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Orange is the New Black | Crítica - 7ª Temporada

Depois de sete temporadas, Orange is the New Black chega ao fim. De forma louvável, a série sempre se manteve fiel à sua proposta original de humanizar estes personagens para um público diverso, e encerra sua jornada sem nunca ter desviado das complexas questões que foi encontrando ao longo do caminho. 

Há tanto que poderia ser discutido sobre Orange is the New Black. A época em que a Netflix resolveu apostar em conteúdos originais, e acabou redefinindo o cenário televisivo da década, já começa a soar como um passado distante. Mas a série de Jenji Kohan estava lá, se dispondo a aproveitar a oportunidade para quebrar paradigmas e contar estas histórias que acabaram conquistando tantos fãs ao longo dos anos.

A maneira como encaramos séries mudou consideravelmente desde então, mas Orange is the New Black nunca deixou-se ficar para trás, e nos entrega uma última temporada que valoriza a mudança proporcionada pela jornada, muito mais do que qualquer conclusão.  

Ainda mais do que o cenário televisivo, o mundo em que vivemos também mudou consideravelmente durante estes últimos sete anos. No início, a série da Netflix era considerada provocativa por sua proposta de humanização, com um dos pontos mais chamativos sendo a abordagem representativa de personagens LGBTs. Por um lado, é revigorante perceber como esta abordagem já não soa mais nem um pouco chocante, conforme a série se aproxima do fim, e que estas personagens estão longe de poderem ser definidas apenas por um sigla. 

Mas por outro, diversos tópicos polêmicos foram surgindo ao longo destas histórias, e Orange is the New Black aproveitou seu espaço para, no mínimo, abrir complexas discussões sobre a sociedade em que vivemos, procurando refletir aquilo que se passava fora da tela. Não é surpresa nenhuma, portanto, que esta última temporada tenha dedicado tanto tempo às questões envolvendo imigração, com problemas que estão em pauta nos EUA, mas que são capazes de chocar qualquer espectador ao redor do mundo. 

A sétima temporada assume uma atmosfera de continuidade, sem se deixar dominar por conclusões definitivas. Procura, no entanto, proporcionar reflexões construtivas para o que foi mostrado até aqui, com vários momentos em que alguma personagem passa a desabafar ou repensar sua trajetória. Não há uma grande mudança de dinâmica que rege esta leva de episódios, como uma rebelião violenta ou uma nova prisão ainda mais perigosa, o que pode tornar esta temporada um pouco menos empolgante para os espectadores que acompanhavam a crescente tensão dos últimos anos. 

No entanto, temos a saída de Piper (Taylor Schilling) da prisão, com a personagem precisando re-descobrir sua identidade enquanto lida com o choque de sua “nova” vida. A perseguição e a opressão aos personagens imigrantes também acaba definindo muitas das novas tramas, e o roteiro da série não se restringe ao tentar impactar o espectador com suas brutais representações de situações desesperadoras. 

A série procura retratar o quanto o sofrimento destas personagens faz parte de ciclos. O ódio, a intolerância e a falta de consideração se estendem além de meros atos, repercutindo e se propagando através daqueles que foram afetados. Entre todas as várias tramas que compõem a temporada, talvez Doggett (Taryn Manning) e Taystee (Danielle Brooks) sejam as que apresentam os arcos narrativos e situações que mais agregam às discussões propostas. Tanto a queda quanto a superação são igualmente importantes em Orange is the New Black, e a série faz questão de construir seu micro-universo de forma que possa retratar questões abrangentes com objetividade. 

Cada trama isolada poderia ser o destaque de um texto próprio. Maritza  (Diane Guerrero), Blanca (Laura Goméz) e a nova personagem, Karla (Karina Arroyave), lidam com a ameaça da deportação sob diferentes perspectivas. Red (Kate Mulgrew) encara o peso de sua idade e de suas circunstâncias enquanto Nicky (Natasha Lyonne) precisa descobrir como ser forte o suficiente para ajudar aqueles com quem se importa.

 Piper e Cindy (Adrienne C. Moore) se deparam com as dificuldades de se reencontrar fora da prisão em realidades completamentes diferentes. Taystee percorre uma linha tênue entre a desilusão absoluta e a esperança de um propósito. Lorna (Yael Stone) continua lidando com suas negações, além de várias outras tramas. Tudo enquanto Crazy Eyes (Uzo Aduba) está montando sua própria analogia de alguns dos principais tópicos da série, mas com galinhas…

Em meio à tantas representações e discursos, os flashbacks desta temporada chegam a prejudicar o ritmo dos episódios, soando como sequências meramente necessárias para manter a consistência do formato da série. Orange is the New Black quer aproveitar suas últimas oportunidades para tentar dizer o máximo que pode sobre aquilo que permeou toda a jornada destas personagens, mas o faz tentando manter um sentimento de constância, deixando claro que por mais pungentes que possam ser seus pontos, estes são apenas os pontos da vez. 

Mas raramente, a série parece assumir que conhece as respostas para suas difíceis perguntas. Ao invés disso, Orange is the New Black prefere proporcionar uma visão ampla o suficiente para que possamos enxergar a complexidade de cada situação, constantemente mostrando que em meio a todo este desespero, sempre irão existir brilhos de esperança e felicidade. Os erros e tragédias não podem ser apagados ou consertados, mas a mudança pode trazer redenção, e o futuro nunca deixará de trazer o potencial de um dia melhor, não importa o quanto as coisas fiquem ruins. 

Com esta última temporada reforçando as mensagens da série, as personagens de Orange is the New Black nos mostram, por fim, que cada um passa por seus sofrimentos de formas diferentes. Podemos ser incompreendidos, desamparados, confusos, ignorantes, fracos demais, fortes demais… Mas a maior virtude do ser humano, aquela que pode fazê-lo aprender e evoluir apesar de todos esses males, é a empatia.

A capacidade de se importar com o outro, de reconhecê-lo e de, quem sabe, poder ajudá-lo de alguma forma. É através da empatia e do amor que estas personagens conseguem, sempre, enxergar a luz em meio à escuridão. A comédia em meio ao drama. E a esperança de que não importa o quão ruim as coisas estejam, amanhã pode ser melhor. 

Parece tão simples. Mas Orange is the New Black sempre foi, simplesmente, uma série sobre pessoas. Pessimistas poderiam encarar esta última temporada com um certo resigno, afinal, não temos soluções para os inquietantes problemas retratados por aqui. Mas com um pouco de otimismo, percebemos que o final da série não está interessado em decretar que dias melhores virão, mas sim mostrar que eles com certeza podem vir, se soubermos enxergá-los entre nós. 

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