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Crítica | Chacrinha: O Velho Guerreiro

A cada mês, chegam uma ou duas novas cinebiografias aos cinemas brasileiros. Desta vez, pegando carona na onda de nostalgia reavivada por Bingo: O Rei das Manhãs, estreia Chacrinha: O Velho Guerreiro, que procura adaptar a vida pessoal e profissional do showman José Abelardo Barbosa, vulgo Chacrinha, às telonas. Afinal, quem era o homem por trás desse imenso fenômeno televisivo? O filme de Andrucha Waddington infelizmente é incapaz de responder tal pergunta, caindo em armadilhas comuns de produções do tipo e limitando-se à nostalgia vazia.

A falta de aprofundamento em Chacrinha: O Velho Guerreiro é decepcionante, a princípio, porque o apresentador e comediante foi sem dúvidas uma figura importante, não só na cultura como ao imaginário populares. A escolha de retratá-lo em duas fases distintas também criava promessa, separando-o em Abelardo (Eduardo Sterblitch) e Chacrinha (Stepan Nercessian) – o primeiro, um jovem pernambucano de talento, tem sua ascensão meteórica nos programas de rádio, enquanto o segundo, já bem menos entusiasmado, luta diariamente com a emissora para manter seu programa fora dos trilhos do bom gosto.

A primeira parte, centrada em Abelardo, que poderia justamente trazer alguma luz à gênese de sua persona artística, é apressada. Sabemos de sua ascensão através de recursos batidos de montagem e diálogos meramente expositivos, mas não há tempo para sentirmos as agruras desse processo e nem mesmo para mergulharmos em sua vida pessoal. Pulamos de etapa em etapa como em uma página mal alimentada da Wikipédia: a chegada no Rio de Janeiro, o primeiro programa de rádio, o primeiro encontro com a futura esposa. Em cerca de 30 minutos de filme, quando nem acostumamos com Abelardo, dizemos adeus a ele.

Através de uma transição abrupta, somos transportados para a turbulenta vida do velho Chacrinha. Se na primeira parte ainda havia um ligeiro senso de um objetivo a ser cumprido pelo protagonista, a segunda parte deixa evidente o quanto a falta de um recorte prejudica esta cinebiografia. Abusando de elipses na montagem, o que temos é uma série de cenas que raramente possuem relação de causa e efeito – o salto entre uma conversa banal dos filhos para o funeral da mãe de Chacrinha causa estranhamento imediato e evidencia a construção pouco cuidadosa do enredo, ao menos em sua versão de longa-metragem.

De fato, fica aparente que Chacrinha: O Velho Guerreiro se trata menos de um filme e mais uma minissérie picotada, na tentativa de obter resultados nos cinemas antes de chegar à Globo em janeiro do próximo ano. Como consequência desse condensamento, nenhuma das diversas subtramas ganha corpo como deveria, o que atenua – e muito – o impacto dramático. A relação de Chacrinha com a mãe, que deveria representar um conflito chave do personagem, é desenvolvida de forma simplista, parecendo mais um ponto narrativo a ser encontrado em uma paródia e não no drama de alto calibre que este filme quer tanto ser.

Já que se trata de uma homenagem a um comediante, Chacrinha: O Velho Guerreiro poderia ter investido mais no humor e imbuir seu molde de cinebiografia com uma personalidade que condizesse com o retratado. Porém, diferente de Bingo, que evocava um espírito anárquico para construir seu protagonista politicamente incorreto, o filme de Waddington é quase sempre quadrado e corretinho. Há momentos em que o longa assume uma postura mais despojada e parece mais à vontade com a comédia, como na sessão de cinema com a esposa ou a discussão sobre adultérios em um hotel, mas são poucos.

Nos papéis centrais, Sterblitch e Nercessian estão esforçados, mas também saem prejudicados pela estrutura do filme. Com tempo desigual em tela e o salto abrupto entre suas partes, não aparentam interpretar o mesmo sujeito, por mais que o roteiro nos diga isso. O restante do elenco, recheado de bons nomes, consegue se destacar ainda menos, com personagens que não chegam nem ao nível unidimensional. Pior ainda são as figuras históricas que participaram do programa do Chacrinha, que mais parcem fazer parte de um concurso de melhor fantasia e melhor playback.

No mês passado, com a chegada de Legalize Já: Amizade Nunca Morre ao circuito, tinha-se um breve respiro de frescor para as cinebiografias nacionais, que raramente se desprendem de fórmulas cansadas. Mesmo com uma produção menos custosa e escopo limitado, o filme sobre o Planet Hemp acertava em sair desse eixo e focar apenas na gênese da banda. Por sua vez, Chacrinha: O Velho Guerreiro, com um orçamento generoso e décadas de história a seu dispor, comete os erros de sempre e diz pouca coisa sobre seu biografado. Se a máxima “nada se cria, tudo se copia” é válida, então já passou da hora de copiar novas fontes.

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