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Crítica | Cópias: De Volta à Vida

Muito como o que ocorre com experimentos científicos, o processo de realizar um filme é nebuloso e cheio de surpresas até que o produto seja finalizado ou chegue ao consumo do espectador. Nesse processo, o roteiro é uma das primeiras peças, como uma receita, e por mais que seja possível identificar quando esta peça está mal-ajambrada, só se pode visualizar a verdadeira magnitude de seus problemas quando é de fato transformado em um produto audiovisual. Imagino as expressões no rosto do roteirista Chad St. John e do resto da equipe de produção assim que Cópias: De Volta à Vida lhes foi exibido pela primeira vez, antes de passar diversos meses engavetado e ser lançado na surdina.

Embora o resultado final seja completamente precário, é compreensível o interesse dos produtores por sua premissa, concebida por Stephen Hamel. Após perder a família num acidente de carro, o cientista William (Keanu Reeves) rouba tecnologia da empresa para qual trabalha com os fins de clonar seus entes e, através de um aparato inovador que criou, transferir suas memórias para os novos corpos, a fim de recomeçar tudo novamente. No papel, a premissa remete a um leque de referências, cada uma com seu tom em especial, e o filme poderia explorar um vasto território de ideias mesmo sob um orçamento limitado, como provam Ex Machina e especialmente Primer.

De início, Cópias parece mirar um tom de tragédia, sugerindo que William enfrentará grandes consequências por ousar brincar de deus. Mas apenas parece. A execução do roteiro de Chad St. John e sua transposição para as telas pelo diretor Jeffrey Nachmanoff faz com que essa história, pouco original mas com potencial de oferecer um bom conto sci-fi, torne-se uma comédia involuntária. Apesar de assumir em certas cenas um tom voluntário de farsa, mais especificamente quando William é obrigado a esconder a morte dos familiares e assumir suas identidades nas redes sociais, o restante dos muitos risos vem justamente da falta de compreensão dos realizadores quanto ao tom que procuram – ou acreditam acertar.

Quando Cópias quer soar inteligente e provocador com o papeado científico, soa de fato paródico por conta da inverossimilhança dos termos e teorias mencionados por William e o colega Ed (Thomas Middleditch), que o ajuda em sua tentativa de ressuscitar a família. Quando quer criar tensão, usa de estratégias já um tanto mofadas, com ângulos holandeses – com a câmera oblíqua – e trilhas que soam como cópias fajutas de faixas retiradas da franquia Bourne, ao ponto de parecer um produto originado da década passada. Quando quer evocar a tragédia, tudo rui sob a mão pesada da direção, da música intrusiva e a incapacidade de Keanu Reeves em atingir as notas necessárias para tal, levando a momentos que não à toa suscitam comparações com The Room, principalmente quando Reeves é forçado a chorar – embora, a meu ver, lembre mais uma obra de Neil Breen, que já ganhou seguidores por suas péssimas mas hilárias ficções científicas.

É no mínimo irônico como Reeves, com sua popularidade revigorada, é simultaneamente um elemento que catapultou o projeto para fora do limbo e também uma de suas grandes limitações, apresentando uma interpretação desprovida de uma construção realmente cuidadosa. Às vezes, o papel parece exigir demais dele, ou melhor, não se encontram um no outro. Nenhuma de suas emoções é fotografada pelo ator com espontaneidade e sempre aparentam um tanto falsas. São tiques com as mãos sempre que está nervoso, o sorriso exageradamente esticado quando está feliz, a entrega muito cadenciada e inconsistente de falas – tudo acrescenta uma camada de estranheza. Acreditei que o longa estaria construindo para uma revelação de que William em si é uma cópia, mas não é o caso – embora outra “surpresa” venha próximo ao final.

Na realidade, tudo que se acredita de Cópias: De Volta à Vida acaba sendo subvertido ao final, mas não no bom sentido. Se havia algo que ainda segurasse a obra, era a curiosidade pelas consequências dos experimentos de William – como sua nova famíia reagiria se descobrisse a verdade? Como guardariam esse segredo? Tudo promete um ambiente de tensão domiciliar que soa bem mais interessante do que víamos ali até então. Porém essas possibilidades são chutadas à força para fora do filme. Na intenção de oferecer uma conclusão entusiasmada e crowdpleaser, Chad St. John joga tudo aos ares no ato final e introduz uma narrativa boba de heróis e vilões, revelando a real natureza da empresa onde William trabalhava.

Ao fim de tudo, tem-se a sensação de que Cópias: De Volta à Vida deseja secretamente ser uma comédia de Sessão da Tarde nos moldes de Um Morto Muito Louco ou Splash, com uma sucessão de desventuras do protagonista que esconde um segredo louco de todos, um amigo geek que metralha piadas, uma possível narrativa de peixe fora d’água com família ressuscitada e uma descartável trama “séria” com um vilão interpretado por um daqueles atores de apoio que todos reconhecemos de algum filme exibido na TV muda do boteco na esquina. St. John e Nachmanoff incluíram todos esses elementos em seu projeto, mas provavelmente acreditando que criariam um hard sci-fi digno de ser levado a sério. “Está morto!”, devem ter gritado diante do resultado de seu experimento.

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