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Crítica | Carcereiros: O Filme

Embarcando na tendência dos filmes inspirados ou diretamente conectados a seriados de TV, Carcereiros: O Filme é uma boa aposta para expandir o apelo de seu material televisivo, adaptado do livro homônimo de Drauzio Varella pela Rede Globo ao longo de duas temporadas – com uma terceira confirmada para o ano de 2020. Diferentemente do longa de Downton Abbey, que servia de epílogo ao seriado, por exemplo, o filme de Carcereiros age mais como um episódio especial transitório.

Não muito longe do que havia sido experimentado pela Fox com 24 Horas: A Redenção, aqui há uma troca do registro quase documental dos episódios comuns por uma atmosfera explosiva, com trama arquitetada para agradar os fãs de ação intensa. No entanto, o filme dirigido por José Eduardo Belmonte é capaz de preservar o naturalismo da série em seus instantes de introdução, que apresentam o presídio como um microcosmo do qual apenas Adriano (Rodrigo Lombardi) tem maior conhecimento ou controle.

Adriano, no caso, é o principal ponto forte do longa por uma série de questões. Sua função como carcereiro abre um leque de dilemas interessantes e pouco habituais, ocupando a função de entendedor e mediador daquele ecossistema e, da mesma forma, o responsável por manter as atividades do local nos eixos. Mesmo em meio a criminosos violentos, e diante de situações de vida ou morte, seu instinto imediato é sempre o de procurar soluções e desarmar estas crises, preservando o maior número de vidas possível – incluindo a sua.

Além disso, há o talento indispensável de Rodrigo Lombardi, que deixa de lado estrangeirismos na fala para abraçar uma coloquialidade urbana muito convincente, solidificando a imagem de que Adriano é de fato uma figura carismática e bastante relacionável para todos que habitam o presídio. Sua interação com um preso em estado de delírio, logo no início do projeto, sintetiza sua presença pacificadora para aqueles pouco familiarizados ao seriado com eficiência, e cria simpatia imediata pelo protagonista.

Há de se dizer que esta simpatia faz toda a diferença para o restante da obra, que passa a cometer diversos tropeços, primeiramente com uma trama muito, mas muito menos crível do que sua personagem central leva a esperar – o choque de realidades poderia ao menos trazer algum fascínio. Devemos acreditar, por exemplo, que um terrorista internacional perigoso, Abdel Mussa (Kaysar Dadour) seria encarregado a este presídio de poucos recursos, já prestes a implodir sob a guerra interna de duas facções que lá se encontram instaladas.

Acredite: o enredo depois alcança a proeza de soar ainda mais inacreditável que este ponto de partida, e mesmo que existam reviravoltas que trazem algumas verdadeiras surpresas para a mistura, o tom genérico dos conflitos nunca parece mesclar com o que o forte protagonista tem a oferecer. Existe inclusive uma solução involuntariamente cômica de “deus ex machina” para o confronto, que cresce a níveis absurdos e parece sair do controle não só das mãos de Adriano como dos roteiristas, restando apenas apelar ao exagero.

Por outro lado, os confrontos são prejudicados pelo comprometimento do diretor Belmonte a uma estética que serve muito mais ao drama pessoal e à claustrofobia, com seu excesso de closes, do que à ação, que passa a consistir de tiroteios confusos em locais pouco iluminados. Pode-se dizer de certo modo que, como alguns exemplares franceses como Sleepless Night, a confusão visual das batalhas pretende agregar a um sentimento específico integrado ao roteiro, mas Carcereiros: O Filme ainda assim não deixa de frustrar neste aspecto.

O que de fato potencializa a tensão é a trilha sonora dos talentosos Irmãos Garbato, que conseguem dentro desta obra manifestar uma variedade de ideias distintas, passando do uso de guitarras e tambores em introduções descontraídas, ao clima de desconforto com sons concretos industriais e cordas nos momentos de suspense elevado, até o uso de coro em instantes dramáticos. Os Garbato fazem proveito de seu ecletismo para mostrar que, além de serem alguns dos melhores profissionais no mercado, entendem a necessidade de cada cena.

Apesar de suas muitas limitações, Carcereiros: O Filme é surpreendentemente salvo por estes aspectos seletos, assim como o enorme presídio é mantido sob controle por uma equipe reduzida mas atenciosa de funcionários. Tanto como interlúdio para as temporadas do seriado quanto peça isolada de entretenimento, o filme necessitava principalmente de um elo emocional forte e este se faz presente em seu protagonista, que levanta questões pertinentes e recebe um arco narrativo suficientemente bem-amarrado, criando curiosidade pela contraparte televisiva.

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