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Crítica | Playmobil: O Filme

Um dos maiores desafios enfrentados na concepção e produção de branded content está na busca por um diferencial que torne este conteúdo específico ao produto que promove. Claro, filmes geralmente não são vistos primariamente como peças de publicidade, mas alguns ótimos projetos como Uma Aventura Lego cumprem de certa forma um papel na promoção dos brinquedos cujo nome carrega, tudo isso enquanto cria uma identidade própria. Playmobil: O Filme, por outro lado, não diz nada sobre a marca que promove.

Concebido e dirigido pelo experiente animador Lino DiSalvo, que participou de obras como Frozen e Bolt, o filme dos bonecos Playmobil parte de um apanhado de ideias comuns às animações ocidentais nesta última década, com protagonistas que viajam a uma outra realidade, meta-referências envolvendo outras franquias populares e o encaixe de canções em meio ao enredo, preferencialmente executadas por nomes famosos da música contemporânea – aqui, Adam Lambert e Meghan Trainor.

A trama segue seu molde básico de aventura infanto-juvenil, sem pôr nem tirar: dois irmãos órfãos, Marla (Anya Taylor-Joy) e Charlie (Gabriel Bateman), brigam entre si e momentos depois são transportados para um mundo de Playmobil, sendo lá separados e forçados a lutar para que se reencontrem. Nos caminhos paralelos, ela encontra personalidades como um food-trucker inseguro e um agente secreto sedutor, enquanto ele se vê cara a cara com guerreiros mal-encarados aprisionados pelo malvado Imperador Maximus (Lambert).

Não bastando as similaridades com os bonecos Lego, tanto na variedade de temáticas quando na expressividade dos brinquedos, o percurso pelo mundo de plástico soa extremamente familiar àqueles que já conferiram ambas as animações dos blocos coloridos nos cinemas, passando por cenários comuns como o Velho-Oeste, a metrópole futurista e os castelos medievais, como se estivéssemos assistindo a um catálogo disfarçado dos brinquedos e todas suas combinações possíveis, apenas sem se comprometer com referências a outras licenças – DC e Star Wars eram diretamente mencionados em Lego.

Tecnicamente falando, Playmobil: O Filme não comete graves erros e se encaminha de forma competente ao que procura ser, porém isso se deve mais ao medo palpável que tem de se arriscar, apostando na fórmula segura e testada por tantas outras propriedades. Seu núcleo emocional, apesar de relacionável, não deixa marcas e nem surte qualquer impacto de tão não-especificado – sabemos pouquíssimo dos irmãos além de suas brincadeiras com os Playmobil. Portanto, o longa sofre de uma carência letal de personalidade.

Este é um problema que se reflete ainda nas referências e gags visuais, como se concebidas para um público nunca antes familiarizado com os gêneros e conceitos referenciados aqui – o velho-oeste é o velho-oeste, o espião charmoso é… exatamente isso -, sem acrescentar suas próprias reviravoltas e comentários. Pense então em Uma Aventura Lego sem qualquer sinal de autoconsciência, algo que em excesso pode sabotar o efeito de um longa, mas que nesta tamanha escassez faz tremenda falta.

Não fosse pela completa falta de marcos visuais e um enredo diferenciado, que defenda os Playmobil como detalhe essencial à mensagem em seu centro, seria difícil condenar o filme de DiSalvo por sua competência nos aspectos plásticos. Sem recriar a estética de stop-motion de Lego mas preservando uma textura plastificada convincente nos bonecos, o filme se mostra visualmente agradável também por seu trabalho com cores e iluminação, não parecendo em nenhum momento um projeto menos afortunado.

Todas as canções, por sua vez, são quase que completamente esquecíveis – ok, talvez mais do que quase – ao trazer melodias secundárias ao que é dito e constituírem de situações em que as personagens explicam, de forma básica, suas tônicas e motivações dentro do enredo. Vale notar, entretanto, o esforço do time de dubladores nacionais em reproduzir tais canções na língua portuguesa, mantendo a naturalidade dentro da narrativa e respeitando as necessidades de seu público infantil.

Considerado desde a estreia no exterior como um dos grandes fracassos financeiros de 2019, Playmobil: O Filme pouco fez para merecer este infortúnio, mas também pouco fez para evitá-lo em caso de um sentimento de estagnação do público quanto à proposta de colocar brinquedos no centro de um enredo genérico, sem fazer pensar em momento algum: qual o diferencial de Playmobil? Por qual motivo a marca deve ainda ser considerada relevante? Como oferta de entretenimento passageiro, a animação não ofende, mas como conteúdo de marca, fica longe de cumprir seu objetivo.

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