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Crítica | Parque do Inferno

Assim como alguns de seus assassinos mais famosos, o subgênero do terror slasher parece nunca morrer, e quando de fato morre, sempre arranja alguma forma de retornar em uma forma ligeiramente diferente. A essa altura, já vimos slashers de todos os tipos, como a releitura recente de Halloween e até mesmo na forma de uma emocionante comédia dramática sci-fi – respiro -, Terror nos Bastidores. Portanto, é um território bastante explorado mas ainda fértil de novas ideias.

É deste pressuposto que surge Parque do Inferno, primeiro longa dirigido por Gregory Plotkin (montador de Corra!), calcado em uma ideia que, a princípio, é extremamente promissora: e se um serial-killer mascarado cometesse seus crimes dentro de uma atração de parque temático de horror, como se fizesse parte das atrações? Um conceito que, além de potencialmente divertido e metalinguístico, é capaz de alavancar a tensão a outros níveis, visto que as futuras vítimas são ludibriadas como o público e não sabem o que seria ou não uma ameaça às suas vidas.

Parece o terror perfeito para uma geração tão acostumada a sustos artificiais e óbvios – os infames jumpscares -, e o roteiro assinado por Seth M. Sherwood e Blair Butler inicialmente mostra consciência acerca desses cansados truques. Não só a boa sequência de créditos iniciais intercala os nomes da equipe com os sustos de uma atração do parque, como há uma divertida montagem posterior na qual a protagonista Natalie (Amy Forsyth) é a chata da vez e estraga a experiência de seus amigos ao antecipar cada um dos sustos dentro de uma escola mal-assombrada.

Algo que logo chama a atenção é o entusiasmo exagerado dos personagens, seres hiperativos que parecem mais ter saído de uma produção de Amy Heckerling, que comandou Picardias Estudantis e As Patricinhas de Beverly Hills. Nesses papéis, o elenco liderado por Forsyth faz seu trabalho com sinceridade e encarnam com leveza esses adolescentes loucos por festas e com os hormônios à flor da pele, denotando o quanto este filme se leva a sério: muito pouco. Isso também cria um contraste bem-vindo com o tom das sequências com o assassino, que dependem da construção da tensão.

São esses momentos de tensão, no entanto, que mais decepcionam. Há trechos que nesse quesito são realmente dignos de nota – a chegada do assassino ao parque, o embate na sala de máscaras ao final -, além de uma ordem um tanto imprevisível para as mortes, porém a novidade se perde conforme o longa se aproxima de sua conclusão. Muitos de seus truques foram vistos e melhor realizados anteriormente: uma cena-chave dentro de um banheiro remete a bons momentos de Halloween e ainda Personal Shopper – o melhor uso de um celular como objeto de cena -, só que longe de surtir o mesmo efeito.

Essa dissolução também vale para a violência: a primeira morte “principal”, por exemplo, é extremamente gráfica e sangrenta, mas todos os assassinatos seguintes são estranhamente higiênicos e apressados. Para um assassino que age dentro de um parque de diversões, com tantas ferramentas em mãos, mostra-se pouco criativo conforme a contagem de corpos aumenta, e suas ideias parecem esgotadas assim que se contenta com a boa e velha faca de cozinha, dando conta de duas vítimas ao mesmo tempo para encerrar o filme logo. Sua fantasia genérica também não ajuda, embora venha a ser bem justificada pelo roteiro.

Por mais que Plotkin tenha a pretensa de homenagear os slashers mais grotescos das décadas de 70 e 80, no geral a atmosfera se assemelha à de exemplares noventistas. Em alguns momentos, há um quê de Wes Craven em sua fase Pânico, com uma tentativa de humor auto-referente. Porém em outros, assemelha-se a produções bem mais estúpidas e aguadas, como Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado e Lenda Urbana, que mesmo assim ganharam seus seguidores e viraram referências do gênero. Por fim, vale dizer que a aparição de Tony Todd, de Candyman e Premonição, é tardia e não serve a muita coisa.

Isso pra dizer que, embora sua premissa chame atenção, Parque do Inferno falha em ser mais do que uma tentativa de homenagear seus precursores do gênero. Seu comentário sobre sustos fáceis instiga e leva a um curioso embate final, que subverte o papel da jumpscare para representar o triunfo da protagonista sobre o assassino, e a abertura ao final para uma sequência indicaria a possibilidade de que suas ideias sejam melhor aproveitadas no futuro – isto é, se o público ainda estiver disposto a pagar uma nova atração depois dessa estreia decepcionante.

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