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Crítica | Angry Birds 2: O Filme

A existência de Angry Birds 2: O Filme não parece precisar de muita explicação, ao mesmo tempo que é inesperada. O sucesso do primeiro longa nas bilheterias sobressaiu ao resultado crítico, e o caso prometia se repetir desta segunda vez. Mas o que temos aqui é uma produção que, se bem mais modesta no retorno financeiro, oferece uma experiência mais divertida e até única no cinema de animação atual, mais acostumado às mensagens edificantes e um equilíbrio entre o humor e o drama.

O filme reapresenta as personagens de Angry Birds com descompromisso, sem precisar explicar a bizarra visão de pássaros que não voam mas cruzam os céus atirados por enormes estilingues. Red, Chuck e Bomba continuam amigos próximos, e são claramente definidos em seus arquétipos respectivos de ranzinza, hiperativo e bobalhão. A relação de antagonismo com os porcos, então, nem precisa de introdução, já que constitui o objetivo principal dos famosos games mobile desenvolvidos pela Rovio.

Porém quando uma terceira ilha no arquipélago onde aves e porcos batalham passa a representar uma grande ameaça, uma que pode acabar com a existência das duas espécies, ambos são forçados a unir forças e criar um plano para salvar as ilhas. A este ponto, o longa introduz novas personagens como Zeta, a amarga vilã que quer destruir os locais, e Silver, uma jovem e brilhante engenheira que pode ser de grande utilidade no combate às ameaças. Ah, e os filhotes da ilha, sem relação alguma com a trama principal, precisam resgatar alguns ovos.

Se esta trama soa demasiadamente esquemática, é um alívio constatar que o filme dirigido por Thurop Van Orman tem consciência disso e busca sempre se renovar quanto à maneira que as cenas são apresentadas, mesmo que percam em coerência. O chamado à aventura, por exemplo, surge como uma montagem repentina que apresenta as personagens em telas estilizadas com suas funções na missão, na moda de um filme de assalto. Logo depois, os pássaros dublam uma ópera, comovidos e sob um efeito dramático de câmera lenta.

Falta relação de causa e efeito entre cenas, sobram oportunidades de fazer humor. Embora Angry Birds 2 possua suas mensagens de cooperação e humildade, estas não são o foco aqui, e sim o que é mais lúdico. A Sony Pictures Animation já demonstrou com seus filmes de Hotel Transilvânia que está disposta a abraçar um tipo de cartoon mais frenético, remetendo aos velhos tempos de Cartoon Network e Nickelodeon, provocando risadas mais instintivas com situações bizarras.

Orman mostra completo controle desta abordagem, quase nunca levando cada piada ao limite, mas apresentando uma avalanche de novas outras no minuto seguinte. É impressionante como algumas sequências se alongam bastante na minutagem, mas que nessa dilatação temporal fazem tudo fluir naturalmente. Toda a sequência de invasão ao esconderijo de Zeta voa por uma série de situações distintas: da pantomima com um disfarce de águia, à paródia de outras obras pop (Missão Impossível) ao pastelão violento.

No entanto, esta frequência de piadas e novas situações se prova exaustiva ao longo de 97 minutos, duração que se encontra acima da média geral das animações. É compreensível já que há diversos arcos sendo trabalhados, incluindo a trama paralela com os filhotes que soa mais como curta isolado, mas há apenas um bocado que se aguente deste frenesi todo que ocorre na tela por tanto tempo. As crianças, ao menos, devem estar entretidas do início ao fim com essa colorida salada.

Vale destacar o excepcional trabalho de dublagem em português. Marcelo Adnet, Fábio Porchat e Mauro Ramos reprisam seus papéis como Red, Chuck e Bomba enquanto novos nomes chegam ao elenco, entre eles Mônica Rossi, cuja voz característica cai como uma luva para a vilã Zeta. Geralmente, o mau entrosamento entre celebridades e dubladores veteranos é notado, mas aqui todos alcançam um ótimo nível de entrega, sem um nome só que destoe do restante.

Angry Birds 2: O Filme não é tanto uma ave rara, com a batida recorrência a músicas como All By Myself e Hello, quanto na verdade representa uma que não viaja mais em bando. Enquanto estúdios como a Pixar e a Dreamworks continuam investindo no emocional de crianças e adultos para deixar suas marcas, a Sony Pictures Animation continua em sua busca por extrair o máximo de valor de entretenimento de suas produções, mesmo que não deixem resíduos na memória – com exceção do excelente Homem-Aranha no Aranhaverso.

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