Quanta nojeira é necessária para arrancar os risos do público? Essa deve ter sido a pergunta principal por trás da produção de Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro, filme de Fabrício Bittar que tenta realizar uma mistura ainda pouco vista no nosso cinema mainstream, conhecida como “terrir”: terror de comédia, ou comédia de terror. Protagonizado por Danilo Gentili, esse terrir chega aos cinemas cerca de 1 ano depois de seu longa anterior, Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, ser palco de diversas controvérsias.
Porém, enquanto o projeto de 2017 tentava extrair humor de temas delicados e próximos à realidade, Os Exterminadores do Além mergulha de cabeça no fantástico e nele encontra um leque de possibilidades para provocar seu público. Embora ainda hajam piadas com pedofilia, o que por si só deve amargar a experiência de parte do público, o filme geralmente se mantém focado em sua premissa básica: um time de caça-fantasmas que deve exterminar a lendária Loira do Banheiro, aka A Menina do Algodão.
Na verdade, não seriam caça-fantasmas, mas sim caça-assombrações. Qual a diferença? Nenhuma, a não ser pelo logotipo e a integridade discutível do grupo, composto por Jackson (Danilo Gentili), Carolina (Dani Calabresa), Fred (Léo Lins) e Túlio (Murilo Couto), que tiram proveito de clientes supersticiosos e forjam as tais assombrações para programas em seu canal de Youtube – pense numa versão ainda mais tosca de Ghost Hunters ou o que quer que Zach Baggins tenha produzido nos últimos anos. A audiência, no entanto, não é das melhores.
Quando são chamados à escola Isaac Newton para investigar misteriosos incidentes que tem deixado os alunos e seus pais desesperados, acham que estão diante de uma oportunidade de ouro para trazer popularidade ao canal e conseguir um piloto na TV. A assombração da vez, é claro, é a Loira do Banheiro, lenda que marcou a infância de muitos mas que, por senso comum, é justamente só uma lenda. Mas ao longo da noite, aquilo que acreditavam ser só mais uma diária de “trabalho” se prova mais real que o esperado.
Assim, abraçando sua alma de terrir, o longa traz uma sucessão de situações macabras, uma mais escatológica que a outra. Além da equipe de caça-assombrações, estão confinados no local alguns professores desavisados – entre eles, o hilário Antônio Carlos Tabet -, o diretor cínico (Sikêra Jr). e um segurança (Digão Ribeiro), formando uma lista de vítimas a ser atacada pela Loira. Todas as mortes são de fato grotescas, e não faltam momentos de nojeira que remetem a Sam Raimi e Peter Jackson em início de carreira.
Falando nisso, a condução de Bittar é eficiente em aliar o terror gore escatológico à comédia, sendo também capaz de trazer uma atmosfera macabra para o ambiente da escola quando necessário. Apoiado pela fotografia expressiva de Marcos Ribas, realiza um trabalho suficientemente inventivo em seus visuais, usando movimentos de câmera e jogos de luz para construir situações ora cômicas, ora assustadoras. Pena que a direção, infelizmente, pareça se perder assim que o longa entra em sua derrocada final, quando há mais lutas corpo a corpo, que são filmadas de forma caótica e bastante cansativa.
O roteiro assinado por Gentili, Bittar e André Catarinacho também começa melhor do que termina, partindo de uma boa e ágil “setup” de seus personagens e estabelecendo algumas regras para mistério que enfrentam, mas depois penando para sustentar longos períodos de pouca coisa acontecendo. Em seu terceiro ato, muitos dos diálogos parecem entregues no improviso, apoiando-se quase que inteiramente em xingamentos e comentários infantis dos personagens. Ao menos, a sequência de créditos finais repõe um pouco da energia criativa vista nos primeiros atos e avança a trama para um caminho inesperado e sombrio.
Em uma das cenas finais de Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro, numa alusão direta à recepção conturbada de Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, Jackson diz a Túlio que “não se pode agradar todo mundo”. O filme realmente não deve ser do agrado de todos, assim como não me agradou completamente, mas é uma tentativa admirável de realizar algo diferente do habitual às comédias nacionais e que não só homenageia uma vertente específica do cinema de gênero, como também deve abrir o apetite para mais produções regadas a sangue em nosso – ainda pouco arriscado – circuito mainstream.