A vida de Amy Winehouse não foi um mistério. Entre seus grandes sucessos (Rehab, Valerie, Back to Black) e seu relacionamento tóxico e movido a drogas, a mídia acompanhava cada movimento dela. Não por acaso, o filme Back to Black toma certas liberdades criativas.
A cobertura super saturada da mídia em cima de Winehouse levou a diretora Sam Taylor-Johnson em outra direção. Depois de passar dois anos e meio pesquisando sobre sua famosa protagonista para o filme Back to Black, ela simplesmente retornou aos álbuns da cantora.
“Tudo sobre Amy era tão voyeurístico, aquela terrível e constante dissecação de sua vida”, diz ela sobre a cantora e compositora, que morreu de intoxicação alcoólica aos 27 anos em 2011. “Achei que era hora de voltar à música. Suas letras poderiam contar sua história.”
Mas Taylor-Johnson ainda teve que fazer escolhas artísticas sobre como representar episódios da vida bem documentada de Winehouse de uma maneira que permitisse a licença criativa sem se desviar da história verdadeira.
Confira, abaixo, algumas coisas que o filme com Marisa Abela retrata com veracidade acerca da vida de Amy Winehouse e outras que são pura ficção, ou foram alteradas.
Fielder-Civil não a apresentou às Shangri-Las
Em uma das cenas cruciais do filme, Winehouse conhece Blake Fielder-Civil em um pub e fica instantaneamente encantada. Isso é retratado com bastante precisão até ele colocar Leader of the Pack na jukebox e dançar ao redor de uma mesa de bilhar enquanto canta junto. A Amy do filme nunca tinha ouvido falar delas. “A melhor banda feminina dos anos 60!”, ele diz a ela. “Tudo é empolgação, atmosfera… como posso dizer isso? Turbulência emocional.”
Ela se torna uma grande fã, e a rara faixa de 1966 das Shangri-Las, Dressed in Black, toca mais tarde quando ela transa com Fielder-Civil pela primeira vez.
Funciona bem, já que Fielder-Civil é como um bad boy saído de uma canção das Shangri-Las, e ela é como uma de suas heroínas trágicas. Mas não há nenhuma evidência de que Fielder-Civil a apresentou ao grupo. É completa ficção.
Ele, no entanto, apresentou Winehouse ao crack e à heroína.
Fielder-Civil admitiu várias vezes ao longo dos anos que introduziu Winehouse ao crack e à heroína. No filme, ela recorre às drogas pesadas sozinha enquanto lida com o luto pela morte de sua mãe e o tumulto de seu relacionamento com Fielder-Civil.
Winehouse se separou de Fielder-Civil em 2009
Amy do filme visita Fielder-Civil na prisão logo após sua apresentação em Glastonbury. Ela está radiante em vê-lo, mas ele a destrói dizendo que eles precisam se divorciar. “Tive um momento de clareza, como dizem”, ele diz. “Não podemos ficar juntos. Quero o divórcio. Um conselheiro aqui me disse que somos codependentes tóxicos. Competimos para nos destruir e fazer o outro se sentir uma merda com o tipo de coisa ‘qualquer coisa que você faça, eu posso fazer melhor’, como drogas e automutilação… Somos viciados em drogas, Amy.”
É difícil imaginar o Fielder-Civil da vida real declarando sua situação em termos tão francos, mas o verdadeiro problema aqui é a linha do tempo: a separação deles ocorreu cerca de um ano depois.
Apresentação de Winehouse em Glastonbury na vida real foi ainda mais caótica
O show caótico da cantora em Glastonbury em 2008 é um momento importante no filme. Eles pulam muitos de seus discursos infames (“Imagine se eu fosse um merd* como Kanye West”), mas ela é mostrada pulando sobre barreiras e interagindo com os fãs durante Me & Mr. Jones.
O filme corta antes do final de Rehab, quando ela deu uma cotovelada em alguém na plateia que supostamente apalpou seu seio.
O show em Glastonbury também ocorreu após o Grammy
O show desastroso de Winehouse em Glastonbury aconteceu em 28 de junho de 2008. Ela ganhou o Grammy de Álbum do Ano em 10 de fevereiro de 2008.
O filme apresenta esses eventos em ordem inversa para dar a ela um triunfo perto do final da história.
Ela agradeceu a “Blake encarcerado” no Grammy
O filme vai a grandes extremos para recriar a performance remota de Rehab de Winehouse no Grammy de 2008, junto com seu discurso de aceitação, acertando pequenos detalhes de seu vestido e joias.
Mas como eles moveram a linha do tempo da separação dela com Fielder-Civil de 2009 para algum momento em 2007 ou início de 2008, tiveram que cortar a parte do discurso onde ela agradece “Meu Blake, meu Blake encarcerado.”
A expressão única é a parte mais memorável do discurso, e é estranho ouvi-lo sem essas linhas.
Fielder-Civil não foi o único amor de Winehouse
Por razões compreensíveis, Fielder-Civil é o único interesse amoroso de Winehouse a receber algum tempo significativo na tela. Isso porque seu relacionamento abrangeu os anos mais notáveis da vida de Winehouse, ele inspirou muitas de suas canções mais amadas, e toda a história foi acompanhada diariamente pelos tablóides.
Ele também foi o único com quem ela se casou. Mas Winehouse namorou o compositor Alex Clare, o ator Josh Bowman e o diretor Reg Traviss também. Ela até teve um breve caso com Pete Doherty. O filme faz parecer que Fielder-Civil foi o único homem que ela amou — isso simplesmente não é verdade.
Seus últimos anos tristes são minimizados
Os últimos três anos da vida de Winehouse foram um período difícil, marcado por shows desastrosos, histórias intermináveis de seus abusos de drogas nos tablóides e uma completa falta de novas músicas.
O filme ignora tudo isso e simplesmente termina em um momento vago, depois que ela adicionou mechas brancas ao cabelo, quando ela está olhando fotos antigas em sua casa.
Ela coloca Leader of the Pack em uma jukebox, enxuga uma lágrima, olha para a tatuagem de Blake em seu peito e canta uma versão de Tears Dry On Their Own, antes de desaparecer por uma escada branca. Uma cartela revela a data da morte de Winehouse, mas não entra em detalhes.