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Crítica | Venom

De tantos saltos bem sucedidos para o cinema, alguns dos personagens mais legais da Marvel Comics tiveram estreias um tanto quanto insatisfatórias nas telonas. É o caso do Quarteto Fantástico, do Justiceiro e também do Motoqueiro Fantasma, cujos primeiros filmes ainda podiam ser apreciados como prazer culposo, por motivos diferentes. Mais de uma década depois de sua infame aparição em Homem-Aranha 3, o simbionte Venom ganha uma primeira aventura solo que se equipara em número e grau às dos personagens mencionados acima.

Neste filme, as origens de Venom são modificadas. Aqui, Eddie Brock (Tom Hardy) tem seu próprio veículo de notícias e é um jornalista mais bem-intencionado. Procurando por um novo furo de reportagem, vai atrás da corporação Life Foundation para entrevistar seu CEO Carlton Drake (Riz Ahmed) acerca de perigosos experimentos realizados sobre cobaias humanas. Essa primeira tentativa de descobrir os planos de Drake sai pela culatra, custando o programa de Brock e também a relação com a amada Anne Weying (Michelle Williams).

Meses depois, desempregado e rejeitado, Brock consegue uma nova pista relacionada aos experimentos da Life, e desta vez descobre que a corporação tem estudado o efeito de simbiontes alienígenas sobre o organismo humano. Quando invade os laboratórios onde ocorrem os testes, é pego de surpresa e acaba tomado pelo simbionte Venom, consequentemente ganhando seus superpoderes. Enquanto é perseguido pelos capangas de Drake, que quer seu simbionte de volta, Brock deve trabalhar sua relação com o parasita alienígena se quiser sobreviver e por um fim aos planos do vilão.

Deve-se ressaltar, antes de tudo, que Venom não possui qualquer conexão direta com o Homem-Aranha atual da MCU, o que não é necessariamente ruim. Inicialmente, a ideia de uma história solo desconectada de um universo cinematográfico até chega a soar nostálgica, prometendo o velho arroz com feijão visto nos demais filmes de HQ da década passada. Além disso, em teoria, haviam brinquedos o bastante na caixa dos realizadores para que este fosse um sólido filme de origem. Infelizmente, com exceção de um grande ponto positivo em seu centro, não há mais nada realmente digno de nota.

Vamos começar pelo positivo: Tom Hardy. De início, sua interpretação caricata parece fora de sintonia com o resto do filme, que tem um tom mais sério, mas assim que Brock é tomado pelo simbionte, é difícil não pensar o oposto. Em seu melhor, Venom surpreende como uma comédia no estilo de Um Espírito Baixou em Mim, com Brock e Venom disputando pelo controle do mesmo corpo de maneiras cada vez mais cômicas. Sendo ambos interpretados por Hardy, tem uma dinâmica bastante divertida e que rende risos intencionais. Cria-se também uma espécie de bromance inusitado entre parasita e hospedeiro, o que é curioso o suficiente para despertar o desejo por uma sequência.

É uma pena que todo o restante de Venom não apresente a mesma energia e carisma que Hardy apresenta em seu papel duplo. O vilão Carlton Drake é entediante desde sua primeira aparição, soltando frases óbvias que explicitam o quão soturno o sujeito é, e isso por sua vez significa um desperdício do ótimo ator Riz Ahmed. Também desperdiçada é Michelle Williams, cuja personagem Anne Weying tem muito pouco a fazer, somente tendo mais agência na já alardeada cena do “amasso” com Venom – acreditem, é real! Por fim, outro grande ator dá as caras em uma de duas cenas pós-créditos, e sua participação como um famoso vilão das HQs é breve demais para deixar uma impressão, sem falar que sua presença já não é nenhuma surpresa.

Outro problema do filme é a falta de criatividade na ação, que não causa qualquer maravilhamento – isso é ainda mais decepcionante se considerarmos todas as situações promissoras que o poder do simbionte possibilitaria. O diretor Ruben Fleischer, responsável por Zumbilândia e Caça aos Gângsteres, orquestra dois tipos de cenas de ação: perseguições com efeitos práticos e lutas em CGI. Em ambos, Fleischer erra a mão e entrega sequências confusas que nem a fotografia de Matthew Libatique e montagem de Maryann Brandon tornam aproveitáveis. Mesmo a luta final entre Venom e Riot, que deveria servir de grande clímax, é quase incompreensível de tão caótica – só faltou aparecer Deadpool para ressaltar o excesso da “big CGI fight”.

No entanto, o pior lado de Venom veio antes mesmo de sua produção ter início. Muito provavelmente seguindo ordens de comitê, os quatro roteiristas partem de uma história genérica e escassa de surpresas. Na verdade, seguem tanto a cartilha do filme de herói que, em certos momentos, parece não se tratar de um longa do simbionte mas de qualquer personagem menos conhecido. Indeciso com o rumo de sua marca nos cinemas, o estúdio aparentemente usou essa primeira aventura como um teste de recepção do público, algo que definitivamente é ressaltado pela escolha de uma censura mais baixa.

Entretanto, no fim das contas, falar mal de Venom é mais difícil do que o esperado. Sua trama pode ser insossa, sua ação bagunçada e grande parte do elenco não ter muito o que fazer, mas Tom Hardy tentou – e como tentou! O ator britânico, que sempre quis interpretar o personagem nos cinemas, parece ter embarcado em uma visão partilhada por ninguém mais na equipe, dando ao filme um valor de entretenimento inesperado. Se, por algum motivo, Venom for lembrado no futuro e ganhar uma sequência, o mérito será todo de Hardy.

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