Filmes

Crítica | Midway - Batalha em Alto Mar

Hollywood é uma indústria de muito bom humor. É sério!

Vamos analisar.

Dezoito anos atrás, logo após Pearl Harbor de Michael Bay profanar nossas córneas e tímpanos – apesar de uma bilheteria que conseguiu pelo menos triplicar o orçamento – , no enfadonho filme de guerra misturado com drama romântico que mirava ser algo entre O Resgate do Soldado Ryan e Titanic, e no fim, não foi nem um, nem outro, nem qualquer coisa que pareça viva com emoções. Já se sabia o tamanho do estrago, principalmente, o elenco.

Josh Hartnett, Kate Beckinsale, e especialmente Ben Affleck ganharam pechas que perduram para cair. Apesar de o filme ter conseguido quatro indicações ao Oscar, exclusivamente em categorias técnicas, foi no Framboesa de Ouro – premiação que tira sarro da Academia, premiando os piores da temporada – que o longa de Michael Bay fez mais história com seis indicações, incluindo, pior filme.

Agora, talvez, você se pergunte por que Hollywood é uma indústria bem-humorada?

Porque, aparentemente, para os grandes executivos, um Pearl Harbor não é o suficiente, melhor dois, então.

Sim, alguém que não gosta de você, achou que vosmecê, espectador, merecia algo tipo um Pearl Harbor 2, veja só! Ao menos, em Midway: Batalha em Alto Mar não tem drama romântico do tipo pasmaceira. Para dizer a verdade, nem qualquer tipo de drama será encontrado neste nova empreitada de Roland Emmerich, cineasta conhecido mundialmente pelos seus filmes de desastres.

Entre estes, alguns que sabiam, no mínimo, apresentar alguma criatividade, sejam nos efeitos visuais, design ou na parte técnica de som, como O Dia Depois de Amanhã (2004) – talvez seu último projeto minimamente decente – e Independence Day (1996), com larga distância, sua mais espetacular – e tola – obra já feita.

Infelizmente, os raros bons momentos do diretor alemão ficaram no passado. E, Midway: Batalha em Alto Mar se junta a uma lista maldita, que inclui bombas, como: Godzilla (1998), que nos apresentou a iguana que entrou no Livro Guinness dos Recordes como o maior réptil já visto pelo ser humano; 10.000 a.C. (2008); 2012 (2009); e Independence Day: O Ressurgimento (2016).

O longa de Roland Emmerich nos conta em detalhes soporíferos um dos momentos essenciais nas batalhas que aconteceram no Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial. O embate entre a frota americana e a Marinha Imperial Japonesa, que se iniciou no ataque dos japoneses a Pearl Harbor, e se estendeu, até a chamada Batalha de Midway. Baseado em eventos reais, o longa retrata os feitos heroicos, de ocidentais e orientais, e suas capacidades de mostrar instinto, fibra e bravura para superar os medos da guerra.

Se notar a foto destacada acima, talvez, já sirva como um mau presságio de o quão ruim é a experiência de se assistir Midway: Batalha em Alto Mar. Pode olhar! Só pela limpidez desta imagem, de homens fardados, bem afeiçoados, viris, com caras “pensativas”, mas sem uma sujeirinha no rosto, é suficiente para levantar uma dúvida: estes homens estão indo para uma guerra, ou prestes a estrelar um musical da Broadway; eles estão indo de encontro com a morte, ou a segundos de iniciar um flash mob.

A essa altura, pode estar imaginando se é necessário tanta ironia para descrever este longa de Roland Emmerich, porém o mesmo praticamente não oferece outra alternativa ao espectador. O diretor alemão conseguiu a façanha de filmar, praticamente, duas vídeo cassetadas enquanto revive a dura batalha do oceano Pacífico.

Caso o cineasta tivesse optado por um tom mais jocoso, sem problemas! Ideias narrativas estão aí para isso, e há espaço para dissertar variadas hipóteses dentro do cinema, ou mesmo outras formas de expressão artística do tipo audiovisual. Todavia, esta não foi a escolha de Emmerich, vide as cenas derradeiras de Midway: Batalha em Alto Mar onde testemunhamos fotos reais dos homens que travaram com grande coragem esta batalha horrorosa, americanos e japoneses. Aí fica complicado levar esta produção com mais seriedade.

O tema aqui é previsível: heroísmo. Em filmes de guerra, provavelmente, não poderia ser outro mesmo. Mas, sendo uma obra de Roland Emmerich, isto vem acompanhado de uma boa carga de masculinidade. Poxa! O nome do protagonista, baseado no verdadeiro, é “Dick” Best – no traduzido, pênis melhor. Dá para acreditar nisso?!

Para o diretor, masculinidade se resume em bater no peito, falar grosso (o personagem de Dennis Quaid tem mais catarro que cordas vocais), mascar chiclete no canto da boca (junto de um sotaque à la Nova Jersey pavoroso, por parte de Ed Skrein), e outras coisas superficiais do tipo.

Sobra a ação, então. Esta deve salvar a obra do desastre completo.

Quanta inocência!

No estilo vídeo game, Roland Emmerich só mostra um truque em seu carteado. Um truque, apenas! Fácil de perceber, estes se encontram nos momentos mais “tensos” de Midway: Batalha em Alto Mar. Ele conseguiu repetir a mesma manobra aérea, três vezes seguidas, em questão de minutos, ou seja, total falta de repertório.

Repleto de personagens de carisma equivalente a um pedaço de isopor boiando no mar, e cenas muito entediantes, somadas a ideia do filme ter 138 minutos de duração, fazem desta produção algo para se esquecer, o quanto antes.

Realmente a guerra nunca havia sido tão cruel … de se assistir.

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