Guerra é a arte da enganação. Esta frase é repetida no decorrer de Invasão ao Serviço Secreto, o suposto final da trilogia de ação iniciada por Invasão à Casa Branca e estrelada por Gerard Butler, no papel do azarado agente Mike Banning. Mais do que os precursores, Serviço Secreto investe em uma atmosfera de thriller de espionagem tático e um pouco de whodunit, estabelecendo um mistério acerca de quem são os antagonistas. O filme de Ric Roman Waugh, no entanto, não engana ninguém.
Mesmo antes que o presidente Trumbull (Morgan Freeman) sofra um atentado e Banning seja enquadrado como o principal suspeito, Invasão ao Serviço Secreto tem a tendência de apresentar certas personagens com closes elusivos e uma série de motivações que, assim que são esboçadas, logo incitam adivinhações certeiras por parte do espectador quanto ao que ocorre debaixo dos panos. Talvez no ano de 1996, como um daqueles thrillers predestinados a reprises no canal TNT, a trama teria seu efeito, mas hoje surge quase que completamente previsível.
Portanto é de se surpreender, por outro lado, a competência da obra em diversos outros departamentos. O sólido elenco, que inclui ainda Nick Nolte, Danny Huston, Lance Reddick e Tim Blake Nelson, faz seu melhor com o material em mãos e é aproveitado satisfatoriamente pela condução de Waugh, mais familiar aos dramas criminais do que projetos de ação explosiva. Há um imediatismo em como as interações do elenco se dão e como as cenas se organizam, mesmo que sigam uma fórmula pré-estabelecida.
Por boa parte do tempo, Invasão ao Serviço Secreto distribui seus esforços entre a criação de tensão e confrontos bem encenados, mas além disso recupera parte do que tornou o primeiro longa da série tão eficiente: a presença de um fator humano nas personagens. As crises e os dilemas de Banning, desde a indecisão quanto à aposentadoria até a reconexão com o pai distante, não são originais em nenhum sentido, porém o filme se compromete o suficiente em criar alguma dose de engajamento com o arco do protagonista.
Mesmo durante a ação, existe uma consideração pelo risco às vidas humanas, e embora não atinja os mesmos graus de tensão quanto Casa Branca – ou dos projetos de seu diretor Antoine Fuqua -, os embates têm a gravidade necessária para transcender alguns dos clichês de execução, especialmente aqueles avistados no roteiro. Waugh inclusive demonstra tanto habilidade com os momentos de interação entre as personagens quanto na decupagem e ritmo dos tiroteios e perseguições, que ocorrem por grande parte das duas horas de duração.
Gerard Butler, que em projetos mais recentes perdeu o equilíbrio entre a gravidade e a cafonice, retorna à forma com uma entrega mais contida que de costume. Leia-se: intensa, mas não mais flertando com a caricatura. É de certa forma interessante o reconhecimento da chegada de Banning à crise de meia idade, embarcando nesta tendência de um cinema de ação crepuscular, com heróis já amargos e vulneráveis – ou, em alguns casos, um pouco menos invencíveis – encarando aquilo que sempre fizeram.
Porém o funcionamento do longa é agravado pela altíssima previsibilidade do enredo, que, diferente até mesmo dos drones que obliteram agentes do serviço secreto em uma determinada cena, opera no piloto automático. Tanto que o aspecto investigativo da trama, representado pela dupla de agentes liderada por Thompson (Jada Pinkett Smith), se revela completamente descartável assim que chega o último ato, mais irritando pela burrice das personagens – que, segundo um coadjuvante, são grandes investigadores – do que instigando pela busca de respostas aos “mistérios”.
Nada disso surtiria grande impacto sobre o aproveitamento do longa caso Invasão ao Serviço Secreto não se comprometesse em se levar tão a sério, mesmo que de fato existam pouquíssimos momentos de alívio cômico ou autoconsciência – o trecho pós-créditos deve ser um dos mais inusitados já vistos em um filme de ação. Provavelmente acreditando realizar um projeto do calibre de Skyfall ou Missão Impossível: Efeito Fallout, o time de roteiristas não prevê que a somatória entre o tom solene e o enredo repleto de soluções genéricas apenas acentua a incompatibilidade destes dois aspectos.
Não muito diferente de uma campanha tradicional da franquia de jogos de tiro Call of Duty, a nova história de Mike Banning conta com uma trama desnecessariamente intricada, embora óbvia, explosões impressionantes, vilões com motivações simplórias e momentos de genuína empolgação. A grande diferença é que, nos tais videogames, podemos pular todas as informações expositivas e, para melhor ou pior, tudo mais que estiver entre a pirotecnia. Invasão ao Serviço Secreto ao menos se arrisca a preencher estas lacunas, mas nos faz perder o interesse na maior parte delas.