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Daybreak | Crítica - 1ª Temporada

Existe muito o que se aproveitar em Daybreak, a nova série da Netflix que mistura diversas referências para tentar criar um universo juvenil empolgante. Mas, infelizmente, apesar da soma de suas partes não gerar um resultado completamente esquecível, também nunca deixa de ser perfeitamente dispensável. 

Daybreak é uma co-criação do diretor Brad Peyton, conhecido nos cinemas por seus “filmes de desastre” estrelados por Dwayne “The Rock” Johnson. E embora a série não traga necessariamente os mesmos apelos de suas produções mais conhecidas, partes de seu estilo visual descarado e seu descompromisso com a plausibilidade deste universo, continuam presentes por aqui (além de atraentes, para muitos). A série acompanha um cenário pós-apocalíptico onde todos os adultos se tornaram “Ghoulies” (uma espécie de zumbi bem menos ameaçadora), enquanto os jovens restantes ergueram uma sociedade que passou tempo demais assistindo “Mad Max”. 

O primeiro episódio não é capaz de gerar uma boa impressão ao espectador desavisado, entregando uma grande quantidade de exposição e algumas cenas desconfortáveis que tentam estabelecer o tom cômico da série, mas que acabam parecendo meramente mal-feitas. Ao menos, é possível perceber o potencial da proposta de Daybreak logo de cara, especialmente para o público alvo da produção que está acostumado a elementos típicos de videogames e séries pós-apocalípticas surtadas. 

Também fica claro o quanto Daybreak se apoia em sua auto-consciência para gerar piadas referenciais ou manter o ritmo da trama acelerado. E conforme a temporada avança, a metalinguagem da série só vai ficando ainda mais intensa, com resultados que variam entre humor consistente, e mera distração. Há diversos momentos em que a série parece estar mirando perto do que o público reconhece em produções como Zumbilândia e afins, e quando estamos neste território satírico e excêntrico, é justamente quando Daybreak entrega suas melhores cenas. 

Ao mesmo tempo, atuações caricatas (especialmente a do capitão do time de golfe no primeiro episódio) acabam indo de encontro com algumas aspirações mais ambiciosas da série, que também tenta entregar tramas pessoais relevantes para o seu grupo de personagens adolescentes. Os jovens acabam se dividindo em “tribos” especializadas, com os típicos valentões esportistas formando o grupo mais opressor, enquanto o protagonista da série se apresenta como um nômade solitário, focado em sua sobrevivência, e em sua missão de encontrar a garota com quem estava saindo antes do apocalipse. 

A junção de referências é produtiva para construir um universo divertido de acompanhar, onde novos personagens excêntricos podem surgir a qualquer momento e revigorar o fôlego da série, quando a trama da vez estiver desacelerando. A palavra “referencial” é importante por aqui, com um dos personagens centrais, por exemplo, sendo introduzido como um “samurai”, por conta da sua paixão por filmes asiáticos (e até mesmo a semelhança deste universo com “Mad Max” é apontada em um diálogo logo no começo).

Mas aqueles que esperam uma série visualmente estimulante para acompanhar toda sua excentricidade temática, podem acabar se decepcionando com os primeiros episódios. O CGI momentâneo é sofrível, com animais mutantes capazes de quebrar qualquer imersão, e os cenários nem sempre conseguem se distinguir o suficiente de tantas comparações disponíveis na televisão atual. Conforme caminhamos para o final da série, no entanto, vão surgindo algumas composições mais empolgantes (e visivelmente mais caras) para expandir a escala deste universo e torná-lo um tanto mais diverso. 

Matthew Broderick está bem mais presente na série do que eu esperava, interpretando o diretor do colégio deste grupo de jovens e direcionando o espectador a comparar Daybreak com “Curtindo a Vida Adoidado” em seu sentimento de rebeldia adolescente. A comparação nem sempre me parece tão produtiva, mas o ator traz uma interpretação válida para um personagem que funciona melhor quando é visto, inicialmente, como sendo inocente e bem-intencionado. 

As quebras da quarta parede vão se tornando mais frequentes na reta final, culminando em uma cena onde o personagem Eli (Gregory Kasyan) toma a dianteira da narração e dá seus pitacos sobre outros momentos da temporada. É um exemplo bem mais interessante e funcional da abordagem de Daybreak, quando comparado com as montagens apelativas que acompanham cenas dramáticas, e que precisam atingir o espectador emocionalmente. O mesmo pode ser dito do uso da metalinguagem de forma mais consistente, como no episódio focado na Sra. Crumble (Krysta Rodriguez) e sua reflexão ilustrada por uma “sitcom” de sua vida, enquanto outras execuções pontuais parecem um tanto gratuitas.   

Mas este desequilíbrio que pode ser percebido em como a série emprega tais elementos, também existe na maneira como Daybreak pula de um tom narrativo para o outro. Perto do fim, há um episódio inteiramente dedicado à relação entre Josh (Colin Ford) e Sam (Sophie Simnett), onde o foco na discussão sobre relações adolescentes contemporâneas destoa completamente do restante da série. É louvável que os roteiristas tenham se dedicado a manter estas tramas, dramaticamente relevantes, mas sua execução soa dispersa demais perto do entusiasmo pela exploração deste universo cheio de absurdos e piadas esperando para serem feitas. 

O espectador que der uma chance à Daybreak, e continuar interessado até a segunda metade da temporada, provavelmente sairá satisfeito desta experiência. A série nunca pode ser classificada como enfadonha, mesmo com dez longos episódios, e a atmosfera deste universo é cativante o suficiente para que sempre possa-se criar expectativa. Justo quando você acha que já conheceu tudo que podia da dinâmica deste cenário pós-apocalíptico, surge um coliseu improvisado onde recrutas precisam enfrentar “ghoulies” vestidos de papai noel. Como disse, é sempre possível comparar e relembrar outras obras semelhantes, mas tais elementos nunca deixam de ser, pelo menos, divertidos. 

Algumas reviravoltas produzem bem mais impacto do que outras menos evidenciadas, e com o final da temporada providenciando uma conclusão satisfatória, enquanto também estabelece um novo estado promissor para uma possível continuação, Daybreak é uma daquelas séries que não considero boas o suficiente para ganhar atenção dentro do cenário altamente competitivo da televisão atual. Mas, ao mesmo tempo, me empolgo com a ideia de uma segunda temporada, e torço para que os roteiristas amadureçam a maneira como executam suas propostas. Quem sabe assim, poderemos recomendá-la com mais animação. 

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