Quando falamos de cinema nacional popular atual, estamos apontando o dedo diretamente para as comédias brasileiras que costumam fazer sucesso com grande facilidade por aqui.
No ano de 2021, lamentavelmente, perdemos uma de nossas maiores estrelas do humor dos últimos tempos: o ator e comediante Paulo Gustavo, que deixou boa parte do país em prantos por sua partida repentina, mas acima de tudo, tão injusta.
Ele fez com que a franquia Minha Mãe é Uma Peça conseguisse chegar no topo das bilheterias; no terceiro filme acabou levando mais de 11 milhões de espectadores para as salas de cinema.
Só não foi maior que Nada a Perder (2018) de Alexandre Avancini, entretanto, existem relatos de salas vazias com todos os ingressos vendidos, indicando uma discrepância entre o número relatado de espectadores e o público real.
É seguro dizer que mesmo após a partida do querido Paulo Gustavo, ainda teremos comédias nacionais ganhando seu merecido espaço, pois surgem novos comediantes todo dia. Um destes que tem ganhado cada vez mais espaço é Rafael Portugal, que é ator, compositor e apresentador da mesa-redonda humorística A Culpa É do Cabral, programa muito popular da televisão brasileira.
Junto da também comediante Cacau Protásio, eles formam o que de melhor temos na nova comédia Juntos e Enrolados, que acaba de estrear nas salas de cinema por todo o Brasil, trazendo a história de Júlio (Rafael Portugal) e Daiana (Cacau Protásio) que finalmente alcançam o sonho de realizar a tão esperada festa de casamento, para assim, se juntarem como manda o figurino. A situação parece estar fluindo bem e sob controle, até que Júlio recebe uma mensagem de sua ex-namorada Melissa (Emanuelle Araujo) no celular, pouco antes da cerimônia começar. Uma confusão generalizada ocorre e todos os planos vão por água à baixo. O casamento foi cancelado, mas a festa precisa continuar, portanto, o casal e todos os convidados vão arranjar – cada um com o seu jeitinho – uma maneira de lidar com a situação.
Roteiro dependente do elenco
Não é tão estranho perceber tantas comédias, nacionais ou internacionais, que dependem muito do carisma e talento individual de seu elenco, especialmente daqueles que estrelam a trama em questão.
Esse é o caso de Juntos e Enrolados, que depende diretamente das caras e bocas e gagueiras de Rafael Portugal para conseguir elevar algo realmente cômico, pois o roteiro escrito pela trinca Cláudio Torres Gonzaga, Rodrigo Goulart e Sabrina Garcia não foi de muita ajuda.
Temos aqui aquela típica situação caótica que normalmente fornece material de sobra para os comediantes mostrarem seus dotes, cada um à sua maneira. Dentre todos do elenco, Rafael Portugal é o que melhor aproveita da situação, manifestando à figura do homem inseguro e muito ansioso que quer fazer a coisa certa, mas acaba se atrapalhando e fazendo algumas escolhas que só complicam mais a situação.
Em Juntos e Enrolados, o comediante nascido no Rio de Janeiro poderia ser uma versão mais caricatural de alguns dos personagens interpretados no cinema pelo ator Ben Stiller, um especialista em manifestar tipos ansiosos e aviltados.
Agora, sua parceira Cacau Protásio repete algo que é muito comum a ela: a figura do mulherão empoderada que não se acanha nem um pouquinho em erguer a voz mais alto que todo mundo em cena para mostrar quem está no comando do humor.
Essa tática vive daquele conceito ‘tentativa e acerto, tentativa e erro’, ou seja, às vezes é engraçado, outras já nem tanto.
Uma pena que não podemos dizer os mesmos dos coadjuvantes da história, que pouco fizeram para merecer algum destaque positivo. Lamenta-se bastante essa ausência de apoio, uma vez que ajudaria trazer um pouco mais de riso e brilho para a comédia dirigida pela dupla Eduardo Vaisman e Rodrigo Van Der Put.
No fim, apenas Rafael Portugal realmente tentou desenrolar alguma coisa desse rolo todo!