É sempre um sopro de ar fresco notar ‘novo sangue’ em ação!
Costumeiramente checamos materiais de jovens cineastas se destacando mundo afora, como foi o caso do Festival de Sundance de 2020, que ocorreu pouco antes do planeta paralisar devido a pandemia de Covid-19, onde tivemos a primeira projeção do longa-metragem Nove Dias de Edson Oda, diretor brasileiro que mora há uma década em Los Angeles, Califórnia.
Desde então, vem angariando elogios e alguns prêmios bem relevantes dentro da indústria de cinema americana. Apesar de ter estreado quase dois anos atrás, só chegou aos cinemas brasileiros agora, trazendo uma proposta de análise sobre a vida humana e seus reais valores. Contudo, deve-se ressaltar que a abordagem de Oda enverga muito mais para o objetivo de levar a mensagem ao espectador do que transportá-lo em uma jornada inesperada onde vamos juntos desvendando os segredos desse lugar e as pessoas que habitam nele.
Em Nove Dias acompanhamos um homem (Winston Duke) que está entrevistando cinco almas para determinar qual delas poderá receber a chance de ter uma vida na Terra.
Narrativa engessada
Geralmente quando comentamos sobre obras que têm a intenção de levar uma mensagem final de vida do tipo transformadora, percebemos um certo ar disciplinador e dogmático, quando não bem apelativo à figura da divindade escolhida em questão.
Nove Dias escapa desta armadilha, entretanto, não consegue fugir de uma estrutura de roteiro que transforma toda uma etapa de provação, tanto para os entrevistados quanto para o entrevistador, em algo enfadonho e repetitivo como forma de entretenimento. Isso inclusive afasta possíveis ganchos emocionais que se encontram na parte central da trama escrita por Edson Oda.
Resumindo: realmente parece uma entrevista de emprego onde no final apenas um é escolhido, só que as etapas parecem provas de um “reality show” psicológico que vai eliminando os candidatos, um a um.
O problema de todo o segundo ato é a falta de conflito entre os habitantes da casa onde mora o encarregado Will, papel de Winston Duke, que claramente mostra-se inapto para definir um escolhido para nascer em nossa Terra.
Através do protagonista de Nove Dias encontramos uma transição um tanto fria, pela falta de nuances e desafios para que esta personagem consiga nos carregar por todas as passagens difíceis que fazem parte do processo de receber uma oportunidade de viver uma vida intensa entre seres humanos.
Depressão
Apesar da baixa intensidade psicológica envolvida no fio narrativo, devemos elogiar a parceria entre Edson Oda e os atores do elenco, que se mostraram imersos dentro da proposta etérea desenvolvida pelo debutante diretor brasileiro.
Entre os destaques, temos: Zazie Beetz, que traz uma calmaria confortadora em todos os momentos; Tony Hale, personagem mais interessante e desafiador da história; além de Benedict Wong, que entregou em Nove Dias seu trabalho mais surpreendente da carreira no papel de único amigo do protagonista.
Pelo começo já ficava muito claro que a narrativa elaborada por Oda abordava um dos males mais presentes em nossa sociedade, principalmente nesta era pandêmica: a depressão.
Basta observar a casa onde vive Will para compreender qual é o estado emocional da figura principal do enredo.
Lamentavelmente, por Winston Duke que reparamos o ponto baixo deste drama sobrenatural; longe de pontuar que os problemas sentidos ocorreram por uma falta de habilidades do ator nascido em Trinidade e Tobago, mas é que pelo texto de Edson Oda sabíamos que só existia uma única possibilidade para criar uma conexão emocional com o público presente, no caso, um momento de catarse.
Que veio e mostrou enorme potência imagética, sonora e emocional!
Mesmo assim, não foi suficiente para que investíssemos mais de nós nessa bela história sobre buscar ou encontrar os melhores momentos em cada uma das situações, incluindo as mais adversas.