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Crítica | De Repente uma Família

Apesar da filmografia ainda enxuta, o roteirista e diretor Sean Anders já conseguiu deixar bem claro um dos temas que é de total relevância para si: a paternidade. São muitos os filmes, seja apenas escritos ou não, que tratam este conteúdo, como Os Pinguins do Papai, Este é o Meu Garoto, Família do Bagulho, além dos dois filmes Pai em Dose Dupla. Até mesmo, o abilolado Debi & Loide 2 trata sobre o “resgate” de uma paternidade até então desconhecida. Então, qual seria o diferencial de seu mais recente filme, comparado aos anteriores? A resposta: agora é mais pessoal, pois De Repente uma Família é sobre a vida do cineasta.

Sean Anders, baseando-se em sua história, narra a vida do jovem casal Ellie e Pete que se encontram naquele momento dentro de um casamento onde começam a questionar se querem algo mais. Mais ou menos conscientes de que querem se tornar pais, decidem adotar uma criança. Quando vão a uma feira destinada a fazer este encontro entre adultos e crianças e jovens sem um lar, se encantam pela adolescente Lizzy, garota de temperamento apimentado, e decidem por adotá-la. Mas, a garota têm dois irmãos menores, Juan e Lita, que acabam sendo levados para viver com o casal também. Assim, Ellie e Pete se vêem com três crianças que alteram suas rotinas e vidas integralmente.

O fato de Sean Anders estar contando a sua própria história estabelece todo um contexto a ser observado. E isso, ficou muito claro até pelo tom da obra, por exemplo, se em todos os longas anteriores que tratam esta temática vertem exclusivamente para a comédia, seja o tipo de humor que for, em De Repente uma Família é acrescentado um tanto de drama, o que acabou sendo benéfico para o lado cômico, e consequentemente, a obra como um todo.

De novo, e com habilidades, é exaltada a máxima shakespeariana que busca igualar doses humorísticas a momentos intimistas tocantes, e Anders acertou a mão aqui. Já é sabida, a facilidade do autor em escrever boas frases cômicas, e aqui, não foi diferente. Se o texto é afiado e fluente, o trabalho dos atores torna-se mais prazeroso, item essencial para comédias, bem como melhor capacitado no fio narrativo. Ao fazer isso, três atrizes do elenco acabam se destacando um pouco mais, e surfam na onda que quebra por estes dois gêneros cinematográficos.

A atriz Rose Byrne mais do que apenas ser engraçada, algo já percebido nos dois filmes da série Vizinhos e em A Espiã Que Sabia de Menos, aqui assume o papel de coração do enredo, pois tem se mostrado cada dia mais uma atriz dramática do tipo cirúrgica, que não costuma ir muito além do limite, mas tem presença e força o suficiente para ser notada, e até admirada por estas hábeis ações que visam estabelecer uma via de empatia com o espectador. Quando sua personagem Ellie bate de frente com Lizzy, interpretada pela carismática e competente Isabela Moner, isso fica ainda mais claro.

Outra atriz de grande destaque em De Repente uma Família é a sempre precisa Octavia Spencer. Não se surpreenda se em um filme que trata sobre a adoção de crianças, além de abrir sua mente para a possibilidade, você queira adotar também a atriz de Hollywood! Spencer é de um timing cômico invejável, ao ponto de até frases sem teor humorístico ganharem alguma eletricidade, levando o público ao riso. A performance da veterana atriz Margo Martindale, no papel da mãe de Pete, segue nessa mesma linha de estilo que a atriz ganhadora do Oscar por Histórias Cruzadas, e também inebria.

Já o astro Mark Wahlberg, mais acostumado a cinema de ação, não conseguiu fazer rir com a mesma energia mostrada em Os Outros Caras, certamente, uma de suas melhores performances na carreira. Mas, de valor observar o ator buscando um algo a mais, em um ou outro momento mais comovente, mesmo que abaixo se comparado ao resto do elenco.

Cheio de didatismos, algo justificável levando em consideração o contexto e as intenções da obra em apresentar o caminho e as dificuldades enfrentadas, tanto para os pais e as crianças, no processo de adoção, De Repente uma Família pode não cobrir toda a complexidade que envolve a criação dos filhos, mas ensina, emociona e deixa uma sensação de bem-estar ao acenderem as luzes.

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