Sobrevivência

Crítica – Amor e Monstros

Aventura pós-apocalíptica da Netflix tem sustos, graça, mas principalmente, muito coração para tempos pandêmicos.

Hollywood, vez ou outra, entrega alguns projetos que são minimamente curiosos, por vários aspectos. Vejamos, Amor e Monstros, produção original do serviço de streaming Netflix: primeiro, um filme pós-apocalíptico com insetos gigantes; segundo, uma narrativa que sinaliza de modo cirúrgico o espírito do tempo, chamado zeitgeist; e por último, um projeto de orçamento curto, em comparação com outras produções deste tipo.

Pelas mãos, cabeça e coração do cineasta Michael Matthews avistamos um achado raro da indústria cinematográfica. Um filme capaz de tensionar os músculos, fazer sorrir com minúcias, e mais que tudo, emocionar genuinamente. Especialmente, na era da pandemia, que nos obriga a ficarmos distantes daqueles que amamos.

Amor e Monstros nos situa em um mundo infestado por criaturas enormes, onde Joel (Dylan O’Brien) sobrevive em uma colônia debaixo da terra. Porém, cansado de se sentir sozinho num refúgio rodeado de casais, toma a decisão de tentar reencontrar Aimee (Jessica Henwick), seu antigo amor que não vê já faz sete anos. Agora, na busca de estar com a garota dos seus sonhos, Joel terá que enfrentar perigos de todos os tipos, além de encontrar o herói dentro de seu espírito.

Fim dos tempos

Se for possível estabelecer um comparativo para tentar entendermos o que é o projeto da Netflix dirigido por Michael Matthews, temos que voltar pouco mais de dez anos no tempo, mais precisamente em 2009, quando Ruben Fleischer nos entregou o divertidíssimo Zumbilândia.

No caso, ambos são os típicos filmes que conseguem entregar o entretenimento que se espera deles, cada um na sua raia, Zumbilândia com zumbis e Amor e Monstros com bestas asquerosas, mas que acima disso, edificam via terror, humor e amor.

Isto só acontece, e com tamanha intensidade, pela presença de corpo e alma do protagonista interpretado por Dylan O’Brien, mundialmente conhecido como o astro da série Teen Wolf e da franquia cinematográfica Maze Runner. O’Brien tem charme e um discurso assertivo, mas em formas desconjuntadas pelos traumas e perdas que presenciou em sua curta vida.

Existem dois momentos na projeção, que tanto ator quanto diretor harmonizaram de modo sublime:

Quando Joel após passar por um perrengue daqueles, se abriga em uma casa caindo aos pedaços junto de seu companheiro canino Boy, e se depara com um robô chamado Mav1s que oferece ao jovem uma segunda chance de dizer e sentir aquilo que não teve a oportunidade no passado; e, na parte final, quando se comunica via ondas de rádio com sua colônia.

Nesse momento, cada um de nós, que está sobrevivendo dia após dia na pandemia, terá a chance de sentir o valor que é o que fazemos diariamente, e de que nossa trajetória é um ato heroico contínuo. Se sentir o nó na garganta, tudo bem, está sendo forte e resistente já faz muito tempo.

Grata surpresa

Para os amantes de filmes sobre monstros e outras coisas repugnantes, Amor e Monstros da Netflix é um deleite. De modo que, por mais que esses insetos, anfíbios e crustáceos gigantes tenham sido criados no computador, sua aparência é extremamente realista, além de bem assustadora por vezes.

Michael Matthews teve na carteira um orçamento de 30 milhões de dólares, que por mais absurdo que possa imaginar, é um número baixo para produções deste tipo. O cineasta de origem sul-africana conseguiu criar dentro de sua proposta, um universo expansivo pelo uso das paisagens naturais, além de exaltar alguns momentos de beleza estonteante, contrastando com o terror da morte certa pelo o que se encontrava debaixo do chão.

Dá para pegar um pouco da mesma vibe do cineasta Guillermo del Toro, que costuma se divertir criando diferentes formas de monstrengos para o cinema, incluindo o cuidado com a expressão facial, em particular, os olhos.

Salvação

Amor e Monstros da Netflix deixa uma marca, sim. Ainda mais, se estiver de peito e mente aberta para adentrar de cabeça em um mundo que parece não ter redenção, mas tem!

Como fazer para conseguirmos isso? Acreditar que pelo caminho do amor, ninguém se machuca. Claro, deixamos coisas e pessoas pelo caminho, mas se a jornada tem como seu norte este valor maior, nunca estará só.

E também, que um bom tanto de olho no olho pode auxiliar perceber qual a decisão correta para cada um, e para cada momento.

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