súbito na medida certa, não pareceu tão bem construído, e representou um desfecho completamente anticlimático para um vilão que se mostrou tão poderoso e ameaçador. Muito simples, repentino e que representa o direcionamento da série para um caminho mais previsível e comum. Por aqueles segundos em que me contorcia de medo pelo Rei da Noite se aproximar de Bran, uma parte de mim se mostrava empolgada por ver um lado que as histórias dificilmente escolhem. Para onde Game of Thrones iria a partir daquele momento? Agora, sabemos bem o que esperar.

Não que isso tire o crédito de “The Long Night”. Não foi o melhor episódio de batalha como os produtores tanto prometeram (essa honra ainda pertence aos Bastardos), mas mostrou-se um exercício formidável de terror e atmosfera. Por mais que a resolução possa ter sido súbita, tudo o que levou a ela foi espetacular e extremamente bem conduzido.

Mas não posso deixar de me questionar que o perigo real de Game of Thrones definitivamente foi embora. Espero que George R.R. Martin possa me surpreender.

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