Para aqueles que desconhecem a técnica de stop-motion para animações: é aquela na qual cenários e personagens são realmente criados e ganham movimento um fotograma por vez!
Tal estilo é extremamente minucioso, justamente por isso a prática está quase extinta. Mesmo porque a animação em 3D, gerada por computadores, é uma forma mais rápida e barata, além de ter caído no gosto de grande parte do público.
Contudo, existem alguns guerreiros(as) que ainda topam o conceito com enorme paixão, como os cineastas Wes Anderson, Tim Burton e Charlie Kaufman, por exemplo.
Dentre estes artistas que não têm medo de assumir o que é um grande e demorado trabalho, encontra-se o diretor Cesar Cabral, que desenvolveu Bob Cuspe Nós Não Gostamos de Gente, inspirado livremente na obra do renomado cartunista brasileiro Angeli, misturando documentário, comédia e road-movie, ao mesmo tempo que conta a história de Bob Cuspe, um velho punk tentando escapar de um deserto pós-apocalíptico que é na verdade um purgatório dentro da mente de seu criador que está vivendo um momento de crise criativa e existencial.
A mente (conturbada) de um artista
Existe um elemento atípico em um trabalho como Bob Cuspe, Nós Não Gostamos de Gente que torna muito difícil para o espectador, não embarcar de cabeça e tudo mais nesta trama abilolada e surpreendentemente engajante.
O mix de narrativas diferentes prestasse a dois serviços de modo (bem) satisfatório: primeiro, elevar o nível de entretenimento; e segundo, apresentar a quem assiste como “funciona” a mentalidade emocional de alguém que vive da criação, seja a modalidade artística de preferência.
Neste filme de Cesar Cabral testemunhamos a ligação emotiva de um criador e sua criatura. Mesmo para alguém como Angeli, que faz um tipo desprendido das coisas da vida, mas ironicamente apegado aos objetos e outros cacarecos que são parte de seu estúdio, é algo bem complicado.
Pelas palavras do roteiro escrito pelo diretor, junto de Leandro Maciel, observamos as fases da vida do cartunista brasileiro, principalmente seu momento atual quando se questiona quem é hoje em dia. Ainda mais após algumas decisões criativas que teve, como dar fim a alguns personagens que criou e trabalhou por muitos anos.
Através da sensibilidade de Cabral percebemos que matar uma personagem é o mesmo que ver uma parte de si esquecida no passado. E, como muitos sabem, nem sempre é fácil admitir que algo ficou pelo caminho.