O final de um filme é frequentemente uma das partes mais cruciais da obra, capaz de definir sua longevidade na mente do público. Quando um filme consegue acertar em cheio com uma reviravolta chocante, o impacto pode ser extremamente gratificante.
Embora os filmes sejam compostos por diversos elementos essenciais, ao analisá-los, podemos dividi-los em três partes principais: começo, meio e fim. Alguns cineastas se destacam pela maneira criativa como estruturam a narrativa, entregando histórias intrincadas e fascinantes.
Porém, não é necessário alterar completamente a estrutura de um filme para oferecer um final satisfatório. Muitas vezes, os desfechos mais memoráveis surgem quando o filme estabelece uma expectativa clara para o público e, em seguida, subverte essas expectativas de forma surpreendente.
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É ainda mais impressionante quando a trama insere pistas sutis ao longo do caminho, sugerindo o que está por vir, mas guiando os espectadores a acreditar em outro desfecho. Essas reviravoltas inteligentes deixam uma marca duradoura e proporcionam uma experiência que faz o público refletir muito além dos créditos finais.
O Grande Truque
Christopher Nolan é um dos diretores mais renomados da indústria cinematográfica, conhecido por levar seus filmes em direções surpreendentes e inovadoras. Em 2006, quando O Grande Truque (The Prestige) foi lançado, era difícil prever o que esperar, especialmente considerando que o único outro projeto amplamente conhecido do diretor na época era Batman Begins. No entanto, com talentos excepcionais como Hugh Jackman e Christian Bale liderando o elenco, eu sabia que precisava conferir.
À medida que o filme avança, a rivalidade entre os mágicos interpretados por Jackman e Bale se desenrola de forma brilhante e envolvente. A busca obsessiva de ambos por aperfeiçoar seus truques culmina no impressionante truque do ‘Homem Que Desaparece’. No entanto, o verdadeiro impacto do filme se revela no terceiro ato, onde Nolan dá uma reviravolta inesperada. O personagem de Jackman alcança o auge de sua perfeição mágica, enquanto o de Bale enfrenta um destino trágico.
Nada poderia ter me preparado para a revelação horrível e chocante sobre como o truque foi realizado. A maneira como Nolan revela essa verdade, com suas camadas de complexidade e mistério, faz de O Grande Truque uma experiência cinematográfica inesquecível e impressionante. O Grande Truque está na Max.
Garota Exemplar
Garota Exemplar, um thriller psicológico dirigido por David Fincher em 2014, é um exemplo magistral de como um filme pode oferecer reviravoltas surpreendentes e manter o público na ponta da cadeira. A trama começa com o desaparecimento de Amy, interpretada por Rosamund Pike, e um marido, Nick, vivido por Ben Affleck, que parece ser o principal suspeito do crime. No entanto, o filme não se contenta em oferecer apenas algumas reviravoltas ao longo do caminho.
Embora a primeira grande reviravolta — o fato de Amy aparecer viva e bem na metade do filme — seja surpreendente, ela não é a mais impactante. A verdadeira inovação está na complexidade da manipulação que Amy exerce. Inicialmente, ela planejou uma fuga meticulosamente elaborada, que tinha como objetivo incriminar Nick pelo seu assassinato e levá-lo a uma sentença de morte. No entanto, quando Amy retorna, sua estratégia se torna ainda mais complexa e perturbadora, pois ela encontra novas maneiras de manipular e controlar o destino de ambos.
A forma como Amy manipula os eventos e as pessoas ao seu redor cria uma sensação de desconforto físico e psicológico no espectador, refletindo a profundidade e a crueldade de suas ações. O filme faz com que cada momento de tensão seja palpável, revelando a intricada rede de mentiras e estratégias que tornam a história de Garota Exemplar uma experiência cinematográfica inesquecível. Garota Exemplar está na Disney+.
Clube da Luta
Embora eu não tivesse idade suficiente para assistir a Clube da Luta (Fight Club) nos cinemas quando foi lançado em 1999, o filme já havia alcançado um status lendário. Quando finalmente chegou ao meu radar, eu sabia que precisava vê-lo por conta própria. Felizmente, o longa-metragem de David Fincher foi envolto em um manto de mistério, com o famoso lema “Você não fala sobre Clube da Luta” ajudando a preservar a surpresa do final. Isso significava que a maioria das pessoas evitava revelar qualquer detalhe crucial da trama.
