O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio é um filme que já nasce sob comparação direta, seja pelo sucesso dos dois primeiros longas da franquia, que consolidaram James Cameron como um dos cineastas mais influentes de Hollywood, ou pelos resultados variáveis das demais sequências produzidas. Com isso, torna-se inevitável encarar Destino Sombrio de outra forma se não pela relação com suas obras irmãs.
Porém logo ao início do filme dirigido por Tim Miller e roteirizado por David S. Goyer e Billy Ray, entre outros nomes, há uma decisão arriscada que reordena o mundo da franquia e traz alterações significativas ao conflito principal da humanidade contra Skynet. Mesmo que as funções que as personagens ocupem na trama sejam praticamente as mesmas de sempre, apenas re-arranjadas, a escolha finca Destino Sombrio como seu próprio capítulo em meio ao cânone.
Enquanto não aborda outras novas ideias, a trama corre como um eficiente thriller de perseguição em sintonia com as características típicas de toda a franquia. A primeira grande cena de ação de Destino Sombrio surge sem muitas firulas, mas ainda consegue cozinhar a tensão na montagem paralela entre perseguidor e fugitivos até que tudo exploda com dois veículos em uma rodovia movimentada – o momento que mais favorece efeitos práticos.
As presenças de Linda Hamilton e Mackenzie Davis injetam, desde o início, boa dose de engajamento dramático com o que ocorre em tela. Hamilton, em especial, faz uma triunfante volta às telonas como uma Sarah Connor ainda mais endurecida e confrontada com uma nova posição neste complicado jogo de xadrez contra a rebelião da Skynet. Davis, por sua vez, encarna Grace, uma personagem que apresenta outros conceitos à franquia e o faz com espírito “badass” de sobra.
Quando Arnold Schwarzenegger dá as caras, então, Destino Sombrio diz ao que veio com sua introdução surpreendente e abre as portas para temas que, se não tão complexos ou inéditos assim no campo da ficção-científica, expandem a gama de possibilidades ao futuro do conflito com a Skynet e, ao mesmo tempo, fortalecem o coração desta história, completando um punhado de arcos dramáticos traçados de forma eficiente no roteiro.
A novata Dani (Natalia Reyes) também conta com desenvolvimento sólido e passa a ser mais do que um mero “mcguffin” da trama, por mais que passe grande parte da trama sendo protegida e alheia aos motivos do conflito. Com este elenco forte, inclusive para os padrões de blockbusters atuais, nota-se que desde T2 não se viam personagens tão acessíveis e ainda assim suficientemente articulados na franquia, cuja escassez talvez seja o grande motivo do fracasso das sequências.
De qualquer forma, o diretor Tim Miller (Deadpool) poderia se assentar sobre um estilo mecânico ao conduzir toda esta perseguição desenfreada, mas novamente mostra que, apesar de um interesse exacerbado em computação gráfica e pirotecnia, é capaz de sustentar e fermentar o drama rumo ao final, extraindo tensão do atrito entre os membros do elenco e ainda configurando as situações diversas pelas quais as personagens passam com atenção ao contexto geopolítico destas.
Apenas a batalha final recai totalmente sobre exageros, com um excesso maçante de CGI e imagens cartunescas que mais remetem à adaptação cinematográfica de Esquadrão Classe A. O embate dentro de um avião de carga em chamas abusa das leis da física e transforma as personagens todas, até mesmo as humanas, em super-heróis capazes de sobreviver a qualquer explosão ou queda. Não é uma má sequência de ação, mas uma que destoa do resto e cansa.
No geral, O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio sucede por deixar de afunilar seu escopo sobre a guerra contra as máquinas, não se arriscando a desvendar as lógicas furadas do cânone para atestar que a salvação deste universo independe de heróis e nomes específicos, fator que gerou comparações com a mais recente trilogia de Star Wars. É uma belíssima constatação do roteiro e uma forma de expandir o protagonismo da franquia.
Além disso, a ideia de uma história que se reescreve tanto para os vitoriosos quanto para os derrotados garante validade estendida à marca, que possui a seu dispor os artifícios de viagem no tempo e máquinas de matar que assimilam humanos. Assim como O Despertar da Força, o filme de Miller usa de velhas fórmulas para acrescentar a elas algumas novas rugas, e apesar de um final seguro, coloca em foco tudo que havia funcionado no passado.