Talvez alguns já tenham ouvido falar no nome de Martin Campbell. Caso não tenham, aqui vai uma breve biografia deste profissional do cinema: nascido na Nova Zelândia, ficou conhecido por dirigir a conceituada minissérie britânica No Limite das Trevas (1985), pela qual ganhou um BAFTA (versão britânica do Oscar), A Máscara do Zorro (1998) e os filmes do agente James Bond 007 contra GoldenEye (1995) e 007 – Cassino Royale (2006).
Bom, já deu para ver que ele não é qualquer um. Em algum momento, Martin Campbell foi alguém merecidamente solicitado para assumir o comando de grandes produções hollywoodianas, gerando resultados muito satisfatórios.
Agora, sua história com a franquia 007 é extremamente curiosa, pois dirigiu os longas-metragens de estreia dos dois últimos atores que encarnaram o implacável e charmoso agente britânico James Bond. É (praticamente) indiscutível que o melhor trabalho de Pierce Brosnan representando o heroico espião aconteceu em 007 contra GoldenEye; como também é fato que 007 – Cassino Royale, protagonizado por Daniel Craig, não é apenas um ótimo capítulo, mas um dos melhores trabalhos de toda a série de filmes produzida para os cinemas.
Então, fica a pergunta: será que é o caso de jogar no colo de Campbell novamente uma responsabilidade de dirigir um novo filme de estreia para o próximo ator a interpretar James Bond, seja este quem for?
Tal dúvida pode ser respondida com a ajuda de seu mais recente projeto A Profissional, obra do gênero ação que nos leva até a cidade vietnamita Da Nang quando Anna (Maggie Q), que no passado foi a criança resgatada e treinada nos negócios da família pelo lendário assassino Moody (Samuel L. Jackson), torna-se uma assassina por contrato muito habilidosa. Porém, quando Moody – o homem que era como um pai para ela e lhe ensinou tudo o que ela precisava saber sobre confiança e sobrevivência – é brutalmente morto, ela jura vingança. À medida que Anna se envolve com um assassino enigmático (Michael Keaton), cuja atração por ela vai muito além do jogo entre gato e rato, o confronto se torna mortal e as pontas soltas de uma vida passada repleta de mortes vão se entrelaçar ainda mais.
Competente na ação, indiferente pela história
Melhor entregar logo de cara que A Profissional não representará nada demais pelo enredo proposto. É até natural que enquanto estiver sentado na poltrona assistindo a obra de Martin Campbell, fique tentando puxar pela memória, se já não viu algo parecido assim antes? Ou até mesmo igualzinho?
Portanto, perde alguns pontos pela falta de originalidade, não apenas pela premissa, mas pelos caminhos que toma pelo segundo ato, principalmente.
Exemplos: temos aquele típico personagem que faz a vez de agente duplo, onde em um momento parece estar querendo ajudar a protagonista interpretada por Maggie Q, já em outros parece alguém muito perigoso a cruzar o caminho dela; também temos aquela esperada reviravolta antes do terceiro ato chegar, que só surpreenderá alguém que estiver um pouco mais distraído(a).
A direção de Campbell tenta balancear o drama dos acontecimentos com um pouco de humor, porém, o que em outros longas-metragens dá liga harmoniosamente, aqui parece fora de lugar, mais uma interrupção na trama do que uma busca por um contraste que poderia acrescentar valor à narrativa.
Todavia, se o texto de A Profissional não consegue cumprir sua missão, a câmera comandada por Martin Campbell continua afiada e sabendo o que quer na grande maior parte do tempo, especialmente nas cenas de ação que envolvem mais do que troca de tiros. Nas lutas corpo a corpo, Campbell continua a entregar predicados, simplesmente por acertar em cheio no óbvio, que são: as coreografias ensaiadas pelos dublês e a noção de onde posicionar uma câmera mirando capturar toda a carga energética na troca de socos e chutes.
Salva pelos coadjuvantes
A atriz Maggie Q não é uma estranha quando falamos de cinema de ação. No seu currículo temos participações em filmes, como Missão Impossível 3 (2006), Duro de Matar 4.0 (2007) e Padre (2011), para citar alguns. Também surpreendeu muito pela boa performance na série de suspense político Designated Survivor, disponível na Netflix.
Assim não resta dúvidas que na hora do quebra-pau, ela sabe perfeitamente bem o que está fazendo. Apenas lamenta-se que suas habilidades nas artes marciais sobram, enquanto sua presença de cena, em geral, mostra-se um tanto apagada.
Sorte dela que teve dois coadjuvantes em Samuel L. Jackson e Michael Keaton com estofo de sobra para auxiliar o trabalho dela, tornando a experiência de A Profissional um tanto mais agradável.
Se o elenco tivesse um material melhor em mãos, possivelmente teríamos uma obra que valesse algo para o público, mas sendo como foi, dificilmente alguém se lembrará de ter visto este filme após a sessão.
A pergunta era: se Martin Campbell seria capaz de trazer algo digno para a próxima empreitada do agente 007 com um novo ator no papel de James Bond?
Certamente, não é uma ideia a ser descartada, sempre pontuando que ele precisaria de um roteiro menos quadrado e previsível, ou seja, diferente de A Profissional.