De tantos medos primais – uma de minhas maiores fobias, confesso -, Hollywood tem demonstrado uma incapacidade de explorar satisfatoriamente, ao longo de tantos anos, o oceano abissal como ambientação para filmes de terror e aventura. Se Esfera, Procurando Nemo e, de certa forma, as profundezas de Naboo em A Ameaça Fantasma são os primeiros exemplos que vem à mente por explorarem em algum momento o choque visceral com criaturas marinhas aterrorizantes, é seguro assumir que o subgênero continua limitado.
Portanto, o surgimento de Ameaça Profunda no horizonte de lançamentos ao menos representava, na parte dos espectadores ansiosos por um bom aproveitamento deste ambiente inóspito, um pequeno raio de esperança. Conduzido pelo ainda desconhecido William Eubank, que demonstrou talento para visuais cativantes no inconsistente The Signal, o filme ainda traz Kristen Stewart no posto de protagonista como uma espécie de atrativo ao grande público.
Pena que o projeto falhe, então, em capitalizar sobre quase todos seus elementos promissores. O roteiro encomendado a Brian Duffield e Adam Cozad é o típico trabalho de rip-off descarado que surge a cada dois ou três anos sobre a fórmula de Alien: O Oitavo Passageiro, confinando um elenco enxuto em um ambiente sci-fi claustrofóbico para que lutem por sobrevivência diante de uma ameaça não-humana. Por outro lado, o pano de fundo dramático da protagonista, com ares de Gravidade, não enriquece o material insípido.
Deve-se admitir, ao menos, que os primeiros momentos de Ameaça Profunda despertam alguma empolgação, ou melhor, curiosidade espontânea. Há um cuidado visível com a construção de atmosfera no plano que nos apresenta à personagem de Stewart, tanto na iluminação quanto em desenho sonoro, e o surto de ação desenfreada que logo ocorre se mostra suficientemente caótico além de impressionar no uso de pirotecnias práticas. No entanto, o frenesi não se sustenta e sofre uma queda letal assim que se chega ao desenvolvimento.
A partir disso, as situações enfrentadas pelas personagens, que ainda incluem Vincent Cassel como um capitão melancólico e T.J. Miller assumindo sua persona de alívio cômico irritante, vão se conectando para formar um arremedo de trama, repetindo estruturas de outras obras similares sem quebrar cada uma das etapas em objetivos que rendam cenas e vistas interessantes – em outras palavras, não há recheio que se sustente entre o início e o fim da viagem, dando à jornada um ar de aleatoriedade.
Certos elementos até surgem de forma tão preguiçosa que, caso a proposta solene da fotografia fosse descartada, o resultado remeteria a um curta digital do SNL parodiando este tipo específico de filme que recicla outros bem melhores, chegando inclusive a recriar – convenhamos: imitar – momentos de O Oitavo Passageiro e Aliens, no que pode ser uma tentativa de tributo mas fica apenas como completa falta de criatividade ou esforço da parte dos roteiristas, principalmente quando tantas outras obras já repetiram tais ideias à exaustão.
Nem mesmo a apresentação dos perigos foge deste ar genérico, completamente desprovido de empolgação e novas ideias. Os pequenos encontros que existem aqui e ali com as temíveis criaturas sofrem com uma falta de inventividade em como são apresentadas, além de prejudicadas por um filtro digital excessivo para simular a aparência de água turva, mesmo que este seja empregado provavelmente para ocultar as limitações no trabalho de CGI – e nisso incluo a “boss fight” final.
Entretanto, para além das limitações criativas e algumas técnicas, o maior dos obstáculos de Ameaça Profunda está na teimosia de Eubank em levar-se a sério demais, independente do que está no papel. Se em The Signal o tom “wannabe sci-fi cabeça” já não mesclava tão naturalmente com a proposta de jovens que ganham poderes sobre-humanos, sua sisudez parece em completo desencontro com a mentalidade simplista de um filme de monstro como este, que tem muito a aprender com Predadores Assassinos.
Eubank não reconhece, infelizmente, o potencial B de seu longa e principalmente do último ato, que caso descrito em palavras aqui, transmitiria a ideia de diversão certa – de alguma forma, o inferior Medo Profundo 2 ao menos fez um melhor trabalho de jogar tudo aos ares no desfecho. Já a tentativa derradeira de comentário ambiental, por sua vez, é ínfima. Sem entregar bons sustos, criaturas fascinantes e um percurso instigante pelo complexo de estações submarinas, Ameaça Profunda é na verdade tão agradável quanto água nos ouvidos.