Espiões da Coroa

Crítica – King’s Man: A Origem

Prequela da franquia iniciada em 2014 faz melhor que o projeto anterior, ainda assim, passa longe de recuperar o senso de entretenimento do longa original

Se por um acaso estivesse esperando em qualquer uma das filas para entrar nas salas de cinema na época que lançaram Kingsman: Serviço Secreto (2014), certamente observaria que aqueles que acabaram de assistir o longa-metragem dirigido por Matthew Vaughn, retiravam-se das salas portando um grande sorriso de orelha a orelha.

Lembrando que o primeiro capítulo da franquia representava um caldeirão pop, onde tínhamos muito bom humor, eletrizante ação, além de personagens bem carismáticos, interpretados por atores do calibre de Colin Firth, Samuel L. Jackson, Mark Strong, Taron Egerton, Sofia Boutella e Michael Caine.

Tamanho foi o barulho, logo veio a continuação Kingsman: O Círculo Dourado (2017) tentando repetir a fórmula de sucesso do original: missão não cumprida!

Assim como em Serviço Secreto, tínhamos Matthew Vaughn cuidando de O Círculo Dourado, o que acabou não sendo o suficiente, principalmente pelo roteiro que repetiu alguns dos truques anteriores, porém, sem qualquer criatividade, lamentavelmente desperdiçando algumas boas novas adições no elenco, como Julianne Moore, Pedro Pascal, Channing Tatum e Jeff Bridges. Só Elton John que fez uma pequena participação no final, interpretando a si mesmo, que foi capaz de arrancar algumas boas risadas da plateia.

Devemos adiantar que o talentoso diretor de cinema Matthew Vaughn recebeu uma segunda chance com a franquia, que lança neste 2022 pelas salas de cinema espalhadas pelo país, o terceiro longa-metragem da série de filmes Kingsman. Agora, batizada como King’s Man: A Origem, que narra como foi o início da organização britânica Kingsman, quando na época enfrentavam uma corrida contra o tempo para impedir que os piores tiranos e mentores do crime da história conseguissem instaurar uma guerra que exterminaria milhões de pessoas.

De volta no tempo

Foi uma escolha um tanto curiosa por parte do cineasta desenvolver uma prequela, logo após os eventos de Kingsman: O Círculo Dourado. Uma vez que optar isso, naturalmente significa abandonar boa parte do que foi garantia de sucesso até o momento, no caso, o elenco encabeçado pelo jovem e habilidoso ator inglês/galês Taron Egerton.

No entanto, valeria dar um voto de boa-fé para Matthew Vaughn, afinal, foi por suas mãos que ganhamos um divertidíssimo Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010), além de uma ótima revitalização da franquia sobre os mutantes da Marvel com X-Men: Primeira Classe (2011). Pena que novamente não conseguiu acertar a mão, como nos exemplos citados, assim também como no primeiro capítulo Kingsman: Serviço Secreto.

Podemos afirmar que houve uma melhora em comparação com o antecessor, ainda assim, insuficiente na proposta de capturar o público. Muito porque a narrativa em King’s Man: A Origem foi sabotada pelo próprio roteiro escrito por Vaughn, auxiliado de Karl Gajdusek, que trabalhou um conceito bem mais dramático nessa história do que seus exemplares anteriores.

Porém, tal escolha acabou não funcionando a favor do entretenimento ou narrativa, pois faltou profundidade na hora do drama, que apenas servia como interrupção da boa ação filmada por Vaughn.

Deu para perceber que o cineasta teve a intenção de comentar sobre o “heroísmo” daqueles que lutam e morrem pela nação e o quanto este conceito patriótico é mais tolo que qualquer outra coisa. Definitivamente, um argumento válido, mas deslocado e ineficaz pela narrativa indecisa de King’s Man: A Origem.

Ação muito bem filmada!

É uma pena que o diretor inglês de 50 anos de idade não conciliou ambas propostas neste terceiro episódio da série de filmes Kingsman. Lamenta-se tanto, visto que se tem uma coisa que ele sabe fazer muito bem é filmar arrebatadoras cenas de ação!

Quando nos encontramos próximos da metade da história, temos uma cena de luta entre um deliciosamente caricatural Rhys Ifans contra três agentes da organização britânica liderada por Orlando Oxford, papel do sempre competente ator inglês Ralph Fiennes.

Na cena, podemos constatar duas coisas: primeiro, como Rhys Ifans merecia mais tempo de tela; e segundo, a capacidade de Matthew Vaughn para elaborar atraentes cenas coreografadas de luta, envolvendo uma batalha de lâminas que se mistura com movimentos rápidos e agressivos inspirados no balé russo.

O cineasta sabe muito bem como posicionar sua câmera de um modo onde conseguimos enxergar toda a cena, que inclui golpes mortais, além das expressões faciais do elenco que desfere tais lances armados.

Testemunhar tal momento fez com que lembrássemos da gloriosa parte em Kingsman: Serviço Secreto quando Galahad, interpretado por Colin Firth, simplesmente esquarteja e massacra todos (!) os membros preconceituosos e racistas de uma igreja no estado de Kentucky.

É uma pena, pois o que foi realmente algo memorável, lá atrás no filme lançado em 2014, dura apenas alguns minutos em King’s Man: A Origem, ratificando a ideia de que talvez seja melhor para a franquia passar o bastão para alguém diferente.

Sair da versão mobile