Apesar de estar ciente de que uma grande reviravolta estava por vir, a disparidade entre os dois protagonistas do filme desviava qualquer pista sobre o desfecho. O filme é repleto de atores excepcionalmente talentosos, que cativam o público desde o início. Enquanto o Narrador, interpretado por Edward Norton, descreve sua vida vazia e seus móveis da Ikea, Tyler Durden, vivido por Brad Pitt, se torna a peça central da história, com um carisma e uma aura de mistério que evitam que os espectadores questionem por que o personagem de Norton nunca é nomeado.
À medida que o filme avança para seu clímax e a verdade é finalmente revelada, o impacto da reviravolta já está solidificado. O enredo, hábil e intrigante, garante que o efeito da revelação seja profundo e memorável, deixando uma marca duradoura. Clube da Luta está na Netflix e Disney+.
Parasita
Parasita é uma verdadeira montanha-russa de emoções, um thriller psicológico dirigido pelo aclamado Bong Joon-ho. A trama acompanha a trajetória de uma família que vive em condições modestas e sonha desesperadamente em ascender socialmente. Embora sobrevivam através de esquemas menores, uma oportunidade surge quando o filho encontra um trabalho que parece ser a solução para os problemas da família.
Grande parte do filme foca nas maneiras engenhosas com que a família Kim se infiltra na vida da rica família Park. O filho assume o papel de tutor, e pouco a pouco seus familiares são recomendados para ocupar outros cargos na casa, criando uma rede de manipulação. À medida que o filme progride, a tensão aumenta de forma quase imperceptível, culminando em um ato final surpreendente e eletrizante.
O ponto de virada ocorre quando um segredo enterrado literalmente sob a casa dos Park é revelado — um apartamento escondido, onde outra camada de manipulação e desespero é exposta. A família Kim percebe que não são os únicos a explorar a ingenuidade da família rica, e esse choque de interesses desencadeia uma série de eventos que levam a uma conclusão rápida, brutal e inesquecível. Parasita está na Max.
A Origem
Em 2010, Christopher Nolan lançou A Origem, seu grande projeto após a trilogia Batman: O Cavaleiro das Trevas, e o filme provou ser tão inovador quanto emocionante. A Origem explora um conceito fascinante: um grupo de especialistas altamente qualificados é capaz de navegar pelos sonhos e implantar ideias nas mentes das pessoas, um processo conhecido como “inceptar”. Embora a narrativa seja complexa e cheia de camadas, o final é o que realmente se destaca, sendo ao mesmo tempo notável e impactante.
Para um filme que passa tanto tempo investigando as origens dos pensamentos e o que constitui a realidade, a cena final é uma reviravolta que deixa uma marca duradoura. Desde a revelação de que Cobb (Leonardo DiCaprio) foi o responsável por implantar a ideia de que a realidade é um sonho na mente de sua esposa, até a dúvida persistente sobre o que é real e o que não é, o desfecho do filme mantém o espectador em suspense. A famosa cena da rotação do peão, que se torna o símbolo dessa incerteza, deixa o público intrigado e debatendo sobre a verdadeira natureza da realidade muito tempo depois dos créditos finais. A Origem está na Max.
Janela Secreta
Em 2004, David Koepp, roteirista de sucessos como Jurassic Park e Missão: Impossível, adaptou e dirigiu uma história de Stephen King estrelada por Johnny Depp. Com esses ingredientes, o filme parecia destinado ao sucesso. No entanto, Janela Secreta recebeu críticas mistas e uma bilheteria modesta em seu lançamento. Apesar disso, o filme é uma obra subestimada, repleta de narrativas inteligentes e cenas habilmente construídas que merecem mais reconhecimento.
O desfecho de Janela Secreta revela a perturbadora verdade sobre Mort Rainey, personagem de Depp, que sofre de transtorno de identidade dissociativo. Essa revelação mostra que os personagens de seus romances começaram a invadir sua vida real. A comunicação com o misterioso John Shooter, que parecia ser o antagonista da trama, era, na verdade, uma manifestação da própria mente fragmentada de Mort. O final, além de desvendar essa verdade, sugere de maneira inquietante as consequências de suas ações, conduzindo a uma reviravolta sombria e memorável. Janela Secreta está no Prime Video.
A Órfã
Em 2009, o filme de terror psicológico A Órfã foi lançado e trouxe consigo uma das histórias mais chocantes e perturbadoras do cinema. A trama segue uma menina de 9 anos, Esther, que é adotada por uma família amorosa após a trágica perda de seu terceiro filho. No entanto, desde o momento em que Esther chega à casa, eventos estranhos e inquietantes começam a acontecer. O filme constrói uma atmosfera tensa, explorando os segredos sombrios da nova integrante da família.
