Críticas

Mostra SP | Crítica: A Trama

A juventude é sempre um objeto de estudo prolífico e extremamente significativo para que busquemos entender o momento histórico em que estamos inseridos. E é justamente com esse escopo que A Trama se apresenta – mas não se desenvolve.

Dirigido por Laurent Cantet, que venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008 com o fantástico filme Entre os Muros da Escola, A Trama acompanha sete jovens que buscam adentrar o mercado de trabalho fazendo uma oficina com uma renomada escritora em uma pequena cidade chamada La Ciotat, que vive um presente de não muito sucesso devido ao fechamento de seu estaleiro 25 anos antes.

Aos poucos, Antoine (Matthieu Lucci), um dos jovens, começa a se destacar por seu comportamento agressivo que destoa dos outros que estão participando dessa mesma oficina. Por sua vez, a escritora Olivia Dejazet (Marina Foïs) fica ao mesmo tempo assustada e intrigada com as motivações de sua conduta. Nesse microcosmo, não é necessário muito tempo para que embates entre esses jovens e sua mentora comecem a surgir.

Obviamente a arte e a política estão interligadas. Quando Antoine, por exemplo, sugere histórias violentas, ele é questionado se tem consciência das implicações políticas que uma obra com essas características pode representar. E, ao mesmo tempo em que se diz apolítico, o jovem apresenta uma conexão com amigos e certos ideais associados a extrema direita.

Mas a questão em A Trama é que, além de explorar a personagem de Antoine às custas de um mal desenvolvimento de todas as outras personagens do enredo, a história desse filme não consegue propor uma discussão sobre como os radicalismos surgem nessa sociedade e nem busca apontar alguns sinais que indiquem o comportamento desse garoto que, ao que tudo indica, leva uma vida aparentemente normal.

É também inevitável fazer conexões com o filme Entre os Muros da Escola. A figura do mentor, uma classe com várias pessoas de diferentes etnias e com diferentes pensamentos e visões perante a vida e perante a França estão presentes em ambos os filmes. Porém, em Entre os Muros da Escola tudo é melhor desenvolvido. As motivações, a construção das personagens, as falas, a mise en scène e por aí vai.

Ao sair da sessão, a sensação de assistir A Trama é de que vimos um filme que desperdiçou a chance de discutir inúmeras questões extremamente relevantes para a França e o mundo de hoje e que se aproximou de um thriller barato em sua estrutura (como pode ser visto na cena do sequestro), perdendo a chance de explorar mais a fundo o pensamento e as tendências violentas de Antoine.

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