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Crítica | MIB: Homens de Preto - Internacional

A franquia cinematográfica MIB: Homens de Preto, baseada em uma HQ da Malibu Comics, tomou todos de surpresa no final da década de 90 com o primeiro filme dirigido por Barry Sonnenfeld, um dos melhores blockbusters de seu tempo ao unir premissas bizarras de ficção científica com um humor agradável ao grande público. Embora sua primeira sequência, MIB II, tenha deixado boa parte dos fãs desejando uma neuralização – o flash que apaga memórias – logo em seguida, o conceito foi capaz de voltar à forma mais uma vez com o subestimado MIB 3, um suposto canto de cisne da franquia antes de uma nova era de blockbusters.

Quem dera fosse assim. Sete anos depois do “encerramento” da trama envolvendo os agentes K (Tommy Lee Jones) e J (Will Smith), chega o reboot intitulado MIB: Homens de Preto – Internacional, agora com Chris Hemsworth e Tessa Thompson como os protagonistas dessa nova fase (?) da franquia nos cinemas. Nova, infelizmente, nos piores sentidos: a trama da vez é simplória e sem imaginação; boa parte dos diálogos apoia-se no humor de improvisação a la Saturday Night Live; o plano dos vilões consiste em, isso mesmo, abrir um portal – azul, ainda! – no céu para outra dimensão. Blá, blá, blá é a regra aqui, e a expressão poderia facilmente substituir cada um dos excruciantes diálogos expositivos desta trama.

Aspecto que fez cada um dos originais no mínimo memoráveis, a apresentação de conceitos e personagens já se mostra apressada logo de início em MIB: Homens de Preto – Internacional, como se não houvesse algum cuidado ou interesse em tornar este no verdadeiro pontapé de uma nova geração. A atrapalhada introdução sequer sabe sequenciar as cenas e estabelecer um arco central: somos apresentados aos agentes H (Hemsworth) e T (Liam Neeson) em uma missão no presente, e logo depois a um flashback que revela um primeiro contato de Molly (Thompson) com um alien em sua infância – porque não começar com o flashback? A estrutura problemática do roteiro desde o início pesa sobre a montagem, feita a seis mãos – ou tentáculos.

Pisque e perderá a entrada de Molly, agora Agente M, na agência MIB, que aqui ocorre sem deslumbramento. Há a esperada piada com Sérgio Mallandro, seguindo a tradição da série de revelar a natureza alienígena de certas celebridades, mas a apresentação dos alienígenas – e o choque de conhecê-los em primeira mão – se limita aos planos gerais e criaturas CGI relativamente genéricas aos dias de hoje, sem sinal da maquiagem criativa e grotesca de Rick Baker. O momento mais inventivo talvez seja o da apresentação de H para M, em que uma alienígena com o poder de desacelerar o tempo “rebobina” sua caminhada em câmera lenta, e isto em si já é pouco inspirado.

A superficialidade – e previsibilidade – da trama arquitetada por Art Marcum e Matt Holloway leva este MIB ao ponto da inércia dramática, e não falo em termos de tom. Não há engajamento com as personagens porque estão todas lá para cumprirem tipos básicos, e mesmo que a ineptidão de H seja explicada na narrativa, nunca se tem a sensação de que qualquer um deles possuem contextos de fundo como os saudosos J e K já demonstravam através de um simples diálogo. O enredo vazio de Marcum e Holloway se vê forçado a preencher suas lacunas com tiradas improvisadas preguiçosas, como um sujeito que, buscando a atenção que não tem, precisa soltar piadas a cada cinco segundos.

O mesmo se dá com a trilha musical composta por Danny Elfman e Chris Bacon, que reciclam os temas dos outros filmes em arranjos hipertecnológicos. Como o diretor F. Gary Gray pouco faz para tornar suas cenas mais chamativas, com uma fraqueza chocante na execução da ação – especialmente considerando sua filmografia – e um mise-en-scène vazia – literalmente, toda cidade exceto Marrakesh são sets vazios aqui -, a trilha se encontra sempre proeminente e invasiva, repetindo o mesmo “tum tum, tum tum, tum tum, tum tum” icônico apenas para lembrar-nos de que se trata de um filme dos Homens de Preto e que algo supostamente está para ocorrer na tela. Tire essa trilha específica e tudo soará como uma comédia de ação qualquer – talvez um Paul Feig piorado.

Mesmo quando um mistério de espionagem se estabelece dentro da MIB, qualquer um verá de longe a “reviravolta” proposta por Marcum e Holloway, inclusive por conta da segmentação atrapalhada do prólogo, e a sensação de deja vú persistirá. As tentativas de enganar o público sobre o verdadeiro antagonista da obra são fracassadas, apostando em mais um papel tipificado para o subestimado Rafe Spall, que encarna o arrogante Agente C. No campo dos oponentes alienígenas, nem a participação de Rebecca Ferguson traz brilho, e os gêmeos (a dupla Les Twins) que perseguem H e M podem voltar a 2003 para pedir perdão àqueles de Matrix Reloaded.

Chamarizes da produção, Hemsworth e Thompson são obviamente carismáticos, como provaram em outras produções, e nem eles são capazes de injetar algo em uma produção oca como essa. Às vezes não estão nem alinhados com o próprio material. Por exemplo, há uma tentativa de estabelecer um interesse romântico: algo que pode estar no papel, mas que não reflete e nem se sustenta na interação que os atores miram. Isso é outra prova também da fraca caracterização, que estabelece H como nada mais que um sarado bobão – como em As Caça-Fantasmas -, portanto não nos convencendo de que M nutriria sentimentos por ele tão cedo, ou melhor, em qualquer momento.

Acrescente frases dramáticas que surgem do nada no embate final, com direito à clássica “você era como um pai/filho para mim!”, e terá uma obra que deixa a impressão de que os próprios roteiristas haviam sido neuralizados a cada vez que atualizavam os rascunhos do roteiro, esquecendo de estabelecer motivações e relacionamentos enquanto acrescentavam mais e mais piadas – com direito a Pawny (dublado por Kumail Nanjiani), um alienígena que ecoa Jar Jar Binks. Por tais causas, até gostaria de neuralizar MIB: Homens de Preto – Internacional de minha memória, mas este é um fracasso esquecível por si só.

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