A grande reviravolta do filme — que Esther não é realmente uma criança, mas uma assassina em série de 33 anos que escapou de um asilo — é revelada de forma devastadora. Sua aparência infantil esconde um passado violento e manipulações friamente calculadas. Embora o filme sugira desde cedo sua natureza perigosa, é apenas com essa chocante revelação que todas as peças se encaixam, tornando os eventos anteriores ainda mais perturbadores. O confronto final entre Esther e sua mãe adotiva culmina em uma das cenas mais intensas e impactantes do gênero, deixando o público em choque até o último momento. A Órfã está na Max.
A Outra História Americana
A Outra História Americana (American History X) é um filme poderoso e devastador que aborda o racismo e como pessoas podem ser levadas a adotar crenças extremistas. A história segue Danny, um jovem que se envolve com um grupo de supremacistas brancos, influenciado por seu irmão mais velho, Derek, interpretado por Edward Norton. Derek, que cofundou o grupo, cumpre pena na prisão após assassinar brutalmente dois homens, mas sua experiência atrás das grades provoca uma mudança profunda em sua mentalidade.
Ao sair da prisão, Derek tenta desesperadamente salvar Danny do mesmo caminho destrutivo, expondo as falhas e a hipocrisia dentro da ideologia racista que ele uma vez defendeu. Sua jornada para redimir o irmão mais novo é tocante e cheia de tensões, à medida que ambos confrontam o ódio que moldou suas vidas. No entanto, apesar dos esforços de Derek para guiar Danny em uma direção mais positiva, o filme culmina em uma tragédia devastadora. Danny é morto por um garoto que ele havia atacado no dia anterior, um desfecho brutal que ilustra como as sementes da violência e do ódio podem ter consequências irreversíveis, mesmo quando se busca a redenção. A Outra História Americana está Prime Video.
Midsommar
O filme de terror folclórico Midsommar, estrelado por Florence Pugh, é uma obra visualmente deslumbrante e profundamente perturbadora. A trama acompanha um grupo de amigos que viaja para um festival de verão na Suécia, organizado por uma comunidade aparentemente naturalista e acolhedora. No entanto, conforme o filme avança, as práticas inquietantes e rituais sombrios do culto são gradualmente revelados. Desde o início, há sinais alarmantes sobre o comportamento dos membros da comunidade, mas o grupo de protagonistas permanece envolto em uma falsa sensação de segurança, incapaz de reconhecer plenamente o perigo iminente.
A virada mais chocante ocorre no ato final, quando Dani, interpretada por Pugh, se torna uma figura central nas celebrações do culto e recebe a responsabilidade de escolher o sacrifício final. Depois de ser emocionalmente devastada pela traição de seu namorado, Christian, ela decide que ele será o escolhido. O clímax do filme é uma combinação visceral de beleza e horror, enquanto o sacrifício é realizado de maneira excruciante e detalhada. As imagens e o simbolismo desse momento permanecem gravados na mente do espectador, uma lembrança perturbadora do poder da manipulação e do desespero emocional que permeia a narrativa. Midsommar está no Prime Video.
Ilha do Medo
A última entrada notável vem de 2010, com Shutter Island, dirigido por Martin Scorsese. O filme traz Leonardo DiCaprio no papel de Teddy Daniels, um marechal dos EUA que é enviado para investigar o desaparecimento de uma prisioneira em um hospital psiquiátrico isolado. Acompanhado por seu parceiro, Chuck Aule, interpretado por Mark Ruffalo, Daniels explora a misteriosa ilha enquanto interroga os poucos funcionários restantes e tenta desvendar os segredos do lugar.
À medida que a trama se desenrola, o filme mergulha em territórios sombrios e perturbadores, com Daniels lutando para compreender os eventos e as evidências que parecem cada vez mais desconexos. No entanto, a verdade aterradora emerge aos poucos: Teddy Daniels é, na realidade, Andrew Laeddis, um paciente do próprio hospital. Toda a investigação que ele acreditava estar conduzindo era parte de uma terapia elaborada para confrontá-lo com a realidade de seus próprios crimes e sua condição mental.
O clímax devastador do filme chega quando, em um momento de clareza impressionante, Laeddis reflete sobre seu destino com uma pergunta ambígua: “É melhor viver como um monstro ou morrer como um homem bom?”. Pouco depois, ele é levado para ser lobotomizado, deixando o público questionando o que realmente significa escolher entre a sanidade e a ilusão. Ilha do Medo está na Netflix.
