A viagem no tempo sempre foi uma premissa rica para filmes de mistério e suspense, e Corte no Tempo não foge à regra. A nova produção da Netflix traz uma narrativa intrigante e cheia de mistérios envolvendo viagem no tempo, serial killers e destinos alternativos.
A trama segue Lucy Field (Madison Bailey), que, por acidente, viaja para o passado, mais precisamente para 2003, no primeiro dia do reinado de terror de um assassino em série. A surpresa é que sua irmã, Summer (Antonia Gentry), que foi uma das vítimas do criminoso naquele ano, ainda não tinha sido assassinada. A missão de Lucy se torna clara: usar sua ida ao passado para salvar Summer e evitar a tragédia que a levou.
O grande problema é que, ao tentar mudar o passado para salvar Summer, Lucy acaba criando uma série de eventos que deixam lacunas que parecem passar despercebidas por muitos. Há um erro crucial que parece ter sido ignorado por muitos: o impacto da viagem no tempo sobre a linha do tempo original de Lucy e suas consequências.
Ao longo da história, o amigo de Lucy, Quinn, a alerta sobre os perigos de mudar o passado. E, no fim, a jornada de da personagem parece validar o que ele disse: ao tentar salvar Summer, ela inadvertidamente criou um novo caminho que afetou não apenas a ela, mas também seus pais.
A falha não está no enredo como um todo, mas na falta de explicações mais detalhadas sobre o impacto da viagem no tempo na linha temporal original de Lucy. Ao salvar Summer, ela não só altera o curso da história, mas também sua própria existência, um paradoxo que o filme não explora a fundo.
O que acontece com a linha do tempo ode Lucy?
Logo no início do filme, o espectador é apresentado a uma versão de Lucy em 2024, que visita o memorial de sua irmã Summer, vítima do assassino em série de 2003. Nesse momento, Lucy encontra uma máquina do tempo que a transporta diretamente para aquele ano, sem deixar rastros em sua linha do tempo original.
Esse desaparecimento cria uma grande lacuna, que passa despercebida ao longo da narrativa, mas que tem um peso significativo para os pais da protagonista, que já haviam perdido uma filha para o assassino e agora perderiam outra sem explicação. A dor de perder mais uma filha é uma omissão importante que não é explorada no filme e a angústia dos pais de Lucy, que já estavam devastados pela perda de Summer, é algo que fica em aberto.
Quando o filme chega ao seu clímax, e Lucy impede o assassinato de Summer, uma nova linha do tempo é criada. Nesse novo futuro, Lucy nunca nasceu. Seus pais, agora, não a reconhecem. No entanto, diferente dos pais distantes que a personagem tinha em sua linha do tempo, na nova realidade, os pais de Summer são mais felizes, mais presentes, e se importam com a vida de Lucy (mesmo sem saber quem ela é).
A personagem finalmente tem os pais que sempre quis, aqueles que a apoiam e se importam com sua vida, mas isso só é possível porque, na nova linha do tempo, ela nunca existiu. O filme, porém, não explora como seria o impacto emocional da perda de Lucy para os pais, que agora não sabem nem quem ela é. Esse buraco na narrativa, que não dá o devido peso à perda de mais uma filha, torna-se um erro importante que poucos críticos mencionaram, mas que é essencial para compreender as verdadeiras consequências de suas ações.
Para além disso, a grande ironia do filme é que, para que Lucy tivesse os pais que tanto desejou, ela precisou não existir. Essa reviravolta traz uma tragédia silenciosa para o enredo. Lucy agora vive com os pais que sempre quis, mas isso só é possível porque sua própria existência foi apagada. Ao tentar corrigir o erro do passado, ela cria uma dor ainda maior para si, uma dor invisível para seus pais, que nunca souberam o que perderam.
O filme também não faz justiça ao dilema de Quinn, amigo de Lucy, que a avisa sobre as complicações de viajar no tempo. Embora o enredo confirme que mudar o passado pode ter consequências irreversíveis, a nova linha do tempo criada por Lucy é tratada como algo positivo, sem refletir sobre as profundezas emocionais de tudo o que foi perdido.
O dilema do futuro alterado
Ao longo do filme, Corte no Tempo levanta uma questão complexa sobre como pequenas mudanças no passado podem gerar consequências inimagináveis. Embora a história de Lucy seja emocionante e envolvente, o fato de que a série de eventos que ela desencadeia ao salvar Summer é deixada sem um tratamento mais profundo sobre o impacto em sua própria vida e na vida de seus pais enfraquece a premissa do filme.
O que é curioso é que, ao focar apenas no reencontro de Lucy com os pais e na felicidade do passado, o filme ignora o fato de que a realidade original, com todos os seus traumas, desapareceu.
O dilema do tempo é central para a história, mas a falta de uma explicação sobre o que realmente aconteceu com a primeira realidade que vimos, e como ela afeta suas relações familiares, é algo que deixa o espectador com mais perguntas do que respostas.
Apesar dessas falhas, Corte no Tempo é uma experiência de entretenimento, com uma narrativa instigante e com muitos momentos emocionais. Para quem é fã de produções que lidam com viagens no tempo e suas complicações, o filme ainda oferece um bom show, mas não podemos deixar de notar o erro que acaba sendo deixado de lado por grande parte da audiência.
Corte no Tempo já está disponível na Netflix.