Por um tempo, mais especificamente na primeira década do século, notamos que a Walt Disney Animation Studios ficou para trás em comparação com a Pixar. Entre os anos 2001-2010, observamos que os estúdios que um dia tiveram John Lasseter como o diretor de criação da Pixar Animation Studios, bem como o principal consultor criativo da Walt Disney, lançaram: Monstros S.A. (2001), Procurando Nemo (2003), Os Incríveis (2004), Carros (2006), Ratatouille (2007), WALL·E (2008), Up – Altas Aventuras (2009) e Toy Story 3 (2010), sendo que este último é o maior e melhor representante dos estúdios, que apresentaram Toy Story em 1995, o primeiro longa-metragem inteiramente animado por computador na história, bem como a inaugural produção da trajetória Pixar.
Enquanto a Walt Disney Animation Studios estava na retaguarda no mundo das animações, testemunhamos a Pixar crescer e se posicionar na vanguarda da cena geral.
Mas, a partir de 2009, voltamos a analisar uma tentativa de retomada da sempre poderosa Walt Disney, que nunca se desvencilhou de suas origens, porém começou a desenvolver seus conteúdos de modo diferente, colocando em prática algumas narrativas com mais subtexto, assim como fazia a Pixar Animation Studios.
Neste período frutívoro, tivemos: A Princesa e o Sapo (2009), Enrolados (2010), Frozen (2013), Moana – Um Mar de Aventuras (2016) e Frozen 2 (2019).
Nem é preciso comentar com muitos detalhes como a franquia Frozen transformou-se em uma sensação a nível mundial. Praticamente todas as crianças que conhecemos naquela época sabiam de cor e salteado, as letras da canção “Let It Go” de uma performance comovente da atriz e cantora americana Idina Menzel.
Agora, chegando na plataforma da Disney + temos Encanto de Jared Bush e Byron Howard, que conta a história dos Madrigais, uma família extraordinária que vive escondida nas montanhas da Colômbia em um lugar charmoso chamado Encanto. A magia do Encanto abençoou todas as crianças da família com um dom único – todas as crianças, exceto Mirabel. No entanto, ela logo poderá ser a última esperança dos Madrigais quando eles descobrirem que a magia em torno do Encanto se encontra em perigo.
É muita pressão!!!
Além de todo o lado musical da animação Encanto, representando muito bem as cores, sons e tradições colombianas, temos que destacar acima de tudo, algumas das propostas e lições expostas pela narrativa desenvolvida pela dupla Jared Bush e Byron Howard.
A sexagésima produção animada dos estúdios Walt Disney resolveu comentar através de Encanto sobre a pressão familiar que tantos de nós presenciamos diante de nossos olhos, ou até mesmo sentimos na pele acontecendo diariamente.
Observamos que na terceira geração da família Madrigal, no caso, todos os netos e netas da matriarca Alma Madrigal, mais conhecida como Abuela, sofrem de algum tipo de ansiedade: a protagonista Mirabel sente-se culpada e escanteada por ser a única sem poderes mágicos no clã; Luisa que é o membro mais forte de toda a família, está passando por um momento de forte insegurança, acreditando que seu poder físico não dará conta, caso apareçam novos perigos para atrapalhar a vida dos habitantes da pequena comunidade de Encanto; enquanto a irmã mais velha Isabela sente a forte pressão diária de todos a sua volta para ser “a garota perfeita”, sempre bela, estonteante e simpática todo o tempo.
Aos poucos, vemos a narrativa ir quebrando a imagem de família-modelo dos Madrigais, entregando a ideia de que não importa quão poderoso ou admirado cada um seja, somos todos humanos, portanto, suscetíveis e vulneráveis às mudanças que surgem pelo caminho.
Fé & União
Quando vamos nos aproximando dos momentos derradeiros de Encanto da Disney +, já cientes de qual é o real dom de Mirabel, percebemos pelo fio narrativo, uma proposta interessante de comentar como funciona a fé na vida das pessoas.
A crença é algo palpável a todos, indiscutivelmente. Todavia, não pode ser obtida de modo definitivo para ficar do nosso lado durante toda a trajetória, já que necessita ser trabalhada de modo disciplinar em nossos dias. Como dito anteriormente, estamos todos expostos e desamparados, vez ou outra, assim torna-se ainda mais importante perseverarmos nestes momentos de maior dúvida na vida.
E como fazemos isso? Como podemos permanecer otimistas durante situações que parecem romper com tudo aquilo que acreditamos e compartilhamos?
Na lata: juntos!
Pela união familiar testemunhamos um novo ato de fé mágica surgir diante dos Madrigais, só que desta vez, sabemos que o novo Encanto nasceu da persistência no amor, que sempre começa pela ação de dizermos a verdade sobre o que estamos sentindo, sem qualquer medo ou receio de estender nossas mãos pedindo ajuda ao próximo.