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Clássico do cinema americano, Love Story se despede dos palcos do Rio de Janeiro

Os apaixonados por cinema certamente irão se lembrar Love Story, longa dos anos 70 que conta a história de um casal que luta pra ficar juntos, mas que a família, a religião e uma doença que juntos podem por fim a este romance. Graças ao diretor Tadeu Aguiar e ao jornalista e comentarista da Globo News, Arthur Xexéo, o filme americano se tornou um musical de sucesso nos palcos da cidade maravilhosa. 
 
Em entrevista ao Observatório do Cinema, o ator Fabio Ventura, protagonista da história, conta detalhes da peça, do seu personagem e dos filmes que mais gosta. Em Love Story – O Musical o elenco é formado apenas por atores negros. Fabio canta, dança, interpreta e possuí uma extensa carreira. 
 
Ventura já integrou o elenco de “A Arca de Noé”, “Cambaio” – escrito por Chico Buarque e Edu Lobo com direção de João Falcão e direção musical de Lenine -, “Rita Lee Mora Ao Lado”, “Priscila, Rainha do Deserto”, “Elis, Estrela do Brasil”, “O Bem do Mar”, “Tom & Vinícius” e “Império”, de Miguel Falabella e Josimar Carneiro, além de parcerias com Diogo Vilela e Roberta Sá.
FV1 Lucio Luna
Como você se preparou para protagonizar no teatro um clássico do cinema americano? 
 
O primeiro desafio foi dar a de vida maturidade ao personagem sem que isso o deixasse mais velho. Na época em que se passa o filme os jovens eram mais maduros se comparados aos adolescentes dos dias de hoje. Me inspirei em grandes clássicos românticos onde os personagens enfrentaram tudo para que pudessem seguir em frente e o amor prevalece-se. Em clássicos,como E o vento Levou, Romeu e Julieta, Moulin Rouge existe a paixão avassaladora e a difícil questão da perda.
 
Assistiu o filme? E quais características podemos encontrar na peça que existe e que não existe no longa? 
 
Assitia ao filme três vezes durante as etapas de audição. As semelhanças entre a peça e o filme são grandes. A história se passa na mesma época seguindo no mesmo local e com os mesmos personagens. Se mantém com rápidas e dinâmicas passagens de tempo e o clima de romance e alegria percorre por todo espetáculo até a virada final. A característica mais marcante que difere o filme do espetáculo talvez seja a questão musical. Na peça existem doze canções inéditas. Até mesmo o famoso tema Where do I begin é apresentado de forma diferente, incidentalmente, no momento do Recital.
 
O elenco é formado apenas por atores negros. Como chegaram a essa concepção? 
 
Existe uma grande necessidade de mudança no perfil de escolhas e distribuição de personagens em nosso país. Posso dizer seguramente que ao longo de toda minha carreira jamais havia testemunhado que um elenco afrodescendente subisse ao palco para interpretar personagens que antes jamais haviam sido imaginados/criados para atores/atrizes negros. Essa oportunidade foi possível quando no início do processo de seleção, o diretor Tadeu Aguiar percebeu que diante de centenas de bons currículos a maioria dos atores que havia se interessado eram negros. Automaticamente uma reflexão se faz inevitável. E se você for comparar a versão brasileira do musical com o filme e outras montagens do mesmo espetáculo mundo afora você vai ver que nenhum ator afrodescendente foi escolhido para dar vida aos personagens principais. Por que não? 
 
Essa é a segunda temporada no RJ. Foram feitas mudanças em relação à primeira? Como tem sido a reação dos espectadores? 
 
Algumas pequenas mudanças de cenário se fizeram necessárias devido a diferenças no tamanho do palco. Outras surpresas e mudanças em alguns números musicais! É de fato gratificante ver como a maioria do público se entrega por completo ao longo do espetáculo e se permite a emoção junto aos momentos finais dos personagens. Jamais irei esquecer a pré-estréia nacional no FITA( Festival Internacional de Teatro em Angra), onde toda a platéia – mais de 1.200 pessoas – aplaudia calorosamente e a longa primeira fileira aplaudia aos prantos entre lágrimas e sorrisos. Isso tem se repetido nas duas temporadas e o carinho do público ao final do espetáculo é sem dúvida o maior que já vivi até então.
 
Como define o seu personagem? 
 
O Oliver é encantador e mais que um presente. Uma oportunidade de evolução para o meu trabalho. É um garoto forte, duro e cheio de questões no início da história. Seu bom coração e sua vontade de aprender com sua amada Jenniffer permitem que ele cresça, erre, evolua e termine a peça completamente diferente de como começou. Ele é um desafio. Pois para tais mudanças em tão pouco tempo e rápidas viradas de cena é preciso entrega total e muita sensibilidade.
 
É possível encontrar nos dias atuais características do dilema sofrido pelo casal na história?
 
Sim. Claro! As adversidades fazem parte da vida. E quando se trata do ser humano tudo é possível. O casal bate de frente com o preconceito, choque de gerações e valores dos pais. Ainda é muito comum hoje em dia famílias se dividindo por questōes raciais, de orientação sexual, credo etc. Além disso, infelizmente, ainda vemos muitos casais sofrerem não somente com questões de saúde, como a casal da peça, mas com doenças urbanas como a violência, que são a causa de muitas perdas.
 
Como lida com o preconceito? 
 
Da forma mais atenta possível. É preciso estar atento para não acabar fazendo com o próximo o que a gente não quer que façam conosco.Não me tornei um militante. Mas certamente o fato de já ter passado por diversas situações de preconceito, que mudaram a minha vida, me fizeram ficar mais consciente, lúcido e interessado em fazer o possível para que todos levem uma vida justa. No meu caso, a arte e a informação são o meu instrumento.
 
Acredita que o cinema, a TV e o teatro podem abordas temas importantes e levar ao público formas diferentes de observar um tema ou forma uma opinião?  
 
Sem dúvida! Nosso dever é informar, levantar questões, tirar o espectador do lugar comum. É preciso entreter também, mas não se pode parar por aí. Nosso ofício é de extrema responsabilidade, o que o torna mais poderoso. 
 
Quais os seus filmes preferidos?  
 
E o Vento Levou, Moullin Rouge, Sunset Boulevard, A Cor Púrpura.
 
Próximos projetos? 
 
Vou voltar a rodar um filme sobre um personagem icônico da música popular brasileira, acredito que até o fim deste ano. Para o ano que vem, estou aberto a novos projetos, mas já pesquiso o desenvolvimento de um novo show solo. Ainda estou trabalhando no tema e nas parcerias.
 

Serviço:

“Love Story – O Musical” – Teatro Fashion Mall
Até 23/10, sextas e sábados às 21h, domingos às 20h
Ingressos: Entre R$35 e R$90. Classificação: 10 anos. Duração: 90 minutos.
Elenco: Fabio Ventura, Kakau Gomes, Sergio Menezes, Ronnie Marruda, Flavia Santana, Ester Freitas, Rafaela Fernandes, Emilio Farias, Suzana Santana, Rai Valadão, Caio Giovani

Versão: Artur Xexéo
Direção: Tadeu Aguiar
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