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Crítica | 10 Segundos Para Vencer

A vida de um atleta pode ser uma grande fórmula, com altos e baixos que rendem experiências emocionantes no cinema, e isso é visto frequentemente com boxeadores. Touro Indomável, Ali e O Vencedor são ótimos exemplos que vem à mente, com representações muito diferentes de lutadores reais. No Brasil, temos documentários como o recente A Luta do Século, mas pouca dramaturgia focada no esporte. Eis que chega 10 Segundos para Vencer, filme de José Alvarenga Jr. que adapta a história de Éder Jofre, primeiro brasileiro a entrar no Hall da Fama do Boxe em 1992.

São quase cinco décadas antes quando o jovem Éder ainda sonhava em ser desenhista. Enquanto isso, seu pai, o treinador argentino Kid Jofre (Osmar Prado), preparava Waldemar Zumbano (Ricardo Gelli) para lutarem na América. Zumbano, no entanto, teve problemas com a bebida e estragou suas chances de lutar no exterior após uma violenta briga de bar. Quando os sonhos de Kid pareciam arruinados, Éder se levanta à ocasião e pede ao pai que o transforme em seu novo campeão.

Uma década se passa após esse prólogo e Éder (Daniel de Oliveira), já adulto e bem treinado, se vê diante da possibilidade de estudar Arquitetura no exterior. O rapaz, no entanto, decide agradar a Kid e larga a oportunidade para manter a prática no boxe, assumindo treinamentos cada vez mais intensos para chegar à América. Chegando lá, emplaca uma série de lutas e se torna campeão, até que um dia sucumbe à pressão do título e dos intensos treinamentos. Casado e com um filho a caminho, escolhe a vida pessoal e decide se aposentar do boxe aos 30 anos.

Como muitos devem saber, a carreira de Éder no boxe não parou por aí, e 10 Segundos Para Vencer vai além e retrata seu retorno ao esporte, deixando a sensação de que são dois filmes em um. O primeiro é muito mais inocente na convicção do protagonista, quase como um filme de herói ao apresentar o ringue como um espaço ocupado por deuses – antes de Éder subir no tablado, a câmera sempre enquadra as lutas de baixo para cima, exaltando os outros lutadores. Mesmo quando sofre para se tornar campeão, o longa mostra o esforço do protagonista de maneira romantizada.

O segundo filme, no entanto, tem menos paixão. Retratando os meses finais da aposentadoria de Éder, mostra um homem cansado e abatido pela pressão que veio com sua fama. É interessante ver que seu maior sonho se transformou, por um momento, em um pesadelo, criando uma dinâmica diferente da habitual nos filmes de esporte. Kid continua a tentar convencê-lo a voltar a ser o “Galinho de Ouro” que botou o Brasil no mapa do boxe, porém faz isso com a mesma rispidez de sempre. Desempregado, Éder deve lutar contra seu medo da pressão para recobrar a reputação nos ringues.

Escrito por Thomas Stavros e Patrícia Andrade, o roteiro deixa a impressão de que essa história funcionaria melhor em um formato mais longo, e não me espantaria caso 10 Segundos Para Vencer ganhasse uma versão em minissérie na TV. Como um longa-metragem de quase duas horas, a primeira parte do triunfo tem mais tempo de tela que a segunda, focada na decadência, o que consequentemente deixa a volta por cima de Éder muito corrida. O roteiro faz um ótimo trabalho de nos convencer da pressão imposta por seu pai e de seu desejo por uma vida pessoal tranquila, e por isso mesmo é difícil comprá-lo fazendo as pazes com essas questões em tão pouco tempo.

Ainda assim, 10 Segundos Para Vencer tem uma grande carta na manga, ou melhor, duas: Daniel de Oliveira e Osmar Prado. Poucos intérpretes são tão gostáveis quanto de Oliveira, e seu tom dócil é perfeitamente adequado para o jovem Éder, um sonhador. O ator também convence na segunda fase, com um semblante mais abatido. Prado, por sua vez, domina um papel delicado e cheio de camadas, tornando Kid intimidador sem nunca deixá-lo vilanesco. Sem uma entrega tão afinada quanto a de Prado, merecidamente premiado no Festival de Gramado pelo papel, o personagem poderia ter caído na caricatura.

Com a direção ágil de Alvarenga Jr., fotografia caprichada de Lula Carvalho e um design de produção convincente de Cláudio Domingos, 10 Segundos Para Vencer não faz feio ao lado de produções gringas do boxe. O ótimo trabalho geral de som, por sua vez, faz com que cada soco tenha impacto, o que deve satisfazer os aficionados pelo esporte. Ignorando os problemas estruturais do roteiro, além de uma representação caricatural dos norte-americanos, é um veículo sólido para a história de Éder Jofre, elevado pelos talentos de Daniel de Oliveira e Osmar Prado.

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