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Crítica | As Panteras

Em um tempo de reboots completos ou remakes que recriam histórias familiares sob um verniz moderno, As Panteras entra para a porção dos retornos que, sem a intenção de recomeçar do zero e nem de se arriscar a refazer tramas passadas, são definidas muitas vezes como “legacyquels” – uma sequência que não é diretamente ligada a seus capítulos precursores, mas que faz o agrado dos fãs ao reconhecer seu legado dentro da trama.

Buscando coerência tanto com o seriado de sucesso da década de 70 quanto com os longas dirigidos por McG nos meados da década passada, As Panteras de Elizabeth Banks opta por um meio termo entre a discrição da versão televisiva, com enfoque maior nas personagens e suas tramas do que em ação, e o excesso dos filmes anteriores com suas explosões e antagonistas com planos prepotentes de dominação mundial.

A princípio, a trama apresentada por As Panteras pode parecer óbvia e sem muitos sinais de novidade… e na verdade este é mesmo o caso, até o encerramento. Os mistérios acerca de um traidor dentro da agência Townsend são pouco efetivos, e todas as tentativas de ludibriar o público apenas reforçam suas suspeitas por conta da falta de sutileza com que são executadas. O roteiro assinado por Banks subverte muito pouco do que veio antes, neste sentido.

O maior acerto, portanto, é conceder os holofotes à nova equipe das Panteras. Como foi o caso de tantas reformulações nos anos recentes, a preocupação mais urgente está em introduzir novos rostos para que a franquia seja passada para a frente, e o trio formado por Kristen Stewart, Naomi Scott e a estreante Ella Balinska se mostram capazes de cumprir a missão com êxito, restando apenas a possibilidade de embarcarem em uma aventura superior em uma ocasião futura.

As três criam um bom balanço das personalidades de suas agentes, ao mesmo tempo que possuem oportunidades iguais de contribuir para o humor do longa. Stewart, no caso, é quem mais surpreende por encarnar a mais cômica da trupe, metralhando tiradas e comentários sarcásticos furiosamente desde a primeira cena ambientada no Rio de Janeiro. Banks tem em Stewart sua principal encarregada de trazer autoconsciência ao material clichê.

No entanto, Scott e Balinska fazem um trabalho forte em conjunto com Stewart, exercendo personalidades próprias que conferem à dinâmica do trio um ar perspicaz e, é claro, carisma. Scott, que já havia cativado em Power Rangers e alcançou seu papel de maior destaque com Aladdin, aqui continua a mostrar versatilidade, extraindo humor e charme do despreparo de sua personagem sem transformá-la em uma simples garota indefesa.

Já Balinska, que tem aqui seu primeiro papel no cinema, é quem mais se sobressai na ação, mas também exibe plenas capacidades dramáticas e talvez entregue a performance mais eclética das três, tendo aqui um bom cartão de chamada para projetos futuros. Por fim, o elenco adicional, que inclui Patrick Stewart como um Bosley recém-aposentado e Elizabeth Banks como a nova supervisora das Panteras, se encontra na mesma frequência que as protagonistas, sem se levar a sério demais.

Banks exibe melhor desempenho diante das câmeras do que por trás delas, embora isto não anule seus méritos e promessa como realizadora. Segura quanto ao tom do material e do timing do elenco, além de possuir um olho para locações, faz um trabalho competente que pode ser digerido com facilidade, mas peca na execução de cenas de ação, ou melhor, em estabelecer a geografia de lutas e tiroteios satisfatoriamente na decupagem e montagem.

Ciente destas limitações, Banks aposta na fotografia de Bill Pope e uma trilha sonora carregada de nomes da música pop atual para maximizar o impacto dos confrontos das Panteras com seus antagonistas, e cria no enredo uma variedade de situações que independem da força bruta para gerar alguma empolgação. A sequência de invasão a um laboratório, por exemplo, prioriza a audácia do trio com disfarces, e em instantes como este Banks tem sucesso ao jogar com perspectivas.

De certa forma, isto ecoa muito do que As Panteras tem a dizer sobre a tendência de subestimar a perspicácia de tantas mulheres, não muito diferentemente do que Oito Mulheres e um Segredo fez no ano passado. O filme de Elizabeth Banks decide enxergar na condição feminina uma vantagem, e explora ainda a importância de reconhecer a capacidade em todos os indivíduos do gênero feminino, independente de geração, cargo ou qualquer outro critério.

Ao mesmo tempo que As Panteras faz uma boa defesa sobre deixar de submeter mulheres a escrutínios adicionais no ambiente de trabalho ou mesmo no entretenimento, há uma celebração bem-humorada de sua perseverança através dos padrões duplos de julgamento que diariamente enfrentam. Seja contra uma arma de destruição em massa ou o sexismo, lá estão as agentes de Bosley salvando o mundo, de preferência com uma taça de champanhe ao alcance.

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