Filmes

Crítica | O Tradutor

O Tradutor chega aos cinemas com um gostinho especial para os brasileiros. O longa é protagonizado pelo ator Rodrigo Santoro. O filme cubano se passa em Havana e segue a vida de um professor universitário, Malin, especializado em literatura russa. Após uma pausa forçada de seu trabalho habitual, ele é chamado por um hospital para ser tradutor de vítimas da tragédia de Chernobil. O governo cubano se prontificou a ajudar crianças afetados pelo desastre que gerou uma explosão na usina nuclear soviética.

A obra segue a vida de Malin em meio a toda carga emocional imposta pelo momento de sua vida. Acompanhamos o professor enquanto ele lida com o peso de seu trabalho e como isso afetua a sua vida e de seu núcleo familiar. Se o filme não te emocionar pelo enredo, com certeza a atuação de Santoro será o que faltava para lhe arrancar lágrimas dos olhos. O ator está em alta performance e entrega todo o necessário em suas cenas.

Contudo, o grande destaque de atuação não poderia ser outro que não Maricel Álvarez. A atriz interpreta uma enfermeira chamada Gladys. Seu tempo de tela é o maior dentre as personagens coadjuvantes do filme, e isso é totalmente justificado por seu trabalho. As melhores cenas do filme acontecem durante a troca dos atores e o espectador deve assistir ao longa aguardando o reencontro destas. Gladys serve não só como aquela que apresenta Malin ao seu novo universo, mas como uma personagem consciente, que auxilia o professor durante suas crises internas ao longo do filme.

A direção de Rodrigo Bariusso e Sebastián Bariusso se faz ser notada, porém não é nada realmente marcante. A iluminação do filme é belíssima e merece destaque, assim como a cenografia. O clima tenso e desesperançoso do longa se faz presente quase em todo momento, principalmente no hospital. O pouco que é quebrado funciona muito bem, com um sol tropical trazendo a vida de volta, mas sempre num tom de monotonia, ou quando a ressaca de Malin vai até a praia encontrar a ressaca do mar. O filme é de todo emotivo, e não só as atuações e iluminação contribuem para isso, mas a trilha sonora também. Bem pontuada durante o longa, ela ajuda a criar todo o clima melancólico imposto pela trama.

O roteiro ficou por conta de Lindsay Gossling, que fez um ótimo trabalho. Sua carreira tem mais créditos como produtora, e esse é o seu primeiro longa, no qual ela estreia com sucesso. Sua única outra aventura escrevendo foi no curta Hailstorm. Ao fazer comparações, o público poderá perceber a amplitude do alcance de Gossling como roteirista, já que as tramas são bem distintas. O enrendo de O Tradutor é bem equilibrado e pontua bem cada uma das questões vividas pela personagem de Santoro, mostrando como elas se misturam e como Malin fica que quase sem nenhum tipo de escapismo, pulando de um problema para outro.

O Tradutor é uma belíssima obra que merece destaque no cinema de hoje. Apesar do tema não ser de fato atual, suas alegorias são, e sua emocionante história é contada de forma eficaz e inspiradora.

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