Neo-western

Crítica – Cry Macho: O Caminho para a Redenção

Novo Eastwood volta a focar no acerto de contas com a própria finitude

Que Clint Eastwood é uma lenda, já é mais que sabido!

Quando vemos que no alto de seus 91 anos de idade, continua trabalhando, mostramos ainda maior admiração. Agora, perceber que o grande astro do cinema faroeste, não apenas dirigiu, mas resolveu colocar o chapéu de volta para viver um caubói frente às câmeras é muito mais do que um evento comum.

Sim, o renomado autor cinematográfico, assim como no ótimo A Mula (2018), volta a abordar uma busca por um acerto de contas com o passado. Alternando com outros projetos mais recentes onde mirava exaltar as figuras do que considera serem alguns heróis americanos, como por exemplo: Sniper Americano (2014); Sully – O Herói do Rio Hudson (2016); e O Caso Richard Jewell (2019).

Em Cry Macho: O Caminho para a Redenção, acompanhamos Mike Milo (Clint Eastwood), ex-estrela do rodeio e criador de cavalos que, em 1979, arrumou um trabalho com um ex-chefe para trazer o filho do México para casa. Forçado a tomar o caminho de volta para o Texas, o par improvável enfrenta uma jornada inesperadamente desafiadora, durante a qual o cavaleiro cansado do mundo encontra conexões inesperadas e seu próprio senso de redenção.

Parceria de sucesso

A palavra que melhor define o cinema de Clint Eastwood é: constância.

Geralmente, o cineasta acerta a mão em muitas destas produções, chegando a criar algumas obras imprescindíveis, como o excepcional Gran Torino (2008), possivelmente, o trabalho mais brilhante de Eastwood neste século.

Muitos admiradores exaltam o diretor pelo sublime feito nesta obra, mas, é bom que se lembrem que ele não conseguiu tal proeza sozinho, pois o roteirista Nick Schenk, que estreava na função, mostrava que sabia como se aproveitar de algumas características do cinema praticado por Clint Eastwood.

Gran Torino foi a primeira das três parcerias que tiveram. Anteriormente, trabalharam em A Mula, e agora, Cry Macho: O Caminho para a Redenção.

Das três produções, é prático afirmar que esta mais recente é a que menos causa algum impacto. Há um desequilíbrio nela, que não se via nas duas empreitadas anteriores, além de termos alguns diálogos um pouco mais batidos em certos momentos, especialmente aqueles que saem da boca de Rafo, interpretado pelo jovem Eduardo Minett.

Ainda assim, Schenk consegue construir algumas cenas que são capazes de revelar o melhor do cinema de Eastwood, como quando a dupla se abriga em uma pequena capela dedicada à Virgem Maria em um pequeno vilarejo mexicano.

Quase Tom Stern

Outro trunfo do cineasta vem pelas colaborações com alguns diretores de fotografia conceituados. Na filmografia de Eastwood, dois merecem maior destaque: Jack N. Green e Tom Stern.

O primeiro teve sua primeira participação em O Destemido Senhor da Guerra (1986), depois colaborando por mais quinze anos em dez filmes da carreira de Clint Eastwood.

Enquanto Tom Stern veio junto com a virada do século, trabalhando em Dívida de Sangue (2002), estrelado pelo diretor, ao lado do ator Jeff Daniels. Essa associação entre os dois profissionais do cinema durou dezessete anos, e produziu quatorze obras!

Foi ao lado de Stern que o cineasta nonagenário atingiu o pico de sua pungência narrativa. Obras como, Sobre Meninos e Lobos (2003) e Menina de Ouro (2004) são exemplos dessa força.

Felizmente, Cry Macho: O Caminho para a Redenção chega bem perto de trazer de volta alguns predicados visuais que perderam destaque em alguns trabalhos mais recentes da filmografia de Clint Eastwood.

Sendo muito curioso observar que vem através de Ben Davis tal retomada, em vista que o diretor de fotografia é mais conhecido por seus trabalhos dentro da MCU (Universo Cinematográfico da Marvel), totalizando, até o momento, cinco colaborações com a empresa chefiada por Kevin Feige.

Estigma do homem macho

Apesar da temática sobre redenção, que não é novidade quando analisamos a carreira do diretor americano, o que mais diferencia Cry Macho, de outras obras que também abordam este conceito é o uso da figura do caubói, algo que será sempre a maior marca na vida deste artista mundialmente celebrado.

É inegável que por décadas, Clint Eastwood representou um símbolo de masculinidade, principalmente quando atuava em obras de faroeste. No entanto, quando sentou-se na cadeira do diretor, foi aos poucos e suavemente, lascando essa imagem. Revelando as várias camadas por debaixo da dureza dos homens do velho oeste.

Desde Bronco Billy (1980), o cineasta vem alterando nossa percepção sobre caubóis, assim como também, do que realmente significa ser um homem. Em Cry Macho: O Caminho para a Redenção testemunhamos mais um passo dele nessa direção de aprofundar as dores e inseguranças do homem, em especial, aqueles que compreendem a finitude de nossos dias.

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